Nunca fui de correr atrás de "platinar" um jogo. Fui finalmente entender o furor nos olhos de quem tem o hábito de "zerar" seus títulos com o jogo móvel Rayman Jungle Run (Android | iOS). É um título tão divertido que a melhor forma de esticar a jogatina é aceitar seu desafio de coletar todas as moedas. A partir deste momento, você passa a conhecer um segundo jogo, um balé de concentração, precisão e movimentos calculados.
Mas essa postagem não é sobre Rayman Jungle Run.
É sobre um filme. Edge of Tomorrow, batizado por aqui de "No Limite do Amanhã".
Embora seja baseado (vagamente) no livro All You Need Is Kill, a subestimada superprodução estrelada por Tom Cruise é uma ode fulminante à estética dos jogos eletrônicos e, principalmente, às mecânicas que todo jogador que já tentou uma "platina" conhece muito bem. O protagonista somos nós, de um impossível TPS que lentamente vai se convertendo em um RPG com escolhas pesadas.
Na trama, Cruise interpreta o soldado Cage, enviado para a linha de frente de uma colossal batalha contra uma invencível raça de alienígenas. Despreparado, ele morre em poucos minutos de combate. E aí a mágica se processa: Cage reseta e dá respawn de volta ao ponto inicial, um dia antes, e precisa descobrir o que deve ser feito para vencer. A cada morte, uma nova chance.
Antes um newbie perdido no meio do deathmatch, ele vai se aperfeiçoando a cada iteração. Dezenas, centenas de mortes depois, ele é uma máquina de destruição e vingança. Como todo caçador de platina, ele memoriza a sequência certa de movimentos. Agacha, corre, atira para esquerda, pula, atira para cima, corre, soco, pula, pula, aperta o analógico. Sua estratégia se desfoca do emocional e se torna aquele balé que você precisa executar para conseguir todos os troféus. Frio, preciso, brutal.
Em determinado ponto, se algo falha, ele reseta. Igual a mim, ao deixar passar uma moeda. Qual o sentido de continuar? Morre. Repete. Pega a moeda.
O que poderia ser uma intrigante filme de ação, com maestria vai se distanciando da mecanicidade e da desumanidade na medida em que o personagem percebe que talvez a vitória não possa ser obtida da forma que imagina. A guinada se dá quando Cage visualiza o impacto de suas decisões na vida de outras pessoas e como, para elas, ao contrário dele, tudo pode ser permanente.
A partir deste momento, o filme se aproxima mais de RPGs e Adventures na linha dos produzidos pela Bioware ou pela Telltale. Quem não gostaria de alterar o resultado da batalha de Virmire no primeiro Mass Effect e salvar seus dois NPCs? Quem não perdeu um aliado querido na invasão à base Collector em Mass Effect 2 e voltou atrás, alterando suas escolhas para conseguir mudar o destino? Quem não se arrependeu de uma decisão em The Walking Dead? Quem não voltou atrás em cada um destes jogos e apertou o reload? "No Limite do Amanhã" investe nesta face emocional e nas consequências das ações (e inações) de Cage e na inevitabilidade de determinados atos. Algumas sequências, infelizmente, são scripted pelos desenvolvedores e nos cabe apenas aguentar o tranco, parece nos dizer o roteiro. Ou será que não?
Com sequências de ação de tirar o fôlego, efeitos especiais caprichados, um elenco que se entrega de corpo e alma ao papel (excelentes atuações de Tom Cruise e Emily Blunt) e uma premissa ímpar (ainda que explorada de forma similar em outros filmes, como Feitiço do Tempo, por exemplo), "No Limite do Amanhã" é uma boa surpresa para quem curte jogos e para quem curte filmes de ficção-científica.
4 comentários:
Olha só, esse era um filme que eu tinha imediatamente deixado de lado por parecer muito bobo e agora fiquei interessado em dar uma chance.
Aquino, assistiu Interstellar? Filmaço excelente! Recomendo fortemente ;)
Sabe que eu não tinha visto sob essa perspectiva "gamer"? É um grande filme mas ainda considero ele abaixo de OBLIVION, ao contrário da crítica em geral.
Raphael, ainda não tive a oportunidade de ver Interstellar. Estou tão atrasado com os filmes quanto com os jogos, mas esse é um que verei com certeza.
Marcos, Oblivion também está na minha lista!
A premissa boba desse filme realmente conseguiu deixar uma péssima impressão. quem sabe em DVD...
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