Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
Comunidade do SteamMastodonCanal no YouTubeInstagram

3 de julho de 2022

(não) Jogando: Black Desert Online

Black Desert 06

O fenômeno oriental Black Desert Online é famoso por trazer um dos mais exuberantes sistemas de criação de personagens, levando à geração de beldades capazes de satisfazer as fantasias mais delirantes dos jogadores. Não nego: o processo é detalhista ao extremo, chegando ao ponto de permitir a alteração de meshes na face e no corpo, como se você tivesse pleno controle de sua musculatura. Infelizmente, uma parcela significativa dos jogadores se dedica única e exclusivamente a fabricar devaneios sexistas, como a lista de visuais mais populares da comunidade demonstra. A própria desenvolvedora não esconde seu viés ao nos apresentar vestimentas que mais revelam do que escondem, beirando tranquilamente o NSFW, mas sem nunca se entregar completamente. Sem falso moralismo, realizei um considerável esforço para criar uma personagem feminina que não me causasse problemas domésticos se minha esposa visualizasse casualmente minha tela...

O primeiro defeito de Black Desert Online aparece justamente aí: o título oferece uma ampla variedade de classes e estilos de combate (e sou obrigado a admitir que nunca vi tanta diversidade disponível assim gratuitamente), entretanto todas as classes estão bloqueadas por gênero. Para ser a classe que chamou minha atenção, eu precisava ser uma mulher.

Essa é uma falha que pode ser irrelevante no grande esquema das coisas, então, permita-me pular imediatamente para o maior problema do MMORPG: ele apresenta um dos melhores e mais fluidos sistemas de combate que já experimentei, compatível com o viciante Warframe, ainda assim insiste desesperadamente em não utilizá-lo para praticamente nada.

Cinquenta Minutos

Na sessão em que resolvi jogar tudo para o alto, fui apresentando à primeira cidade do jogo. É uma pequena vila portuária majestosa e pulsante de vida. Eu tinha duas horas disponíveis para me entregar a Black Desert Online e, eventualmente, alcançar o nível em que meu filho já se encontrava. A proposta inicial era jogarmos juntos, mas quem poderia imaginar os percalços que atravessaríamos?

Black Desert 04

Sim, somos nós! O personagem do meu filho está ao fundo (o do colar, não o gigantão)

Como é de praxe em muitos MMORPGs sedutores, esse oferece constantemente para os novatos uma série de itens que amplificam o ganho de experiência. Em nossa última sessão juntos, eu utilizei um desses itens e subi do nível 10 para o 15 em uma hora. É uma tática eficiente: acelerar o percurso de quem está começando, engajá-los no conteúdo, ampliar a sensação de poder de vencer inimigos fortes e, só então, dar início ao tortuoso processo de grinding, que pode levar a um gasto dentro do jogo.

Portanto, na minha última sessão solo, novamente consumi outro boost de experiência, desta vez um que me prometia 200% de ganhos.

Eu já havia visitado aquela cidade ao lado do meu filho, mas estávamos seguindo as missões dele. Desta vez, eu era o protagonista, então todas as cutscenes foram apresentadas para mim. A impressão que a cidade me causou era que a desenvolvedora estava tentando criar uma atmosfera de imersão. Nesse sentido, o resultado foi mais do que satisfatório: eu me senti atravessando um lugar real, eu queria me envolver com seus habitantes, passar um tempo ali, conhecer cada um deles.

Black Desert 05

O que me impedia? O sistema de missões. Black Desert Online apresenta, de longe, uma das piores narrativas de todos os MMORPGs que já joguei. O mesmo título que tem um sistema de combate magnífico, gráficos exuberantes e um universo que parece instigante, insiste em subutilizar todos esses elementos com missões que consistem em dialogar com esse personagem para ser encaminhado para dialogar com o próximo. Talvez o enfado fosse menor se os diálogos não fossem sofríveis (característica acentuada pela péssima tradução para Português), se as situações não beirassem o ridículo e se as animações dos NPCs não fossem grotescas.

Pela primeira vez, eu, defensor da narrativa em todos os gêneros, me vi torcendo para aquele sofrimento terminar e eu poder enfrentar alguma coisa. Em determinado ponto, uma alquimista avisa que necessita de componentes para uma poção e me manda matar literalmente dois bichos. É o clichê do "mate X criaturas e volte aqui", mas era uma oportunidade de ação. Eu dei cinco passos, encontrei os monstros (dois insetos do tamanho de gatos) e matei cada um com um único golpe. Voltei ainda mais frustrado do que havia ido.

