Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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15 de novembro de 2012

Jogando: Machinarium

Machinarium 02

Depois de passarmos por Botanicula, decidi explorar Machinarium com meu filho. O trabalho anterior da Amanita Design conquistou o mundo e os catapultou para um relativo sucesso no cenário indie. Machinarium compartilha da mesma simpatia de seu sucessor: onde as plantinhas estranhas transpiravam simpatia, aqui são robozinhos esquisitos que conquistam nosso coração. O mesmo cuidado com os cenários cuidadosamente desenhados e o exotismo da trilha sonora são mesmo uma marca registrada da desenvolvedora. Nestes quesitos, não há nenhuma surpresa no trabalho da Amanita: quem conhece um jogo, sabe o que esperar do próximo.

O que eu não esperava era que Machinarium fosse infernalmente difícil.

Peço desculpas antecipadas aos fãs veteranos de adventures, que atravessaram Myst sem olhar nenhuma dica ou que venceram todos os clássicos da Lucas Arts assoviando uma canção. Para estes, Machinarium talvez seja um perfeito exemplo de adventure segundo o manual, com puzzles insanos que exigem lógica abstrata e olhos de águia para enxergar aquele pixel decisivo. Para estes, Botanicula deve soar como uma brincadeira de criança (e, de fato, para meu filho foi, literalmente).

Mas adventures não são o meu café com pão e geralmente os resolvo com um passo a passo sempre à mão para os momentos difíceis. É uma heresia, mas também um velho hábito. Que Botanicula não tenha exigido esta manobra me deu a ilusão de que a Amanita Design estivesse mais interessada em contar uma fábula interativa do que testar os neurônios e a paciência de seus participantes. Títulos como Indigo Prophecy ou mesmo o relativamente complexo Beneath a Steel Sky me passaram a impressão de que é possível construir um adventure mais... natural.

Machinarium 01

E Machinarium tenta ser amigável. Em cada cenário, é possível acessar o que meu filho chamou de "o plano", um balão de pensamento do protagonista que mostra o que precisa ser feito. Nem sempre ajuda, por que, na maioria dos casos, o problema está no "como" e não no "o quê". Como último dos recursos, Machinarium exibe a solução completa, mas para ativar este "prêmio" é preciso vencer um mini-jogo que exige destreza de ninja e/ou a sorte de um leprechaun. Em nenhuma situação, consegui ativar a solução completa e a internet foi minha solução. Para piorar, existem testes de raciocínio distribuídos pelo jogo que são exasperantes e, para estes, não há guia que dê conta. Felizmente, um destes mini-jogos era uma réplica minimalista de Space Invaders, um clássico da minha infância e isto gerou uma situação única: jogar um título da minha infância, com meu filho, de dentro de um jogo da infância dele.

Machinarium 04

Assim como Botanicula, a história em Machinarium é contada sem palavras e é poética. Ousaria dizer que é inferior em poesia à do jogo seguinte, que os vilões são totalmente caricatos e suas motivações não são muito claras. Por mais instigante que seja a fábula de Machinarium, ela sofre com impasses a cada cinco minutos, tempo gasto para resolver um enigma, contemplar o ambiente em busca de um caminho ou desistir e procurar uma resposta no Google. E, depois que termina, fica a clara sensação de que, sem os obstáculos, sua história seria bastante curta e simples. Enquanto Botanicula foca na exploração e no deslumbre (até mais importantes que o enredo), Machinarium se fixa em suas engrenagens, produzindo um típico desafio de adventure, temperado com algumas doses de mundo mágico.

Machinarium 03

Se Botanicula representa uma ruptura com as mecânicas tradicionais e sinaliza um novo caminho para a Amanita ou é apenas um intervalo em uma fábrica de derreter cérebros, somente o próximo título nos trará uma resposta. Por enquanto, fico na torcida por ser a primeira alternativa.

Pontos Positivos de Machinarium: arte primorosa, personagens simpáticos, trilha sonora magnífica e exótica. Pontos Negativos de Machinarium: dificuldade absurda, curta duração, baixa resolução.

Ouvindo: Killing Joke - Exile

6 comentários:

Thiago Ferezim disse...

Comprei o jogo no lançamento do último Humble Bundle pra jogar no PC. Eu já tinha experimentado o demo no Steam e ficado curioso, mas não tinha comprado exatamente pq esperava alguma promoção até o fim do ano. Também estava procurando algum jogo que pudesse apresentar pra namorada, que há dias vem pedindo pra mim indicar alguma coisa.

Alguns quebra-cabeça realmente são bem difíceis, algumas ações no jogo são inconsistentes (nas primeiras partes, você não consegue fazer algumas ações se o robô estiver na altura normal, precisando estica-lo ou encolher para conseguir executar algumas delas. Do meio do jogo em diante já não é mais preciso: ao clicar em algum objeto alto o robô se estica sozinho, p.ex.

Quanto aos quebra-cabeças, não precisei recorrer ao Google nenhuma vez, mas joguei várias vezes o livro que tinha o mini-game na capa: depois de abrir o livro aparece a resolução dos QCs.

Por fim, gostei do jogo, da história, mas não o recomendo para quem não tem paciência de resolver quebra-cabeças. O jogo que é relativamente curto acaba ficando chato quando a frustração fala mais alto.

PS: o melhor do jogo mesmo é a trilha sonora!

estacado disse...

Fui daqueles de zerar Myst em um dia e logo depois jogar Loom pra dar uma "relaxada". Mas isso foi a uns bons anos, e hoje em dia não tenho paciência mais pra isso (o mundo me mudou, uma pena).

Joguei Machinarium ano passado, me cativou os gráficos, a temática, a forma simples, a simpatia do personagem; e os puzzles me entortaram a cabeça, mesmo sendo bem criativos em certos aspectos... Não cheguei ao final mas vi um jogo interessante, que o único problema era eu mesmo; que perdi a veia investigativa e joguei minha paciência do 7º andar.

Boa sorte na empreitada Aquino e Padawan.

Breno disse...

Aquino acha que Indigo "quick time event" prophecy é um jogo de adventure natural lol...

Jimmy Fischer disse...

Joguei esse jogo faz tempão.Produção excelente mas achei muito difícil também.

Eder R. M. disse...

Hmn, não tenho mais a paciência de outrora para adventures, mas achei esse jogo tão cativante que, mesmo qudo empaquei um pouco, não desisti (não diria que foi exatamente "difícil").

Mto bom jogo, por sinal. Botanicula está na minha lista :)

Shadow Geisel disse...

uma coisa que me incomoda muito nesse tipo de jogo é que eles geralmente exigem resoluções que não condizem com a física ou com a "lógica" do próprio universo criado para o jogo. não sei exemplificar agora, mas acho que todo mundo já passou por isso, do jogo exigir uma coisa que não faz parte do fluxo natural da dificuldade ou que não faz sentido dentro das mecânicas. quanto à dificuldade, vai de cada um mesmo. se tiver muito difícil eu paro. não vejo nada no youtube pois tira a graça. o fato de eu saber que avancei sem ser por meu mérito tira a minha vontade de jogar. cada louco com a sua mania...

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