Retina Desgastada
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12 de agosto de 2017

Gothic 1.5

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Na medida em que se aproxima o lançamento de ELEX, a próxima iteração da fórmula consagrada no passado da Piranha Bytes, talvez seja um bom momento para remover a cortina sobre um episódio pouco conhecido de seu passado: a sequência que nunca houve do primeiro Gothic.

Olhando em retrospecto hoje, é lamentável ver como o nome da franquia foi arrastado para um fim indigno e como a própria desenvolvedora alemã parece repetir a si mesma em um ciclo infinito de falta de novas ideias. Não vou esconder que não tenho boas expectativas para ELEX. É a mesma receita requentada de quase dezoito anos atrás, com um motor gráfico de dez.

Mas, em 2001, a Piranha Bytes era a bola da vez. Seu primeiro Gothic cuspia na cara dos RPGs orientais e naquilo que se fazia no Novo Continente, com um niilismo e uma visão nada amigável da sociedade medieval combinados com uma liberdade de ação raramente vista. Era uma obra-prima e estava ganhando sucesso entre os jogadores europeus. Era o momento exato para seus criadores pensarem em uma continuação e ela viria, inicialmente, na forma de uma expansão, batizada internamente de "Gothic Sequel", na falta de um nome melhor.

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Essa é uma história que foi desenterrada por uma comunidade de fãs russos, onde a franquia tem um lugar especial no coração, e uma história que a própria desenvolvedora preferia que não fosse divulgada. Ameaças de processo foram feitas, mas a história viu a luz do dia assim mesmo e, afinal, é uma que a Piranha Bytes deveria ter orgulho.

Na expansão do primeiro jogo, o Herói Sem Nome começaria do mesmo ponto em que o jogo principal terminou. Haverá spoilers nesse parágrafo... Em outras palavras, soterrado debaixo dos escombros de um templo profano após banir o Sleeper de volta para seu reino infernal. Ele é resgatado por Xardas e teleportado para a torre do mago. Sua armadura construída a duras penas foi destruída, sua espada mágica idem. Muitas de suas habilidades foram esquecidas. Se você está reconhecendo essa descrição, sim, é o início de Gothic 2, aquele que foi lançado, sem tirar nem por. Reciclagem é um dos lemas internos da Piranha Bytes.

A partir de seu início, Gothic Sequel passa a se diferenciar da verdadeira continuação da saga. As fronteiras entre as dimensões foram abaladas pelos eventos anteriores e a força maligna do primeiro jogo está enviando demônios para o mundo dos homens, enquanto planeja sua vingança. Nessa expansão, o Herói Sem Nome teria que enfrentar essa ameaça demoníaca e não os dragões vistos em Gothic 2 (e que, parando para pensar agora, fariam mais sentido que a súbita aparição destas criaturas tão empregadas por inúmeras obras de fantasia). Um segundo e definitivo confronto ocorreria entre o protagonista e seu oponente.

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Outra novidade da expansão seria a chegada de uma guerreira lutadora de bastão, chamada Thora, à região de Khorinis, enviada pelo próprio Rei Rhobar II para investigar os incidentes na antiga colônia penal. E ninguém menos que o próprio Rei também apareceria em Gothic Sequel, muito antes de sua participação fugaz em Gothic 3. Sua Majestade traria sua corte para uma Fortaleza nas Montanhas, que seria reaproveitada como o covil do Dragão de Pedra em Gothic 2.

Muitos outros elementos da continuação também acabariam sendo aproveitados em outros jogos da saga, como as perícias de Alquimia, fabricação de Runas e Cozinhar, além das classes Guarda Real e Caçador de Demônio, que seriam renomeadas para Paladinos e Caçadores de Dragão no verdadeiro Gothic 2. Mesmo Thora, cujo modelo estava totalmente criado para a expansão, acabou encontrando uma vaga nos planos da desenvolvedora... como a prostituta com que o protagonista pode ter uma cena de amor no segundo jogo.

Segundo o que foi apurado, a expansão já estava em uma fase de desenvolvimento em que era possível jogar os seus arquivos. Mas algo aconteceu que mudaria a face da saga e seria um prelúdio de sua derrocada: a intervenção da produtora JoWood.

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Com o sucesso do primeiro jogo, a Phenomedia AG, empresa-mãe da Piranha Bytes, conseguiria um acordo comercial que parecia caído do céu com a poderosa produtora influente no cenário europeu. A JoWood abriu as portas daquele RPG que poderia ter ficado confinado a um nicho para o mundo. Mas o preço era a interferência: de imediato, a desenvolvedora recebeu a ordem de cancelar a expansão, uma vez que a boa recepção do primeiro jogo pedia uma continuação completa, não uma reles expansão. O projeto foi engavetado, ainda que seus criadores tenham reutilizado conceitos e elementos já prontos no resto da série.

Gothic como um universo coeso certamente teria seguido uma direção completamente diferente. Ao invés de se trazer diferentes ameaças a cada episódio para o Herói Sem Nome (ou o cara mais azarado do planeta), poderia ter havido um conflito único e um inimigo sólido mais claro do que as forças ocultas confusas e mal-elaboradas expostas no terceiro jogo. Não dá para saber, é claro.

A saga de Gothic acaba se confundindo com a da própria Piranha Bytes, sacudida por forças externas além de sua criatividade, algumas vezes sem rumo.

Depois de amargar uma temporada sobre o controle da JoWood e seus sucessores, a marca retornou para a Piranha Bytes. Houve a indicação que um retorno triunfal poderia acontecer, mas ELEX se tornou o projeto ambicioso do momento da empresa. Recapturar a paixão de quase dezoito anos atrás é tarefa hercúlea e, talvez, seja melhor assim. O que está adormecido talvez deva permanecer adormecido.

Ouvindo: Iron Maiden - The Nomad

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom, espero q vc faça uma postagem sobre o gothic 2 e a expansao, e q historia eh essa sobre os fans terem desenterrado essa expansao ?? eu nem sabia disso por acaso parte da expansao vasou na internet ??? eu semprei achei que akele mod gigante que eh o dark mysteries fosse oq os fans conseguiram reaproveitar da expansao cancelada :/

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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