Em 1958, o trio Pelé, Garrincha e Vavá derrotaria a dona da casa na Copa do Mundo e levaria seu primeiro (de muitos) títulos mundiais. Para o brasileiro médio, é tudo que ele acha que precisa saber sobre a Suécia. Para o apreciador de jogos eletrônicos, seria muito injusto limitar seus conhecimentos de tal forma.
Para começar, um dos títulos mais aguardados do ano vem de lá. Talvez o nome Digital Illusions Creative Entertainment não faça nenhuma conexão em sua mente, mas a abreviatura DICE surte efeito. A subsidiária da EA e criadora da franquia Battlefield foi fundada na cidade de Växjö por quatro programadores de nomes igualmente complicados: Ulf Mandorff, Olof Gustafsson, Fredrik Liliegren, Andreas Axelsson. O quarteto fazia parte de um grupo dedicado à produção de demos, aquelas impressionantes exibições de programação que conseguem reunir música e fantásticas paisagens virtuais em arquivos de 4KB ou menos. Ainda que a DICE tenha iniciado suas atividades em 1991, foi apenas 11 anos e 19(!) jogos depois que eles começaram a conquistar a atenção do público com o lançamento de Battlefield 1942. Apesar de ter um amplo catálogo de títulos de pinball e corrida, a partir de 2002 a DICE passou a se dedicar quase exclusivamente à série Battlefield, com uma pausa para Mirror's Edge e outra para tentar ressuscitar Medal of Honor. Com o vindouro Battlefield 3 e seus gráficos de cair o queixo, está para recomeçar a guerra entre os amantes desta série e os defensores da franquia 100% americana Call of Duty.
Também oriundos da cena dos demos, vieram os fundadores da Starbreeze Studios. Com pouco mais de dez anos de existência e apenas seis jogos em seu currículo, a desenvolvedora já produziu pelo menos uma obra-prima: The Chronicles of Riddick - Escape from Butcher Bay, de 2004, um dos ilustres membros de minha lista de favoritos. Cinco anos depois, o jogo receberia melhorias gráficas e um novo capítulo, sendo rebatizado para Assault on Dark Athena. Outros títulos da Starbreeze incluem Enclave, The Darkness e Knights of the Temple.
Em cinco anos e com exatamente cinco funcionários, a pequena Frictional Games ensinou ao mundo como devolver o horror ao coração dos jogadores. Em 2006, a desenvolvedora lançou o demo gratuito de Penumbra, para demonstrar as capacidades técnicas de sua engine, a HPL (nomeada em homenagem ao escritor H.P. Lovecraft). Apesar da impressionante capacidade de gerar sombras e da física realista, Penumbra surpreendeu pela atmosfera de horror palpável e imersão profunda. O sucesso do demo motivou a equipe a criar um jogo completo com o mesmo nome. Mas as mentes doentias da Frictional Games se superariam em 2010, com o simulador de pesadelo Amnesia - The Dark Descent.
Já a também pequena FatShark optou por um caminho completamente oposto e desenvolveu o jogo cooperativo multiplayer de faroeste Lead and Gold. Se somarmos este caso ao faroeste polonês de Call of Juarez e à franquia alemã Desperados, veremos que o Velho Oeste exerce um misterioso fascínio nos europeus.
Lead and Gold foi distribuído pela igualmente sueca Paradox Interactive, que, além de atuar como a maior distribuidora do país, também desenvolve seus próprios títulos, principalmente na área de estratégia histórica. Pertencem à empresa de Estocolmo as séries Hearts of Iron, Crusader Kings, Europa Universalis e Victoria. E eles continuam procurando parcerias e novos títulos, sendo a única empresa que eu conheço que tem uma página em seu site onde é possível enviar uma proposta de um jogo.
A região da Escandinávia, da qual a Suécia faz parte, é conhecida por seu clima frio e inverno rigoroso com muita neve. Nada disso e nem mesmo seu próprio nome impediu a Avalanche Studios de produzir jogos ambientados em ilhas tropicais com Sol forte, clichês caribenhos, muitas praias e explosões. Principalmente, explosões. A franquia Just Cause é um exemplo de excelência em recriação de um ambiente aberto completamente avesso à realidade de seus desenvolvedores. Talvez insatisfeitos com esta contradição, a empresa está prestes a abrir um escritório em Nova York.
Nem todo mundo teve a mesma sorte em suas expansões. A GRIN nasceu em Estocolmo em 1997, teve escritórios em Barcelona (Espanha) e Jacarta (Indonésia) e 250 funcionários desenvolvendo jogos para as principais plataformas. A empresa desenvolveu oito títulos, incluindo os dois primeiros Ghost Recon Advanced Warfighter. Mas o lançamento simultâneo de três fracassos comerciais em 2009 selou o destino da GRIN, que fechou as portas: Wanted: Weapons of Fate foi baseado no filme Wanted (com Angelina Jolie), mas recebeu críticas medianas e vendeu apenas 109 mil cópias; Bionic Commando era uma grande aposta de ressurreição de uma franquia da Capcom, mas vendeu muito abaixo do esperado; e o grande desastre da adaptação de Terminator Salvation, que conquistou 48% no Metacritic e foi o último prego no caixão da GRIN.
Para Markus "Notch" Persson, por outro lado, 2009 foi o Grande Ano. Para o programador sueco, então com apenas 30 anos, foi o ano em que lançou sua maior criação: Minecraft. Com gráficos extremamente minimalistas, uma jogabilidade totalmente aberta e um mundo geograficamente ilimitado à disposição do jogador, o jogo de um homem só virou uma febre. Após arrebatar elogios maciços da crítica, o jogo foi ampliando suas vendas de forma exponencial. Em setembro de 2010, após um fim de semana liberado de graça para teste, o jogo vendeu 25 mil licenças em 24 horas. Para efeito de comparação, foi o mesmo que Bionic Commando vendeu nos Estados Unidos no mês inteiro do lançamento. Atualmente, Minecraft já vendeu 2 milhões e meio de licenças, sem jamais ter uma distribuidora ou investido um centavo em publicidade. Persson fundou sua própria empresa, a Mojang, onde continua trabalhando em novas funcionalidades para sua mina de ouro.
Oito estudantes de Tecnologia tiveram exatamente o mesmo sonho: lançar um jogo que cative por sua jogabilidade e produza rios de dinheiro. Em Janeiro de 2011, eles começaram a viver este sonho, conseguindo vender 200 mil cópias de seu jogo de estréia em apenas 17 dias. Seu nome? Magicka. Com o sucesso de um título ancorado no humor e na paródia, sobrou criatividade para lançar uma expansão bizarra, ambientada no Vietnã, que tira sarro com os veteranos compatriotas da DICE:
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