Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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11 de fevereiro de 2021

Seis Dias, Doze Anos

sérias implicações sobre o desenvolvimento desse jogo...

O tempo cura todas as feridas? Doze anos depois de ser anunciado, dezessete anos depois do conflito real que lhe deu origem, o jogo Six Days in Fallujah está prestes a ver a luz do dia. Os horrores que foram perpetrados naquela batalha, os traumas e rancores que brotaram do conflito agora jazem esquecidos e a indústria dos jogos está livre para trazer essa história para os jogadores sem o risco de ferir sensibilidades. A polêmica de ontem é o lançamento de amanhã.

É de se admirar a determinação de seus criadores de não se esquecer de seu trabalho. O ex-fuzileiro naval Sargento Eddie Garcia esteve naquele inferno durante a Segunda Guerra do Iraque e foi ferido em combate justamente na infame Batalha de Fallujah. Ele é o responsável pela proposta original do jogo e aquele que não deixou a chama se apagar por quase duas décadas. "Às vezes, a única maneira de entender o que é verdade é experimentar a realidade por si mesmo. A guerra está cheia de incertezas e as escolhas difíceis que não podem ser compreendidas ao assistir alguém na TV ou no cinema fazem essas escolhas por você. Os videogames podem ajudar a todos nós a entender os eventos do mundo real de uma forma que outras mídias não podem”.

Apesar de sua visão, Six Days in Fallujah foi recebido com perplexidade. Mesmo com o jogo concluído pela Atomic Games, a produtora Konami desistiu do lançamento diante da pressão da opinião pública que não desejava ver aquela ferida reaberta ou não via como um jogo poderia ser mais do que uma diversão escapista para jovens em suas salas. O cancelamento obrigou a desenvolvedora a demitir dois terços de sua força de trabalho e se concentrar em outros projetos para não fechar as portas.

Mas Eddie Garcia não desistiu de acreditar. O conflito mais sangrento em que tropas americanas se envolveram desde a Guerra do Vietnã não poderia ser apenas uma nota de rodapé em livros de História que seus compatriotas não leem. A ele se juntou Peter Tamte, ex-CEO da Atomic Games. Tamte criou um novo estúdio em 2016 para tentar levar o jogo para o mercado.

Nesse meio tempo, nenhum deles ficou parado. Outros veteranos foram consultados para melhorar ainda mais a trama de Six Days in Fallujah e fincar seus dois pés no chão do realismo. Novas mecânicas foram adicionadas para reproduzir táticas militares da linha de frente. Um novo motor gráfico foi implementado e você pode conferir a diferença visual nas telas abaixo, mostrando o título de 2009 e o título agora:

Ao todo, mais de 100 pessoas envolvidas com a batalha do mundo real foram contatadas para dar seu depoimento sobre aqueles dias. Six Days in Fallujah é mais do que um simples jogo, um "caloveduti" catártico onde os mocinhos vencem em sequências cinemáticas. Não é um tributo ao triunfo americano ou um acumulador de conquistas com conteúdo para ser desbloqueado. É uma tentativa, usando a mídia dos jogos eletrônicos, de dar voz aqueles que participaram, de colocar o jogador empaticamente no centro do que significa fazer parte de uma guerra.

"É difícil entender como é realmente o combate através de pessoas falsas fazendo coisas falsas em lugares falsos”, disse Peter Tamte. E completa: "é hora de desafiar estereótipos desatualizados sobre o que os videogames podem ser".

Six Days in Fallujah deve ser lançado ainda esse ano, para PC e consoles, sem uma data determinada.

Ouvindo: STG - Legacy of Hate

Um comentário:

Michel Oliveira disse...

Pra mim continua sendo um jogo onde o exército dos EUA é glorificado enquanto os inimigos praticamente animalizados. E foi bem isso que mostraram no trailer.

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