Algumas "missões" ainda apresentaram problemas para serem ativadas, me levando a perder ainda mais tempo.

Eu consigo compreender que houve um esforço da desenvolvedora em tentar apresentar um mundo vibrante com múltiplos NPCs, cada um com sua vida, mas a execução é pífia. A Pearl Abyss deveria ter focado em seus pontos fortes e não tentar abraçar o mundo. Ao final de cinquenta minutos, eu não aguentava mais prosseguir e não havia evoluído um único nível.

Black Desert Não é Seu Amigo

Eu deveria ter suspeitado desses problemas logo no início. O jogo também tem um dos piores tutoriais da indústria. De imediato, ele buga: você é orientado para seguir uma determinada personagem, mas, não importa se você está próximo, muito próximo ou ligeiramente afastado, o tutorial vai te informar que ela se distanciou de você. Foram muitas tentativas por aqui até o sistema aceitar que eu estava cumprindo o que foi pedido e o mesmo aconteceu com meu filho. Não ajuda em nada o fato desse começo apresentar graves problemas de carregamento e a pessoa que você está seguindo sequer ter uma animação, sendo uma estátua dura deslizando pelas areias do deserto.

Superado o minuto inicial, o resto do tutorial é meia dúzia de diálogos, texturas carregando, texturas horrorosas e um único combate em que você mata todos os oponentes com um único golpe. Ao mesmo tempo, o jogo não está te ensinando nada. Nem mesmo o sistema de combos, que a jogabilidade te mostra depois, é exibido nesse suposto momento de aprendizado.

Black Desert 01

Quando eu digo "texturas horrorosas", não estou exagerando!

Então, a tortura acaba e somos jogados na instância em que estão todos os jogadores. Para minha surpresa, o jogo melhora visualmente, mas continua feio. Foram necessários vários minutos em sua complexa estrutura de configurações para finalmente extrair todo o potencial gráfico de Black Desert.

Ao mesmo tempo em que começa a narrativa de "vá ali e converse com alguém para depois ir em outro lugar conversar com outra pessoa", somos arremessados de encontro a uma interface extremamente poluída com dezenas e dezenas de opções que não são explicadas em lugar algum. Precisei de um tutorial no YouTube para entender como, pelo menos, reduzir o excesso de ícones e elementos na minha frente.

Black Desert, como todo MMORPG, apresenta um sistema complexo de mecânicas. Como poucos MMORPG, Black Desert dedica muito pouco tempo para explicá-los. Saudades eternas do quase didático Lost Ark. O que eu vi nessas cinco horas de jogabilidade não foi uma curva de aprendizado, mas uma parede. Se serve de algum consolo, 90% das mecânicas não são utilizadas quando tudo que você faz é saltar de um encontro com um NPC para outro. Porém, sofri até mesmo para resgatar minha montaria, um cavalo branco que ganhei como recompensa de login.

Nos últimos dezoito meses, experimentei quatro MMORPGs com propostas e atmosferas diferentes entre si: além do já citado Lost Ark, também passei pelo beta de Bless Unleashed, New World e agora Black Desert. Nenhum deles foi tão decepcionante quanto esse. Acredito que, eventualmente, o jogo possa se tornar interessante mais pra frente. Talvez, eu tenha desistido a alguns centímetros de encontrar diamantes (meu filho se comprometeu a continuar, mas não o vi jogando mais). Talvez essa análise me renda comentários rancorosos. Mesmo assim, não posso ignorar que essa abertura, essa longa e enfadonha abertura de cinco horas, é um desperdício injustificável para um título com um potencial tão claro.

Black Desert 02

Ouvindo: Theatre Of Tragedy - Cassandra (Cheap wine edit)

Um comentário:

Michel Oliveira disse...

Já que está experimentando MMOs, podia aproveitar o embalo e pegar o Final Fantasy XIV. Só não garanto que não vá viciar. O jogo é cocaína pesada pra quem gosta de história...

Enfim, dá pra jogar de graça o jogo base e a primeira expansão inteiros até o level 60. Só isso já é mais de 400 horas de jogo tranquilo.

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

Wall of Insanity