Retina Desgastada
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21 de maio de 2022

Jogando: The Stanley Parable: Ultra Deluxe

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(Já estivemos aqui antes? É um loop publicado originalmente no Gamerview?)

É impossível resistir à tentação de utilizar metalinguagem na própria análise de The Stanley Parable: Ultra Deluxe. Ou começar esse texto escrevendo "Stanley era...". Ou talvez eu devesse ser mais pessoal e começar com "Aquino era um jornalista que...", emulando o narrador do jogo e usando sua voz interior para me inserir de uma forma genial em meu próprio texto. Entretanto, talvez seja melhor não. Ou talvez eu já tenha começado desse jeito e agora vou ter que fazer tudo de novo.

Então... ok... respira. O fim não é o fim não é o fim não é o fim. Tela preta. Outra vez.

A continuação criada pela desenvolvedora Crows Crows Crows quase dez anos depois do lançamento original é a prova viva de que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar, ainda que não seja o mesmo raio, não seja exatamente o mesmo lugar e o observador também tenha mudado. A sequência (ou remake) adiciona conteúdo inédito, refoga o material clássico, confunde e conduz o jogador por trilhas já mapeadas mas também por caminhos nunca vistos.

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Meu momento favorito? Meu momento favorito.

Não foi difícil, certo, Aquino? Agora, um subtítulo

Se você nunca jogou The Stanley Parable, esse texto certamente será confuso. Não no sentido de você largar no meio do caminho e procurar outra análise para ler. Tenho várias. São mais de treze anos escrevendo sem nenhum motivo aparente a não ser colocar minhas ideias em algum lugar. Loucura, não? Por que alguém escreveria tantas análises diferentes sem ganhar um centavo com isso? A qualidade é boa? Sou suspeito para dizer, mas confie em mim: se você não quiser ler essa até o fim, tenho a absoluta certeza de que você encontrará alguma do seu agrado no link anterior. Você tem o poder da escolha!

Entretanto, eu espero que esse texto seja confuso no sentido de instigá-lo a conhecer a criação da Crows Crows Crows. Isso, é claro, supondo que você não tenha jogado antes. Na verdade, essa nova versão do jogo está no mercado desde o final de abril, estamos agora no meio de maio, aconteceram atrasos na análise, então também é bem possível que você já tenha comprado e esteja agora rindo de meus balbucios incoerentes. Desculpe. Vamos tentar de novo.

O fim não é o fim não é o fim não é o fim. Tela preta. Outra vez.

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A tela inevitável quando se fala de The Stanley Parable

The Stanley Parable: Ultra Deluxe pode ser considerada a terceira iteração de um jogo sobre iterações. Inicialmente, o projeto era um mod para Half-Life 2 lançado em 2012. Eu estava lá. O resultado foi transformado em um título comercial mais completo e refinado no ano seguinte. Eu não estava lá, por algum motivo, não retornei ao universo de Stanley. O jogo foi aclamado pela crítica pelo uso poderoso de metalinguagem e por questionar a própria forma como os jogos são construídos e oferecem escolhas para os jogadores, mas também mergulhando em questões metafísicas.

E então repete. Pense em um roguelike. Cada tentativa de se chegar ao fim irá terminar em sua morte, porém tudo será diferente. E, quando eu digo tudo, eu quero dizer "tudo". Ou quase nada. Isso vai depender de suas escolhas, porque suas escolhas tem valor e afetam o resultado da aventura, ainda que as repetições pareçam, às vezes, um gigantesco jogo de sete erros em 3D.

O que The Stanley Parable: Ultra Deluxe faz é pegar o jogo anterior e acrescentar ainda mais camadas. E um balde. Um balde que muda tudo outra vez. No final de seis horas, eu estava mentalmente exaurido, saciado, perplexo, de bom humor e ligeiramente frustrado por motivos de: a) eu certamente encontrei todas as variações existentes; b) ou será que não?

