Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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13 de fevereiro de 2021

Jogando: Outpost Zero

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Um par de robôs lançados para os confins de um planeta esquecido, com a missão de preparar o terreno para seus mestres humanos. Um par de jogadores explorando os limites de um jogo de sobrevivência em um servidor esquecido, com pouquíssimas informações disponíveis e muita tentativa e erro. Isso foi Outpost Zero.

Em nossas primeiras sessões, nós morremos e morremos e morremos. Nossos corpos robóticos são extremamente frágeis para dar combate às criaturas hostis que povoam essa terra inóspita e a energia de nossas baterias dura menos de 20 minutos. Esse é o tempo que tínhamos para decifrar as mecânicas do jogo antes do aparentemente inevitável desligamento e um novo robô descer dos céus em uma cápsula de colonização. Nosso primeiro contato com outro humanoide terminou com nossa morte: piratas infestam o lugar e nós somos o saque. Tudo indicava que Outpost Zero seria uma sequência de frustrações a ser abandonada tão rápida quanto Savage Lands (que sequer recebeu análise por aqui).

Porém, a persistência de meu filho resultou em uma base inicial e um sistema de recarregamento de energia. De forma assíncrona, erguemos um império. Ele, através de experimentação, construiu uma segunda base para extração de madeira e, religiosamente, todos os dias pela manhã reabastecia nossos geradores à vapor para manter nossos corpos funcionando. No servidor, nunca encontramos outros jogadores conectados, apenas seus rastros, mas isso não impedia o relógio de tentar descarregar nossas estruturas.

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Enquanto isso, em outros horários, eu ia ganhando gosto pelo jogo, pesquisando aqui e ali fragmentos de informação sobre Outpost Zero e pensando nas possibilidades de automação extrema que o jogo oferece. Ao contrário de diversos outros títulos de sobrevivência, a meta aqui não é utilizar a força hidráulica de nossos braços mecânicos, mas a massa positrônica de nossos cérebros para resolver os desafios, mecanizar processos, construir robôs auxiliares e apenas contemplar nossa obra.

Eu seria um transformador desse mundo.

O Ferroduto

Nesse quesito, Outpost Zero está mais próximo do trabalho automático de um The Survivalists do que os esforços musculares de Conan, o Minerador, em Conan Exiles ou de dinossauros, como em Ark - Survival Evolved. Como eu mesmo acabei descrevendo para o garoto, Outpost Zero é menos um jogo de sobrevivência e mais um jogo de estratégia em primeira pessoa, em que você constrói unidades de extração e combate e estruturas para sustentar suas operações.

De fato, o gerenciamento da rede elétrica remete a They Are Billions, no sentido que basta uma parte se deteriorar para um setor inteiro de sua base se desligar completamente. Estávamos sempre no limite do caos. Era necessário uma tropa de robôs dedicados a suas funções: alguns ficavam 24 horas procurando defeitos e consertando equipamento diante da inexorável ação do tempo, enquanto outros passavam seus dias coletando recursos ou fabricando outros recursos, enchendo caixas e caixas de materiais que provavelmente nunca iríamos utilizar.

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O ferroduto!

Quando descobrimos três veios de ferro extremamente próximos um do outro, mas distantes de nossa base, apareceu a possibilidade de visitarmos a região todo dia e extrair manualmente aquilo. Entretanto, o jogo oferece a possibilidade de construir mineradores automáticos e tubulações. Em uma hora, eu tinha um "ferroduto", um colosso de trezentos metros de comprimento atravessando as montanhas e transportando ferro de forma ininterrupta. Em dois dias, tínhamos mais ferro do que achávamos possível. Ainda assim, aperfeiçoei minha criação com uma torreta de proteção e um robô dedicado a manter tudo sempre impecável.

Eu visualizava então uma rede complexa de dutos interligando todos os recursos da região inteira. Podíamos explorar o planeta de uma forma tão impecável que seríamos imbatíveis. Exceto que já éramos e esse é o principal problema de Outpost Zero.

E Agora?

