Retina Desgastada
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14 de abril de 2019

Jogando: Conan Exiles - O Final

Conan Exiles 125276 horas.

Sete meses.

Um autêntico exílio em terras selvagens, cercado por ruínas misteriosos, feras agressivas, a escória da humanidade, abominações da aurora dos tempos, feitiçaria. Onde a noite é densa e ameaçadora, onde a fome e a sede são uma constante, onde os próprios elementos em fúria parecem determinados a quebrar seu espírito e devorar sua carne. Uma era e um lugar onde apenas os mais fortes e determinados prevalecem. A Era Hiboriana, a era de Conan, o bárbaro.

Conan Exiles evoca de uma forma ímpar o fascinante universo concebido por Robert E. Howard há quase um século. Sua atmosfera de violência e seu desprezo pela civilidade clamavam por um jogo de sobrevivência e a Funcom atendeu. Meu erro foi tentar vivê-lo como um RPG tradicional, o que ele claramente não é. Ainda assim, não fui privado de momentos magníficos em uma jornada completa do pó ao ápice da cadeia alimentar.

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Desde meu primeiro contato com o jogo, a sensação de estar dentro de um universo que acompanhei com tanta paixão nos quadrinhos foi motivo suficiente para me manter voltando. À exemplo do que havia acontecido com DC Universe Online, eu era um fã solto em um vasto museu dedicado aos bons tempos. À exemplo do que havia acontecido com DC Universe Online, não percebia as arestas mal-aparadas, as garras fortes do grinding se fechando em meu pescoço e o final atrapalhado de um jogo projetado para não ter final.

Nesse meio tempo, tornei-me um Mestre de Feras, em uma das melhores atualizações de jogo que tive a oportunidade de desfrutar ao vivo em muito tempo. Se a Funcom havia lançado um título desastroso em Acesso Antecipado, lotado de bugs, incompleto e sem direção, ela se esforçava (e segue se esforçando com mais conteúdo prometido para o futuro imediato) para corrigir as falhas, adicionar elementos e atender às preces de seus jogadores.

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Há defeitos latentes em Conan Exiles, que atualização alguma poderá corrigir. É um mal que assola jogos de sobrevivência, propositalmente obtusos com suas intrincadas mecânicas de fabricação e sua constante insistência em transformar candidatos a aventureiros em mineradores, lenhadores, carpinteiros e pedreiros quando tudo que eu gostaria era pegar minha lâmina e explorar seu mundo. Aqui, a sombra de Minecraft pairou sobre minha experiência: um título que depende de acessos constantes a uma Wiki para ser desfrutado adequadamente, que despreza o conceito de acessibilidade, e que esconde seus objetivos atrás de várias pistas obtusas.

Além disso, Conan Exiles é um título forjado no fogo da fornalha para ser desfrutado em multiplayer, em Clãs selvagens que travam batalhas colossais com seus inimigos, envolvendo guerreiros furiosos, feras domadas e avatares de Deuses que alcançam o céu e dominam os horizontes. Estas aventuras desconheço. A jornada solitária é uma estrada dura e repleta de obstáculos, não necessariamente de recompensas, e aqueles que buscam um propósito, uma conclusão, uma saída desse exílio, são negligenciados pela Funcom, aberrações abandonadas que devem compor menos de 1% de sua base de jogadores e parecem não serem dignos nem mesmo de uma batalha final que consolide sua conquista.

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Saiba ó príncipe que existe um enredo oculto nessas terras, uma história de maldições, de reis caídos, de raças inumanas esquecidas, de traições, de artefatos de poderes inimagináveis, de dimensões proibidas. Pouquíssimo desse aparentemente rico contexto transparece para o jogador. Cada fragmento de história precisa ser extraído com quase tanta violência quanto as lutas sangrentas do jogo, retalhos soprados ao vento, sussurros de fantasmas. A Funcom não se importa, mal cogita que alguém ousaria seguir essa trilha de migalhas e buscar a libertação.

Ainda assim, eu fui. Derrotei monstros em rincões distantes, submetendo-me aos rigores de matar infinitas vezes os mesmos inimigos para farmar recursos ou obter o nível necessário para desbloquear essa ou aquela habilidade que abriria caminho para meu objetivo derradeiro. Reuni os artefatos necessários para destruir o bracelete que me torna um prisioneiro nas Terras do Exílio.

Mas a Funcom não quer que eu vá. Ao destruir o bracelete, seria contemplado com uma cena final mal filmada e curta que mostraria meu personagem partindo, para ser sumariamente apagado do meu computador como se nunca tivesse existido, e eu seria levado de volta para a tela de novo jogo. Esse é o prêmio para os vitoriosos.

Meu filho espera um dia se juntar a mim nessas terras inóspitas, o louco. Com promessa de novos conteúdos vindo por aí e a possibilidade de um dia explorar esse universo acompanhado, mantenho o bracelete no lugar, mantenho-me preso em minha base, com minhas feras, meus servos leais e minha espada selvagem.

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Ouvindo: Iggy and the Stooges - Open Up and Bleed

Um comentário:

douglas disse...

Parabéns por terminar o jogo. Já comprei na steam mas ainda não comecei a jogar porque sei que ele é extenso. Mas um dia chego lá e suas experiencias serão uteis em minha jornada.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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