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Uma análise melhor que a minha. Sim, essa é uma análise dentro de uma análise! Chupa, metalinguagem!

The Stanley Parable: Ultra Deluxe não é um jogo

Esse é o ponto em toda análise em que eu sou contratualmente obrigado a ser chato. Não no sentido literal de contrato. Eu não assinei nada. Quero dizer, eu assino essa análise, mas não tem um valor jurídico. Porém, como crítico, faz parte da profissão apontar defeitos ainda que isso possa gerar olhares atravessados aqui e ali e um ou outro comentário rancoroso.

A questão é que The Stanley Parable: Ultra Deluxe poderá frustrar jogadores mais cartesianos, aqueles que buscam respostas ou vitórias. Para esses, existe um final, até dois, se procurar direito, que dão aquela sensação de completude, de finalidade. Parabéns, você salvou o dia! Sobem os créditos. Não, os créditos sobem em outro final. Porém, o final com créditos também é satisfatório. OK, estou escrevendo de forma espontânea outra vez, perdi o fio dos pensamentos...

O fim não é o fim não é o fim não é o fim. Tela preta. Outra vez.

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Não tem legenda. Crie sua legenda.

A continuação de The Stanley Parable não veio para explicar, mas confundir ainda mais, jogando conceitos e elementos ao vento que só atiçam ainda mais a incompreensão. Em muitos sentidos, é um jogo perturbador, uma aventura incômoda por espaços liminares que flerta com seu próprio universo conspiratório e brinca com nossa necessidade inata de resolver enigmas. Não há soluções aqui. Apenas a permanente sensação de falta de controle sobre tudo, principalmente nosso destino.

Pronto, acabaram os pontos negativos. Se você não curte jogos que podem ser terminados em algumas horas ou se você acredita que apenas um fim concreto pode oferecer satisfação, esse título não é para você. Nem mesmo é um jogo.

Onde já se viu um FPS sem armas ou pulo? Ou inimigos? Ou objetivos? Se você leva a indústria de jogos a sério quase como uma religião, se briga por seu console favorito ou não gosta de ser questionado sobre suas opiniões, The Stanley Parable: Ultra Deluxe pode acabar sendo chato ou tocando em algumas feridas. Pode abrir sua mente também, eu não sei, não conheço você a fundo. Qual é o seu nome? Seu nome é Jim? Você curte pássaros? Talvez esse jogo tenha algumas surpresas pra você, afinal.

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Ah, você achou! 1/6

O fim não é o fim não é o fim não é o fim

Tela preta.

Outra vez.

The Stanley Parable: Ultra Deluxe é uma experiência única que já aconteceu pelo menos duas vezes antes. Se você já curtiu anteriormente, não vai se arrepender de comprar de novo. Se você nunca jogou antes, eu diria que esse é um daqueles títulos indispensáveis se você deseja algo além do arroz com feijão despejado pela indústria dos jogos toda semana.

Se você pulou para o final do texto, porque era longo demais e você queria logo a conclusão, talvez esse jogo não seja para você. A jornada é mais importante que qualquer chegada, principalmente em um título que desafia nossa capacidade de síntese, um título que é repleto de momentos sublimes, hilários, ridículos, provocadores ou frustrantes a cada corredor dobrado.

É impossível resistir à tentação de utilizar metalinguagem na própria análise de The Stanley Parable: Ultra Deluxe. Ou terminar esse texto escrevendo "Stanley era...". Ou talvez eu devesse ser mais pessoal e terminar com "Aquino era um jornalista que...", emulando o narrador do jogo e usando sua voz interior para me inserir de uma forma genial em meu próprio texto, nem que fosse no último parágrafo. Entretanto, talvez seja melhor não. Ou talvez eu já tenha terminado desse jeito e agora vou ter que

Ouvindo... espera... como assim "ouvindo"? De onde vem essa música? Megadeth? Foreclosure of a Dream? O que isso significa? Por que trocou a fonte?

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