A segunda temporada da saga zumbi da Telltale Games tem sérios problemas de ritmo e peso diante da pancada contínua que foi o primeiro The Walking Dead. As referências ao DLC 400 Days são medíocres e, se você piscar o olho, perde.
Ainda assim, os minutos iniciais e os minutos finais do jogo justificam a longa calmaria dos capítulos intermediários.
Porque, pela primeira vez mais de quinze anos jogando no PC, eu fiz algo inédito e aterrador.
Mecânica dos Mortos
Em termos puramente mecânicos, a franquia desiste de vez de tentar ser um adventure, algo que já foi sinalizado antes em 400 Days, cria coragem para tentar segurar o interesse do público apenas na narrativa. Ocasionalmente, há um Quicktime Event, ainda mais raro e menos punitivo do que antes.
Mas o sistema de encontrar um item para usar depois foi simplificado próximo do zero. Com medo de frustrar jogadores que se perdem, há até mesmo um botão para destacar objetos interativos na tela. Desnecessário. E, pela segunda vez consecutiva, a Telltale promete entregar um jogo com elementos de stealth logo no primeiro capítulo, para abandonar completamente a ideia logo em seguida.
Os diálogos estão mais ligeiros, então, o maior desafio aqui é ler em inglês o mais rápido possível para que Clementine não fique muda ou tome a decisão errada só porque foi a única que deu tempo de entender.
Apesar de ter reclamado dos enigmas toscos do primeiro jogo, o que eu realmente tinha na cabeça era que a desenvolvedora melhorasse esse aspecto, não que o abandonasse por completo.
Mas a empresa acerta ao mirar no formato dos seriados de TV e encerrar cada capítulo com uma música acompanhada dos créditos. Eu quero a trilha sonora do jogo e quero agora.
Renascida do Inferno
Clementine tem a árdua missão de levar o jogo nas costas. De fofa coadjuvante do primeiro título, depois de tanto tempo ela está mudada para uma pequena guerreira e cabe a você decidir a quota de humanidade que ainda resta em seu coração traumatizado.
O que poderia parecer um risco para a narrativa, se revela o grande trunfo da continuação. Não sei quanto a vocês, mas joguei meu Lee como um bastião dos valores humanos no jogo anterior. Aqui, Clementine me soou mais ambígua, como alguém que amadureceu no apocalipse zumbi e está dividida entre a candura do passado e a praticidade ou frieza que a nova vida impõe.
O primeiro capítulo é emblemático nesse sentido ao nos exibir uma heroína que beira o mítico. "Still. Not. Bitten" é um grito de guerra, uma declaração de princípios e a tônica desta nova Clementine.
Diante de novos fatos e novos companheiros de jornada, Clementine pode ir se distanciando ainda mais da compaixão ou recuperar a solidariedade perdida. A decisão é sua e acredito que o trabalho da Telltale acomode os dois caminhos, sem empurrar goela abaixo uma linha limítrofe tão óbvia e mastigada como Paragon x Renegade ou algo assim.
Renascidos do Inferno
Se Clementine é o astro principal, a história resgata um personagem antigo de forma surpreendente. Esta figura rouba para si o foco das atenções e se torna, para mim, o verdadeiro fio condutor desta Season Two.
A barra da ambiguidade é elevada ao extremo, não apenas neste coadjuvante de luxo, mas em quase todos os personagens que completam o elenco. Cada um deles tem algo adorável e algo detestável. Se a nova trupe de Clementine não possui o mesmo carisma da "formação clássica" da Primeira Temporada, tampouco são peças descartáveis. Cada perda, e não é segredo algum dizer que haverá mortes, é gravemente sentida.
A honrosa exceção da ambiguidade é o vilão central do meio do jogo. Um dos mais repulsivos seres a rastejar em uma tela eletrônica e ainda assim tão plausível de existir, seja em um futuro dominado por zumbis, seja no mundo real. A Telltale manipula a trama e nos apresenta um antagonista que não apenas serve para ser odiado, mas que também serve de espelho para nossas ações e para as ações daqueles que nos cercam. Afinal, qual é exatamente a diferença entre ele e nós, quando se é preciso fazer o que tem que ser feito em prol do coletivo?
Frio
Infelizmente, superada a questão do "mega-vilão", fica-se a impressão de que a Telltale esgotou seus prazos, ou ficou sem recursos (atolada em tantos projetos simultâneos) ou simplesmente sofreu um surto de criatividade. Porque a narrativa esfria e esfria muito. O quarto episódio se arrasta sem ritmo ou propósito e culmina em um evento que parece ter saído da cartola de um mágico.
O quinto episódio parece seguir o mesmo caminho do anterior e nem de longe passa a sensação de horror e impotência do último episódio da temporada anterior. Tudo indica que o impacto final será suave para graciosamente aparecer um TO BE CONTINUED cheio de esperanças.
Mas enquanto a temperatura também cai ao redor dos personagens, percebo que os contadores de história estavam na verdade cozinhando lentamente uma cruel conclusão. Os minutos finais, como disse lá no começo, são horrendos. O sabor é amargo. A dor é real.
Clementine, com minhas escolhas, completa o círculo iniciado. E abraça sua sina.
2 comentários:
Puts, comecei a joga-lo nesse final de semana e estou no terceiro episódio agora.
Só leio quando acabar, haha
Esse final...cara, que final!
(Também escolhi o mesmo final que você, e não me arrependo kkk)
Que venha a terceira temporada.
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