Retina Desgastada
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24 de julho de 2015

Um Dia de Cão

Bad_Day_LA_coverGamespot: "fracasso espetacular em quase cada faceta de sua execução".

IGN: "é terrível".

PC Gamer: "de tamanho mal-gosto que eu queria me esfregar com desinfetante depois de removê-lo do computador".

Quem lê o nome American McGee pensa logo no sujeito que saiu da id Software para transformar a já psicodélica história de Alice no País das Maravilhas em uma história ainda mais psicodélica e, principalmente, macabra. Mas nem sempre foi assim.

O polêmico designer assinou em 2006 o jogo que recebeu as críticas que abrem essa postagem. Com o egocêntrico título de American McGee presents Bad Day LA, o jogo foi massacrado por todos os lados e podemos dizer que foi o principal responsável para McGee enfiar na cachola que era melhor mesmo continuar com as aventuras da Alice pirigótica.

E eu estou aqui dando a cara para bater para dizer para você que Bad Day LA é bem legal.

Joguei a criação execrada de McGee quando meu filho tinha acabado de nascer, em jorros de uma, duas horas, aproveitando as curtas sonecas da tarde do bebê, com os olhos cansados de madrugadas entrecortadas por choros de neném e com cheiro de Hipoglós exalando dos dedos e impregnando o teclado. Não tenho como provar que o contexto influenciou em minha jornada, mas a verdade é que gostei de Bad Day LA. Talvez porque seu protagonista estava certamente atravessando dificuldades bem maiores que as minhas e levando numa boa.

American McGee Bad Day LABad Day LA

No jogo com cara de desenho animado adulto, controlamos Anthony Williams, um sem-teto onanista desbocado que está vivendo o pior dia da história de Los Angeles. A cidade é atacada por terroristas e mortos-vivos, passa por um terremoto, um tsunami, uma chuva de meteoros, um incêndio fora de controle, um riot e a Lei Marcial, além de algumas surpresas que eu não vou contar. Williams, que se cura "fapando" para revistas pornográficas que encontra no caminho, se alia com outros rejeitados do sistema: um veterano de guerra, um faxineiro latino, um garotinho muito, muito doente e até uma "patricinha" de Beverly Hills.

O tom de Bad Day LA é o absurdo. Há sátira política ali e, de certa forma, o jogo reflete o clima de paranoia que assolou a América pós-11 de Setembro. Enquanto satirista, American McGee, que traz o país no próprio nome, não perdoa ninguém e zomba das minorias, das maiorias, de todo mundo e você nunca tem certeza se ele é um grande racista desgraçado ou apenas alguém que aponta as falhas da nação através da visão exagerada de seus estereótipos. No frigir dos ovos, não há nada tão ofensivo em Bad Day LA que já não tenha aparecido em South Park ou GTA, de onde McGee claramente se inspira. Talvez com ainda menos sutileza. Ao final, quando fica claro que o protagonista e sua trupe de losers na verdade representam que aqueles que negligenciamos ou fazemos galhofa podem ser a salvação do país, McGee explica a piada. Mas, para muita gente, provavelmente já foi tarde demais e o jogo foi parar na lixeira.

Bad Day LA 02

Em termos de jogabilidade, Bad Day LA não é aquilo tudo. Tem seus momentos chatos e repetitivos. Mas tudo vale a pena diante do teatro do grotesco que McGee monta na sua tela e você segue em frente imaginando o que mais falta acontecer na azarada metrópole e com seu ainda mais azarado herói involuntário.

Infelizmente Bad Day LA, assim como o insosso Scrapland (também de McGee), desapareceu da face da Terra e não pode ser encontrado em nenhuma loja de distribuição digital. Mas é um título que vale a pena correr atrás em "canais de distribuição alternativa", nem que seja para descobrir que McGee também tem um lado sacana e muito mais colorido do que deixa transparecer nos delírios sombrios de Alice.

Ouvindo: Friday the 13th part 6 - Come on Maggot Head - Ring of Fire

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