Retina Desgastada
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7 de julho de 2020

(não) Jogando: Legendary

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Desta vez foi quase. Eu juro que tentei. O mesmo espaço na minha Área de Trabalho em que naufragaram Magrunner: Dark Pulse, Watch Dogs (nem ganhou análise), Saints Row 2 (idem), se tornou o lar por tempo demais de Legendary. Foram quatro ou mais semanas com o jogo instalado, mas somente seis horas contadas de jogatina. Mau sinal.

O FPS tinha vários elementos para me cativar: armas reais ou próximas do mundo real, monstros bizarros para combater, puzzles suaves que não atrapalham e até uma mecânica adicional que acrescenta à atmosfera. Faltava, entretanto, carisma.

Em Legendary, assumimos o papel de um protagonista mudo como uma porta que supostamente é um dos maiores ladrões do mundo. Contrato por uma organização com propósitos escusos, para furtar a famosa Caixa de Pandora, ele falha miseravelmente na tarefa. O artefato se abre, seus horrores escapam para o mundo real em uma sequência de tirar o fôlego e nosso mestre dos assaltos se torna o detentor de um poder mágico que o permite consumir energia espiritual e interagir com aquilo que anima as criaturas.

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Há premissas piores em jogos melhores. Ao seu favor, Legendary não se envergonha da trama e consolida o enredo com informações "científicas" sobre os monstros, o armamento disponível e o universo que nos cerca, incluindo notas pessoais dos pobres infelizes colhidos nesse turbilhão infernal. O título realmente se esforça em trazer uma imersão, com a adição de NPCs estrategicamente posicionados, como outros sobreviventes do cataclismo. O elenco principal não convence muito, mas aqueles figurantes chorando nas ruas ou o guardinha de armazém que conta com você para poder fugir contribuem muito para que você se sinta no centro de um evento que destruiu a vida cotidiana. O choque entre seres mitológicos e o mundo real é um contraste sufocante.

Os monstros, apesar de não serem muitos, são bem interessantes também, cada um com sua história de origem que foge das lendas convencionais e com um método de combate diferente. É melhor encarar as criaturas da Caixa de Pandora do que os ridículos oponentes humanos, que mostram a pior IA que eu já vi nesse século. Se o paradigma das forças de elite de Half-Life ainda vale, Legendary perde feio.

Infelizmente, o jogo peca pelo vício de spawn infinito de inimigos em algumas áreas, enquanto você não resolve a forma de sair ou encontra o item que está procurando. É algo tão irritante quanto artificial. Em determinado armazém, sem identificar minha rota, matei mais lobisomens do que em metade do jogo. Considerando que não há spawn infinito de munição, o jogador pode se ver apelando para o machado. A sorte é que o machado é uma arma bastante competente.

Legendary só permite que você carregue três armas: o inseparável e insubstituível machado e duas armas de fogo, o que leva a escolhas difíceis: mantenho a sniper? Jogo fora a escopeta? Metralhadora pesada ou submetralhadora? Da minha parte, não tenho do que reclamar daqueles FPS antigos em que você transportava dez armas diferentes e elas ainda ofereciam tiro alternativo.

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O que temos aqui é um FPS de transição, entre a velha guarda de matar tudo que aparece na sua frente, sem piscar, para os jogos de tiro com muitas partes pré-programadas. É quase um Call of Duty em alguns momentos, ao lhe furtar a liberdade de ação, mas ainda é bem dosado. A narrativa interfere em alguns momentos, mas me senti no comando na maioria das vezes e não apenas um soldado cumprindo ordens específicas.

Dito tudo isso, qual é o problema de Legendary? Eu poderia dizer que uma das batalhas de chefe, contra o colossal Kraken, foi o fator que me fez largar o jogo. Minha própria incompetência em seguir as orientações teria me provocado desprazer. Entretanto, não vou dividir essa culpa sozinho.

O fato é que a luta do Kraken me fez ver o que eu não queria ver, justamente por já ter largado tantos jogos antes: Legendary não vale o esforço. É um título com gráficos medianos, tiroteio mediano, layout de criaturas mediano, história abaixo da média e que se destaca apenas pela atmosfera de caos fantástico. Até mesmo Vivisector, com toda sua pobreza técnica e esquisitice, exalava mais personalidade. Ou You Are Empty.

Meu interesse em salvar o planeta ou conduzir meu protagonista em segurança eram próximos de zero. Após ter chegado a um ponto da aventura em que já tinha visto todas as criaturas, usado todas as armas, por que eu deveria me obrigar a passar pelo Kraken para ver qualquer conclusão que pudesse ser colocada em minha frente?

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Legendary foi divertido por seis horas, até mesmo com momentos de cair o queixo, como sua frenética abertura. Mas perdeu o gás. Fecho essa caixa para novas aventuras.

Ouvindo: Stiff Little Fingers - Barbed Wire Love

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