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24 de outubro de 2018

Jogando: Afterfall: InSanity

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Nos últimos dez anos, Afterfall InSanity percorreu um longo caminho, desde grande jogada de marketing de 2008 até seu estado atual de banido do Steam e de qualquer outra loja online. Lamentavelmente, o que aconteceu nos bastidores de seu desenvolvimento e sua pretensão de se tornar um universo coeso de ficção é um enredo muito mais interessante do que aquilo que efetivamente acontece nas telas.

Em Afterfall InSanity, assumimos o papel do doutor Tokaj, psicólogo residente do único abrigo nuclear da Polônia, lar para o que talvez sejam os últimos sobreviventes de uma guerra nuclear que varreu o mundo inteiro. Cabe a ele administrar os conflitos de uma população confinada e evitar as síndromes que costumam estar associadas a esse tipo de situação, como comportamento violento, alucinações e paranoia. Se você prestou atenção nesse parágrafo ou nos primeiros dez minutos de jogo, você sabe exatamente o que vai acontecer na vida de Tokaj e qual é a grande reviravolta que o título te apresenta em suas cenas finais.

A Nicolas Games conseguiu aqui um prodígio técnico que é um colírio para os olhos, com personagens e cenários muito bem detalhados, o que facilita muito na imersão desse estranho e singular mundo. Boa parte do mérito vai para a Unreal Engine 3, que também seria sua lápide, infelizmente. Mesmo porque a desenvolvedora não parece nem um pouco preocupada em ir além da superfície polida de seu cenário. O impacto inicial, que surpreende e sugere um título do escopo de um Mass Effect logo se transforma em uma série de corredores sujos, puzzles simplórios e violência, muita violência.

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Chamado para acompanhar um destacamento que irá investigar o suposto vazamento de uma substância nos níveis inferiores do complexo, Tokaj descobre que há mutantes à solta no seu paraíso, uma grande conspiração para encobrir tudo isso e um sabotador à solta, o provocando de tempos em tempos. Transformado em um alvo móvel, o psicólogo se converte em uma máquina de matar e irá utilizar qualquer pedaço de pau, cano enferrujado, machado, foice ou picareta em um instrumento de brutalidade.

Até existem armas de fogo no caminho da jogabilidade de Afterfall InSanity mas são as armas brancas a principal opção de nosso herói relutante. Com sangue jorrando aos borbotões, finalizações agressivas e até troféus para mortes selvagens, esse é um título que não tem vergonha do mundo-cão que tenta criar. A mecânica do jogo até desestimula o jogador a usar rifles, escopetas e pistolas, controlando a munição com mão de ferro e obrigando o jogador a largar no chão sua arma branca se quiser empunhar uma arma de fogo, impedindo uma transição suave. Em contrapartida, toda sorte de instrumento de dor e sofrimento está disponível em cada canto. Contrariando suas próprias regras internas, em outros momentos o jogo te empurra na direção de armas de fogo para solucionar determinadas batalhas, oferecendo, inclusive, munição abundante.

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Se o roteiro teve algum sentido em algum momento, ele escapa rapidamente enquanto seguimos por passagens escuras que provocam tontura no protagonista, fugimos por nossa vida e mutilamos de formas terríveis todos aqueles que cruzam nosso caminho. O datapad, que guarda registros e deveria servir como uma espécie de guia, raramente é necessário. O instinto guiou meu braço e eu enxergava para onde Afterfall InSanity estava querendo me levar com vários quilômetros de antecedência.

O que já era estranho e um pouco repetitivo, continua estranho da metade da jornada para frente, mas, pelo menos, recebe inimigos novos, incluindo algumas desnecessárias e, por que não dizer, ridículas batalhas contra bosses que desafiam a pouca coerência que o jogo pudesse estar tentando construir. Afterfall InSanity não abraça o grotesco de vez como You Are Empty, mas deveria. Ele tenta ser um título sério, complexo, mas de boas intenções o Inferno nuclear está cheio.

A sequência final, supostamente inteligente e bombástica, é apenas a concretização do que eu já esperava: uma narrativa mal-construída colada por cima de um eficiente jogo de suspense e gore. Menos pretensão lhe cairia bem.

Ouvindo: Kingdoms of Amalur Reckoning - Tirnoch

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