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11 de janeiro de 2016

Jogando: Rig N' Roll (Conclusão)

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Se eu tivesse terminado Rig N' Roll em 2015, o jogo teria levado fácil o prêmio de Surpresa do Ano. É quase certo que vai levar o prêmio aqui em 2016, porque nada vai me surpreender da mesma forma nos próximos doze meses.

Nunca na minha vida imaginei que um jogo tosco de caminhoneiro iria me consumir 35 horas no Steam.

Comecei de forma tímida, sem saber muito bem o que fazer. Não é um título que te pega pela mão e apresenta seu mundo. Ele apenas abre a porta e te chuta pra fora: "vai ganhar a vida, vai fazer uns fretes".

Com o tempo, fui me surpreendendo com a ambição do negócio: um Estado inteiro ou quase inteiro mapeado, gerenciamento de empresa, enredo para seguir, customização. Rig N' Roll são vários jogos em um e ia me conquistando.

Foi um jogo que me rendeu momentos ímpares, de pegar um frete em uma ponta do mapa e ir fazer a entrega a uma hora de distância em outra ponta. Você tem uma hora para atravessar as rodovias e leva exatamente isso, talvez um pouco menos se acelerar bem, talvez um pouco mais se errar as placas. É uma hora de asfalto, sem uma tela de carregamento, com uma direção tranquila, onde dá para deixar o pensamento fluir e ouvir um Chitãozinho e Xororó para entrar no clima, tomando cuidado com os congestionamentos, a implacável polícia que não perdoa nenhuma infração e as curvas traiçoeiras.

Rig N' Roll é jogo para relaxar no fim do dia e fingir que tem uma vida regada a gasolina, oficinas mecânicas e jaquetão de couro.

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A princípio, pode parecer que o título é uma cópia descarada de EuroTruck Simulator, mas o jogo da SoftLab-NSK foi lançado quase ao mesmo tempo, em uma leva de simuladores de caminhão que varreu o cenário lá pelo fim dos anos 00.

A principal diferença de Rig N' Roll é que ele não se leva a sério. Não que seja um jogo de galhofa, com piadas absurdas ou humor negro. No sentido apenas que a simulação é mínima, os comandos são tão simples que um garoto de 8 anos pode literalmente completar um frete com danos mínimos ao veículo (eu vi acontecer). Existem vários comandos, mas você só precisa se concentrar mesmo no volante, aceleração e freio. O resto é cosmético. O resto está ali só para compor a fantasia de Carga Pesada, daquela vida suada mas livre dos lobos da estrada.

Rig N' Roll tenta colocar um modo história dentro da mecânica do jogo, mas o resultado é tão precário que dá a volta completa e fica bom. Você é o novo dono de uma empresa de transporte de cargas, seu amigo e um de seus funcionários desaparece, você investiga e esbarra em uma louca conspiração envolvendo o FBI, drogas futuristas, lendas urbanas e um míssil terra-terra disparado contra você. Tudo isso contado com animações que já deviam ser datadas na época do lançamento e uma dublagem meio forçada. Em alguns momentos, o enredo parece que vai engrenar, mas depois seus roteiristas perdem o fio da meada, introduzem personagens de supetão e entregam o final mais corrido e sem sentido possível. Dificlmente algum de vocês irá jogar isso até o final ou pela história, então eu posso dizer: na conclusão, você ultrapassa o chefe final em menos de 30 segundos de perseguição, o caminhão dele explode sem qualquer motivo aparente, você ganha o trofeu de Caminhoneiro do Ano e fim. Felizmente, o jogo permite que você continue jogando depois disso tudo, com meio milhão no cofre e essa infinita highway.

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Contando assim parece que Rig N' Roll é um jogo ruim. E é mesmo. Seu maior inimigo é a péssima sinalização das estradas ou dos lugares onde você precisa fazer uma entrega. Você sentirá raiva de perder uma entrega porque entrou na agulha errada ou porque destruiu a frente do caminhão ao bater em um arbusto. Mas também é um título com um charme de cão vadio, que me levou a escrever um guia rodoviário, que me fez decorar algumas músicas sertanejas, que me fez ver que meu filho está pronto para jogos de corrida e que me apontou que, às vezes, sair da sua zona de conforto e deixar a sorte de apresentar um gênero novo pode ser uma viagem inesperada e inesquecível.

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Ouvindo: The Damned - Street of Dreams

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