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11 de novembro de 2020

Jogando: Lethal: RPG War

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Saiba ò príncipe que houve uma época mágica, antes de Unity ou RPG Maker, em que o submundo dos jogos estava nas mãos daqueles que dominavam o poder do Flash. Reinos foram erguidos na internet graças aos encantos de uma ferramenta fácil de aprender, que combinava desenhos vetoriais com programação simples. Foi uma era em que nomes como AdventureQuest prometiam riquezas incontáveis ao alcance de todos.

Agora, no ocaso do Flash como tecnologia e com seus dias contados, chega a ser um exercício arqueológico jogar e completar Lethal: RPG War, um refugo desse passado nem tão distante. Ainda que grandes desenvolvedores  tenham produzido sucessos inimagináveis como Angry Birds ou sedutoras paisagens criativas como Machinarium, a vasta maioria dos jogos criados em Flash nos bons e velhos tempos eram produções amadoras sem muitas pretensões.

Lethal: RPG War é o canto do cisne da EyeSpyda Games, seu último título e o único a ganhar uma versão para o Steam que dispensa Flash e navegador. O título não atinge o padrão de excelência de grandes produções realizadas com a tecnologia, mas tampouco merece ser ignorado. A desenvolvedora consegue uma façanha ímpar, provavelmente motivada pela obstinação: entregar um RPG de proporções épicas, com quase 20 horas de duração e um vasto mapa, entretanto não se destaca em absolutamente nenhum aspecto audiovisual. Trata-se de um RPG por turnos ingênuo, para não dizer tosco, no qual seus criadores não desistiram no meio de suas ambições.

A arte poderia ter saído de um caderno juvenil, sem um estilo que possa ser considerado próprio e também sem muitos detalhes. Na verdade, a simplicidade é uma das principais barreiras para se apreciar um jogo que poderia sumir fácil entre dezenas de outros parecidos no Newgrounds, quinze anos atrás.

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A história é uma sucessão de clichês já testados e requentados milhares de vezes antes. Lethal é um valente guerreiro a quem o rei confia uma missão vital: deter o crescente exército dos mortos-vivos que ameaça mergulhar todo o continente em trevas. No caminho, se juntarão a Lethal personagens rasos que representam classes que você já está cansado de ver: uma arqueira, um paladino, um brutamontes Orc, um assassino, um mago, uma invocadora etc. No caminho de Lethal também estão oponentes que tampouco inovam e reviravoltas na trama que pouco acrescentam. Ao final de tudo, o jogo termina com um cliffhanger: um novo e gratuito evento muda nossa percepção da aventura no epílogo. Entretanto, a promessa de uma continuação jamais foi concretizada.

Dito tudo isso, porque insisti e cheguei a produzir uma série no YouTube sobre Lethal RPG War? Por que motivo esse jogo se tornou meu refúgio nas noites de sexta-feira desde abril, ao longo de quase sete meses? A aventura em Flash de outrora conquistou meu interesse por dois motivos: mecânicas e casualidade.

Chinelo Velho

É interessante observar que a EyeSpyda Games conseguiu capturar muito bem a integração entre as partes de um RPG por turnos. Cada batalha realmente é um desafio tático sobre que opções colocar na mesa e em qual sequência. Com ampla variedade de ataques, aliados e inimigos que reagem de formas diferentes, com resistências e vulnerabilidades, o título oferece diversão para o cérebro. Como eu já atestei em minha análise do brasileiro Rogue Summoner, jogo feio não é sinônimo de jogo ruim, principalmente se ele funciona bem em sua proposta.

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É possível que a casualidade também tenha tido um peso significativo na permanência de Lethal: RPG War. O ano de 2020 tem cobrado um preço alto do emocional de muitos e percebo, ainda que tardiamente, que tenho investido um pouco menos em títulos que pedem uma grande imersão por parte do jogador, logo perdendo o interesse. Pode ser uma sucessão de escolhas equivocadas ou a necessidade de jogos mais "aconchegantes" em uma realidade complexa. Isso explicaria minhas centenas de horas em Warframe, meu retorno a Conan Exiles e a tranquilidade das noites de sexta ao lado das aventuras de Lethal.

Por mais anacrônico que seja, Lethal: RPG War foi uma bem-vinda jornada, uma duradoura lembrança de uma era mais inocente dos jogos e, por que não dizer, de todos nós.

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