Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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20 de agosto de 2011

Fallout, o Filme

BOS Há uma longa, longa, longa discussão sobre se Fallout 3  respeita ou não o legado da série. Mas há algo inspirado em seu universo que teria sido capaz de unir todos os fãs em torno da mesma repulsa. Além de Brotherhood of Steel, é claro, embora também tenha o dedo da Interplay na história. Estou falando do abortado filme de Fallout.

Houve uma época em que a produtora era um gigante no ramo dos jogos eletrônicos e possuía tanto o toque de midas quanto a ambição de se expandir exponencialmente. Neste clima de euforia e otimismo, foi criada a Interplay Films, uma divisão dedicada a transformar as propriedades intelectuais da empresa em sucessos cinematográficos. Era 1998 e se acreditava que tudo era possível. Entre os planos de adaptação estavam títulos como Redneck Rampage, Descent e Fallout.

Para esta a adaptação de Fallout foi contratado o roteirista Brent Friedman, um profissional com um currículo de filmes de terror como Altar do Diabo, Perigo Mortal (com Chuck Norris!), Necronomicon e outros. A seu favor (?) ele tinha o roteiro do filme pós-apocalíptico American Cyborg: Steel Warrior e a "adaptação" Mortal Kombat - A Aniquilação. Foi o que bastou para ser considerado o homem certo para a missão. Um roteiro completo nunca chegou a ser escrito, mas Friedman escreveu três tratamentos para a história, antes de toda a Interplay Films ir por água abaixo, sem nunca lançar um filme.

American Cyborg

Friedman tomou jeito depois desta aventura e entrou para o ramo de roteiros para a televisão, se afastando dos filmes Z. Tudo isso poderia ter ficado enterrado nas profundezas das lendas urbanas, se o próprio Friedman não tivesse encontrado o segundo tratamento de Fallout - O Filme em um velho disquete. Entre mandar o disquete para a lixeira e fingir que nada aconteceu e enviá-lo para o maior portal oficial de informações sobre a série, ele escolheu a última opção.

Você pode conferir o segundo tratamento do roteiro na íntegra (em inglês, PDF), mas eu resumo e destaco alguns pontos, digamos, controversos:

  • O protagonista tem muito mais história pregressa antes de sair do Vault 13: ele é rebelde, sonha com o mundo exterior e tem um jeito malandro de fugir das autoridades e se infiltrar por todas as áreas do abrigo. E tem um "interesse amoroso".  Pode parecer uma deturpação da proposta inicial, mas nada garante que não fosse assim no jogo, já que o protagonista criado pelo jogador não tem um passado que nós conheçamos. Esta alteração poderia acrescentar profundidade ao personagem, se o roteiro assim o desejasse.
  • Ele sai do Vault 13 acompanhado de outros: um Técnico, uma oficial de "polícia" linha dura e um Professor especializado na Superfície. O que eu acho mais coerente do que enviar um único indivíduo em uma missão tão crítica.
  • Não tem Shady Sands. A expedição chega logo ao outro Vault e descobre que o water chip já era. Suspense? Pra quê? No lugar disso, temos um tiroteio com Raiders,  chamados de Scavengers no tratamento...
  • Junktown também foi cortada. O grupo, aliado a um clone de Mad Max, é conduzido em direção ao The Hub. Em um carro. Nada de longas caminhadas pela solidão das Terras Devastadas.
  • A oficial linha-dura e o Mad Max desenvolvem uma "química".
  • O grupo chega às colinas de Los Angeles e vê que a cidade se transformou em uma selva de fauna e flora mutantes. Com tantas localidades e a áspera poesia do mundo pós-apocalíptico cortadas, Friedman achou melhor tirar uma selva da cartola, talvez para dar um fim naquele cinza todo, naquele marrom todo, dar uma vida, não é? Ninguém vai ao cinema para ver aridez, certo?
  • O consumo de ácido fica pesado quando Friedman preenche a selva com crianças semi-mutadas vivendo nas árvores.
  • Entre idas e vindas, o protagonista descobre que a Guerra Nuclear foi provocada pelo criador dos Vaults (o que, em uma escala bem larga, não deixa ser verdade). E, a esta altura do campeonato, já ficou claro que o protagonista não vai ter profundidade nenhuma.
  • Mad Max revela ter um bom coração por trás da fachada de durão. E quase pega a oficial de segurança. Como sempre acontece nos filmes, um incidente inesperado interrompe os apaixonados.
  • Mutantes atacam o The Hub especificamente atrás dos protagonistas de DNA puro. Os Mutantes são à prova de bala.
  • Friedman consegue não bagunçar muito a trama do Master e do FEV.
  • Mas logo em seguida temos uma perseguição alucinada envolvendo Mutantes... em veículos.
  • O "interesse amoroso" morre abrindo a porta do Vault 13 para os heróis, mas tem uma legião de mutantes do lado de fora agora.
  • O herói derruba o Overseer de seu posto, arma a população do Vault 13 com rifles de plasma e vence o exército mutante!
  • Descobre-se que o Overseer é o criador dos Vaults, consequentemente o responsável pelo holocausto atômico... O mundo é pequeno.
  • Na batalha, Master infecta Mad Max com FEV e o protagonista se vê obrigado a matá-lo em misericórdia. Apesar do texto brega, é um dos poucos momentos "mundo-cão" do tratamento.
  • No final feliz, o protagonista lidera os sobreviventes do Vault 13 a um novo paraíso a base de G.E.C.K. e pega a oficial linha-dura que Mad Max não conseguiu. Fim.

Interplay, desde 1998 praticando a cartilha das adaptações.

Fallout

Ouvindo: 16 Volt vs Spahn Ranch - That's What I Get

2 comentários:

EsquizoDouglas disse...

Não consigo acreditar que alguem receba um tustão por um roteiro desses, Friedman parece ter a profundidade de uma lesma alucinada, acho que ele deveria enviar esse roteiro pro nosso querido Uwe Boll, e então os dois juntos trariam o verdadeiro apocalipse para os cinemas.

Alias, Aquino, você ja assistiu "A Boy and his Dog"? Não, não é filme de sessão da tarde, mas sim a adaptação de uma historia pós-apocaliptica escrita pelo Harlan Ellison, e é uma das grandes inspirações do Fallout, alem do Mad Max, é claro. Nele é criado o conceito de Vault distopica, alem de ter um humor negro bastante cruel. Recomendo bastante esse filme, se você encontrar.

Leandro disse...

O filme "a boy and his dog" é horrível. Tem um protagonista bundão que só toma uma atitude no filme todo (só na passagem do primeiro para o segundo ato), quase não há conflito no filme (essencial em qualquer estória) da metade pra frente quem age e tem iniciativa é a mulher que, no final acaba... Meu, o final é tão ridículo que chega a ser engraçado (e mata todo um filme que era pra ser sério, te juro, certeza que Ellison bolou o final, achou fantástico e encheu linguiça antes), a relação garoto (um homem) cachorro não tem química alguma (não passam por tanto apuros juntos, pois como escrevi, no filme quase não há conflito). O protagonista que tanto quer seu objetivo, acabou mesmo é engatado com o cachorro. É risível.

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