Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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3 de fevereiro de 2019

Jogo Zero

No exato momento em que escrevo essa postagem, estou realizando mudanças em dos meus sites de papéis de parede. Isso implica em transferir dezenas de milhares de imagens de uma pasta para outra e atualizar automaticamente quase 20 mil arquivos HTML. É tão tedioso quanto parece. Apesar da necessidade de atenção no processo, uma vez iniciado, é uma série de tarefas que não dependem de mim, apenas da velocidade de transferência e processamento no servidor. O que eu faço agora é observar barras de progresso avançando lentamente...

Eu gostaria de dizer que esse tipo de experiência foi o que motivou Eric Fredricksen a criar Progress Quest, mas a versão oficial é que o "jogo" é uma paródia de MMOs, como Everquest. Lançado em 2002, esse é um título em que você não faz nada depois de criar seu personagem, apenas observa o jogo sendo jogado sozinho em uma interface que é praticamente um punhado de formulários e barras de progresso, um fetiche para amantes do Windows 95.

Para ser absolutamente honesto com Progress Quest, nem mesmo o processo de criação de personagem tem qualquer impacto na "jogabilidade" que virá. Você pode escolher a raça que quiser, a classe que quiser, rolar os atributos que quiser e tudo isso será solenemente ignorado quando a "aventura" começa. Ao longo de sua, digamos, jornada, você irá dizimar milhares de criaturas geradas randomicamente enquanto acumula itens saqueados para usar e vender e experiência para subir de nível, em uma evolução de personagem lenta, mas incansável. Qualquer semelhança com o processo de grinding não é mera coincidência: temos aqui as entranhas expostas de muitos jogos e suas missões repetitivas, é a verdade despida de qualquer possibilidade de diversão.

Progress Quest

Não há botões para apertar, decisões para tomar, combos para executar. Não há outros jogadores, não há chance de morte e tenho certeza de que tampouco exista um final, com seus algoritmos gerando novos "desafios" até o Sol esfriar e a entropia absoluta tomar conta do Universo.

Em outras palavras, em Progress Quest, você não faz nada. Absolutamente nada. O jogo se joga.

Apesar dessas limitações ou por conta dessas limitações, Progress Quest ganhou status de cult com o passar do tempo, angariando uma legião de fãs que inventam lendas (como uma suposta versão 3D), escrevem análises positivas do jogo em sites especializados e até participam de uma versão "online" que nada mais faz do que manter um ranking de seus jogadores, ou seja, aqueles que mantiveram a aplicação aberta por mais tempo.

Muitos consideram Progress Quest o avô dos chamados idle games, títulos que se jogam sozinhos pela maior parte do tempo, como Soda Dungeon. Entretanto, mesmo o mais monótono idle game ainda possui uma camada de gerenciamento de personagens ou objetivos, com a intervenção do jogador necessária para que a automação comece. Progress Quest é possivelmente o jogo mais próximo de zero que possa ser produzido, a menos que incluamos alguns protetores de tela nessa comparação.

A postagem se encerra, minhas barras de progresso não. Sigo cismando que Fredricksen era um webmaster.

Ouvindo: Kabelbrandt - Endsieg

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