Retina Desgastada
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21 de dezembro de 2021

Desabrochar da Lotus

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(essa análise foge de spoilers, na medida do possível. Uma galeria de fotos - com spoilers - está disponível na versão remix do blog)

A Nova Guerra enfim veio.

Pela primeira vez em muito tempo, joguei freneticamente um conteúdo de forma voraz por horas seguidas, ignorando trabalhos e compromissos. Eles que se acertassem depois, bastava organizar. Ainda assim, não foi o suficiente para terminar em uma única empreitada. Precisei esperar o silêncio do fim de noite para retornar ao campo de batalha e concluir as cerca de cinco horas de expansão que a Digital Extremes preparou. De certa forma, posso dizer que não joguei a Nova Guerra: eu estava lá, em diferentes formas, em diferentes linhas de frente, lutando, sofrendo, impactado pela montanha-russa emocional que um mero jogo de ninjas espaciais estava novamente me apresentando.

Em certos aspectos, a expansão (gratuita, como praticamente tudo em Warframe) ultrapassa as expectativas mais tímidas. Todo o marketing foi centrado na união entre as facções contra um inimigo em comum e isso não é nem de longe o foco da história, apenas a premissa de seu início. Então, tudo que podia dar errado dá errado e somos arremessados no que parece ser a mais definitiva das derrotas. Em uma cena de arrepiar os pelos da nuca de quem aprendeu o lore universo, a vitória escapa por nossos dedos de forma trágica.

É nesse momento que a Digital Extremes nos prova que Nova Guerra não é uma imitação de Call of Duty ou Battlefield, mas ainda é uma narrativa de ficção-científica de explodir cérebros. Somos apresentados simultaneamente a possibilidades incompreensíveis de futuro e mistérios do passado, visitando pela primeira vez acontecimentos que eram apenas conhecidos de se ouvir falar. Algo de extremamente perturbador rasteja nos bastidores de Warframe, algo que flerta com o horror cósmico e que deverá receber a luz dos holofotes um dia.

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Em uma jogabilidade que sempre foi marcada por fantasias de poder, em que nosso personagem extermina legiões de inimigos em questão de minutos, somos reapresentados à fragilidade. Nova Guerra tira o jogador de sua zona de conforto. Em contrapartida, quem esperava desafios intransponíveis para suas máquinas de guerra, será surpreendido com um nível de dificuldade bastante aceitável, para não dizer fácil. Como declara logo no início um de nossos inimigos, essa não é uma guerra que será decidida com conflito, com sangue, tiros ou bombas, mas uma batalha de verdades, sobre nós mesmos, mas principalmente sobre o inimigo final.

É nesse momento que a Digital Extremes nos prova que Nova Guerra não é uma imitação de Star Wars ou Star Trek, mas uma narrativa que transcende os limites da ficção-científica para nos mostrar uma realidade bastante pungente, bastante verídica e muito sintonizada com o momento atual da indústria dos jogos eletrônicos. No turbilhão dessa luta está uma relação de poder extremamente tóxica, uma relação abusiva que faz o sangue ferver. Esse pathos é o núcleo emocional, justificando o alerta de gatilhos exposto no começo da expansão. É um ciclo para ser quebrado em que o vilão não é uma força sobrenatural, um alienígena gosmento, um robô fora de controle, mas o tipo de monstro que podemos encontrar em qualquer lar, em qualquer ambiente, muitas vezes camuflado, mas não menos perigoso.

É corajoso demais que um jogo de ninjas espaciais, uma brincadeira de aniquilação do próximo e dominação, volte os olhos para si próprio, discuta seus erros, se coloque no banco dos réus e termine com um pedido de desculpas velado. É irônico demais que Warframe seja o título que sinalize esse tipo de tema em pleno 2021.

Chega a ser frustrante que, terminada a expansão, sejamos catapultados de volta para o dia a dia de Warframe. A exceção de algumas mudanças estéticas aqui e ali, é como se a Nova Guerra não tivesse acontecido. Quem esperava um ponto divisório no jogo, um antes e depois, terá que se satisfazer com as lembranças de uma História, com H maiúsculo, uma jornada de guerra e paz, enquanto aguarda o que virá.

E o que virá, aquilo que ri para nós na cena final, trará pesadelos.

Ouvindo: REM - Auctioneer (Another Engine)

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