Desde que Minecraft surgiu em nossas vidas, a grande pergunta sempre surge diante de qualquer jogo de sobrevivência: qual é o sentido? Por mais que sejam infinitas as possibilidades de Minecraft, a criação da Mojang não se abstém de ter um norte (e sim, nós matamos o Dragão em nossa primeira temporada). Ainda assim, Minecraft nos fascinava pela geração randômica e por sua beleza inata que nos incentiva a simplesmente pegar a mochila e sair por aí em busca de aventuras e novas paisagens. Por outro lado, títulos como Conan Exiles ou Citadel: Forged With Fire tem uma estrutura muito clara, derivada dos RPGs: mate criaturas, extraía recursos, para construir o equipamento necessário para matar criaturas melhores e extrair recursos melhores até o final.

Não se pode dizer que haja qualquer um desses aspectos em Outpost Zero. Não há um objetivo final que possa ser alcançado, uma vez que seus desenvolvedores abandonaram suas metas. Há inclusive equipamentos que não podem ser fabricados porque dependem de recursos que não existem. A exploração no mapa é desinteressante por três motivos: o mapa é pequeno, sequer há biomas diferenciados; embora o jogo seja visualmente lindo durante o dia, ele é inversamente horroroso durante a noite; não há nada um quilômetro à frente que você já não tenha visto no primeiro quilômetro. Sem risco de se exagerar, meu filho e eu contamos seis espécies de criaturas diferentes no planeta, com algumas variações de cor e tamanho para disfarçar.

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O que resta, então? O desafio tático de superar seus inimigos? Nem isso Outpost Zero oferece. Inicialmente, é um grande incômodo os ataques constantes de piratas. Eles desembarcam em grupos que variam de 2 a 6 a cada vinte minutos que você está no servidor e partem em linha reta para sua(s) base(s). O combate contra eles é tosco, uma vez que a movimentação do seu robô é pavorosa, mas a inteligência artificial dos inimigos também é sofrível. Mesmo assim, é irritante você ter que parar o que está fazendo, muitas vezes longe da base, para voltar e passar pelo confronto.

A solução para o problema dos piratas, como tudo no jogo, é a automação. A partir do momento que você constrói torretas e as mantém abastecidas de munição, você nunca mais precisará se preocupar com ataques piratas. É até bacana de se ver a mortal eficiência.

Em, talvez, dez horas de jogo, tínhamos uma base inexpugnável, um chassi reforçado e armamento para temer quase nada no planeta. Puxamos briga com algumas criaturas gigantes do jogo para testar nossos limites. Uma espécie tombou relativamente fácil. A outra era surpreendentemente resistente e decidimos deixar quieto. Depois disso, não havia mais desafios e mal havíamos chegado no Tier II de nosso equipamento.

Meu filho desistiu antes de mim, principalmente quando ele resolveu o dilema da energia elétrica. Em teoria, os robôs poderiam alimentar os geradores com a madeira que outros robôs estavam extraindo. Na prática, isso não acontecia. A partir do momento em que evoluímos para geradores movidos a petróleo, ele construiu um anel de extração conectado a geradores, dispensando os robôs. Eu liguei nossas duas bases com uma rede elétrica unificada e pronto. Nosso pequeno império tinha geração de energia elétrica infinita.

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A impressionante fortaleza abandonada(?) de Rusty_Ratchett, seja ele quem for.

Seremos eternos no servidor #58 como as carcaças dormentes de outros dois jogadores que encontramos no planeta, alimentados por um sistema projetado para durar. Ironicamente, o servidor parou de responder nessa sexta-feira (12), talvez sepultando de vez nosso único objetivo em Outpost Zero: conquistar a imortalidade digital.

Ouvindo: The Clash - I'm Not Down

Um comentário:

Unknown disse...

Li a análise do jogo, mas mais pareceu uma triste história de como um jogo ironicamente construído para salvar a raça humana, falhou miseravalmente, acabando em um mundo inóspito e abandonado em algum lugar do universo, onde o próprio jogo, também acabou abandonado por seus desenvolvedores.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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