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5 de abril de 2022

(não) Jogando: Company of Heroes

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"Nenhum plano sobrevive ao primeiro contato com o inimigo". Esse clássico da estratégia militar pode ser a definição perfeita da minha experiência com Company of Heroes, da Relic.

O jogo foi lançado dois anos após Warhammer 40,000: Dawn of War e reutiliza seus princípios básicos, baseado não no tradicional gerenciamento de recursos, mas na conquista de territórios para se obter pontos de criação de unidades. É um sistema que funciona muito bem tanto no futuro distópico do quadragésimo milênio quanto no moedor de carne que foi a Segunda Guerra Mundial. Não há tempo para minerar pedrinha, cortar árvore ou extrair petróleo no calor da batalha e a ordem do dia é avançar para cima do inimigo.

Essa semelhança mecânica me fez acreditar que poderia dominar Company of Heroes de forma praticamente instintiva. Afinal, não apenas completei a campanha de Dawn of War como também zerei todas as suas expansões: Winter Assault, Dark Crusade e Soulstorm. Tecnicamente, são títulos contemporâneos, desenvolvidos de forma concomitante, com as mesas regras. Porém, fui surpreendido com um nível de dificuldade inesperado e um ritmo que não condizia com minhas táticas e vícios.

O primeiro erro que cometi foi tentar tratar cada unidade como um filho querido, conduzindo-os em segurança pela linha de frente, tentando utilizar todas as técnicas aprendidas no tutorial. É uma prática que eu certamente herdei de Close Combat, um jogo muito mais complexo em que cada vida conta, cada posicionamento conta e suas tropas tem uma opção de ficarem na espreita, em posição defensiva. Essa abordagem me levou a encontros mortais e frustração, sob a constante pressão do exército nazista, que parecia brotar de todos os lados. Historicamente, faz sentido: eu era o "invasor", saltando de paraquedas ou desembarcando na praia de um território dominado por sua máquina de guerra. Sentir o sufoco dos valentes combatentes que libertaram a França não estava nos meus planos...

Agir de forma intelectual, avançando milimetricamente com cada unidade, utilizando diversas táticas não estava funcionando. Nas primeiras batalhas, foi possível vencer desta forma, ainda que com pesadas baixas. Então, fui confrontado com um cenário em que a única estratégia que resolveu foi algo que os Orks me ensinaram: despeje quantidades absurdas de buchas de canhão sobre o inimigo e deixe-o perecer sob as botas de suas hordas. Eu não estava mais numerando meus esquadrões, eu não estava mais me importando com eles, eu estava apenas fabricando e enviando para a morte.

Apesar de minha agência ter sido reduzida a mero fabricador, a técnica parecia ser o que Company of Heroes estava me pedindo. Era evidente que cada unidade minha não era um pelotão Space Marine resistente e avassalador, mas um pelotão de Imperial Soldiers, descartável e vulnerável. Realidades da guerra...

Então, essa abordagem foi colocada à prova na defesa de uma cidade com três pontes. O jogo lhe dá tempo para fortificar suas posições antes da investida nazista e foi o que eu fiz, com minas terrestres, ninhos de metralhadora, arames farpados, barreiras anti-tanque, o pacote completo. Em minutos, o caos se instalou com a avalanche inimiga. Foi a batalha mais intensa que desfrutei em muito tempo e senti minhas defesas cedendo. Aparentemente, o modo campanha está programado para você vencer, suas habilidades apenas definem quanto tempo irá levar para isso acontecer ou seu nível de sofrimento. É a única explicação para meu triunfo: a mão amiga da Relic segurando meu mouse. Duas pontes caíram sob o poder do inimigo, mas a terceira, contrariando todas as expectativas, permaneceu em meu poder com uma implacável unidade lutando com a força de vinte. Quando tudo parecia perdido mesmo assim, a chegada dos blindados salvou o dia.

Essa mistura de sorte, mão amiga e total desprezo por meus soldados não deveria me levar muito longe e não levou mesmo. No cenário seguinte, foi praticamente impossível manter o controle. O jogo me obrigava a lutar em três frentes diferentes: proteger minha base, tomar um ponto de produção de tropas do inimigo e avançar estrada acima. Tentei ser cauteloso, tentei ser focado, tentei ser um alucinado com legiões de soldados e a pressão não cedia.

Percebi então que não estava jogando Company of Heroes, mas sendo jogado por ele. Não era o Dawn of War de Segunda Guerra que eu estava esperando e eu não estava me divertindo.

É inegável que o RTS possui qualidades excepcionais. Suas cutscenes são melhores que as de Dawn of War, por exemplo. Além disso, o jogo traz gráficos muito satisfatórios para a época em que foi lançado e que permanecem atraentes até hoje. O trabalho de sonorização da Segunda Guerra Mundial é primoroso, te inserindo em um intenso conflito. Em outras palavras, ele é tecnicamente impecável. Company of Heroes é um jogo que eu recomendaria para qualquer outro jogador que não seja eu.

Ouvindo: MegaDriver - Mighty Hiryu

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