Retina Desgastada
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6 de junho de 2022

Eu Vi: Sonic 2

Sibéria

Adaptar um jogo eletrônico para as telas de cinema não precisa ser um bicho de sete cabeças, como o desastre do filme do Mario deu a entender. Não é necessário reinventar a roda: basta pegar um roteiro genérico de Sessão da Tarde, pincelar muitos elementos da fonte de inspiração e correr pro abraço. Essa foi a abordagem do primeiro filme do Sonic, que nem era tão fiel assim aos jogos, focando na diversão e não adicionando bizarrices como dinossauros falantes ou atmosfera cyberpunk. Na continuação, a Sega acerta em cheio no coração dos jogadores, misturando outro roteiro genérico em que os heróis partem atrás de um McGuffin mas com muito mais elementos referenciais, ampliando o universo do ouriço azul nos cinemas com mais personagens, mais gadgets e uma cena pós-crédito que não chega a ser surpresa, mas agrada assim mesmo.

Sonic-2-PosterEscondido nas sombras, mas fundamental para o funcionamento do filme, está Idris Elba, a aparentemente inacreditável escolha de dublagem para Knuckles. Seu vozeirão inconfundível de quem irá cancelar o apocalipse a qualquer momento empresta uma grandiosidade merecida ao equidna alienígena (o dublador brasileiro também executou um trabalho impecável nesse sentido). A decisão foi sábia: Knuckles ganha uma profundidade que ele pouco exerce nos jogos, em que é, na maioria das vezes, motivo de piada. Seu dilema interno se torna plausível a partir dessa interpretação e plausibilidade é uma moeda importante em um filme que fala de ouriços azuis hipersônicos, raposas voadoras de duas caudas e um marsupial guerreiro.

Apesar disso, o filme nunca deixa a busca por verossimilhança atrapalhar a diversão. Existem duas tentações nesse tipo de filme: impor um realismo impossível que flerta com o cinismo ou escrachar de vez e infantilizar tudo ao nível do insuportável. Toda a franquia Sonic consegue se equilibrar no fio dessa navalha, para fazer obras descompromissadas, mas carismáticas, mantendo a suspensão da descrença sempre a um passo de quebrar, mas nunca quebrando. Nem mesmo seu lore confuso e frágil abala a experiência.

Com um elenco computadorizado maior, os atores humanos são diligentemente lançados para escanteio. James Marsden não precisa mais servir de apoio dramático para Sonic, que encontra seu "esquadrão".

Em contrapartida, ao contrário de outras produções em que o protagonista é digital (toda a franquia Godzilla, por exemplo), aqui os humanos não são inúteis. Aparecem pouco, mas em cenas relevantes que acrescentam ao impacto cômico ou emocional da trama. Nunca imaginei que veria uma evolução de personagem a partir do relacionamento de Sonic e seu "pai" humano, mas ali está, bem entregue, sem pieguismo barato, emprestando um calorzinho para o peito.

Robotnik

Quem nunca fica em segundo plano é Jim Carrey novamente. Seu Robotnik é talvez um de seus melhores trabalhos, o casamento perfeito entre seu histrionismo incontrolável e um vilão que nunca foi para ser levado a sério mesmo. Sua aposentadoria precoce será sentida, se realmente acontecer, mas ele irá se despedir de nós deixando um sorriso no rosto.

A Sega tem agora o desafio de fazer esse raio azul cair no mesmo lugar uma terceira vez. Tradicionalmente, trilogias perdem o fôlego em seu capítulo final, mas estamos falando aqui de um personagem que vive para correr e corre para viver.

Ouvindo: Pixies - Velouria (live)

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