Retina Desgastada
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3 de fevereiro de 2023

(não) Jogando: Vortex The Gateway

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Estou jogando The Forest em modo cooperativo com meu filho, mas, lamentavelmente, essa não é uma análise de The Forest. É uma análise do sofrível Vortex The Gateway.

A relação entre os dois jogos é que The Forest é excelente em diversos aspectos, porém deixa a desejar em termos de construção de base. Algo dentro de mim sente um prazer estranho em cortar madeira e extrair outros recursos nos jogos eletrônicos, para erguer abrigos, que se transformam em verdadeiras mansões, quando não impérios extrativistas. É a sensação de transformar caos em algo ordenado, subjugar a natureza e converter em civilização, sem precisar agredir o meio ambiente do mundo real. Então, por mais que eu estivesse curtindo The Forest, eu sentia a necessidade de um jogo de sobrevivência em que eu pudesse construir mais coisas.

Achei que fosse Vortex The Gateway. Ledo engano.

Vortex Gateway é a história de um homem comum que é puxado por um estranho vórtice dimensional e arremessado em uma terra alienígena. O fenômeno se repetiu em várias partes do mundo e agora você sabe o que aconteceu. Esse mundo estranho também é ponto de despejo de outras raças de outros lugares do universo, então você não será o único ser pensante em um raio de quilômetros. Infelizmente, a paz não é uma opção. O único outro humano que também estava aqui contigo é abduzido por um disco voador e fica subentendido que a experiência não será agradável e não terá retorno.

No papel, a premissa desse jogo de sobrevivência é satisfatória. Paisagens surreais, flora e fauna desconhecidos, a ameaça de discos voadores em um céu estranho onde dois planetas próximos marcam sua presença. Há algo de Predators no ar, há um clima de mistério a ser resolvido a até mesmo uma promessa de volta pra casa no modo História. Em mãos mais competentes, esse poderia ser um grande título em seu gênero.

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Os gráficos também são impressionantes, guardadas as limitações de seu ano de lançamento e sua natureza independente. Entretanto, a modelagem das criaturas não acompanha o charme da vegetação. Alguns monstros parecem pessoas com roupa de borracha, o que se convencionava por "alienígena" nos antigos seriados de TV.

Os elogios acabaram. O trabalho de som do jogo é quase nulo. Possivelmente, o desenvolvedor reutilizou assets bem "mundanos" para seu bioma alienígena. Uma das criaturas que você caça por comida faz barulhos irritantes de porco e os grilos cricrilam a noite inteira. Sons de combate, efeitos de árvore sendo cortada, passos, tudo parece abafado ou frágil.

Porém, são nas mecânicas que Vortex Gateway naufraga de vez. Justamente as mecânicas que tornam qualquer jogo de sobrevivência tão atraente para mim: a sensação de que você começa como alguém aparentemente condenado à morte, mas que se transforma em um soberano de seus domínios. Isso implica uma evolução de personagem, seja em termos de estatística, seja em termos de equipamento. Aquela pessoa frágil que temia noite se torna um caçador ou simplesmente alguém que ergue um cafofo no meio da brutalidade e obtém todos os confortos possíveis.

Em Vortex Gateway, entretanto, a progressão é impossível. Não há estatísticas para seu personagem. Não há qualquer tipo de equipamento de proteção que possa ser fabricado. Esse homem é capaz de erguer uma torre de observação de bambus e pele esfolada de animais, mas não consegue costurar um simples casaco grosso. Não há armas com grande diferença de eficiência. Três lanças simples, construídas com um graveto, conseguiram derrubar 95% das criaturas que encontrei. Boa parte dos recursos são encontráveis logo de início e não vi como fabricar qualquer coisa que fosse capaz de ampliar drasticamente minha capacidade de combate.

O combate é básico, com a Inteligência Artificial das criaturas detectando você  e traçando uma linha reta. Recuar para trás e arremessar lanças resolveu boa parte das lutas. Existe uma mecânica de furtividade que permite que você se camufle em moitas, mas, assim como os monstros não te veem entre as folhas, você também não consegue enxergar nada além de folhas.

A maioria dos jogos de sobrevivência incorpora o conceito de base com um loop simples: você não pode construir tudo com as mãos nuas, você precisa de bancadas. Para construir bancadas, seria bom ter um teto. Com um teto, vem a possibilidade de salvar e/ou dormir. Objetos mais sofisticados exigem bancadas diferenciadas, muitas bancadas exigem uma casa maior. Com objetos mais sofisticados, armas e equipamentos, você explora regiões mais distantes com mais segurança ou garante um suprimento contínuo de água e alimento.

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Esqueça tudo isso em Vortex the Gateway. Não há qualquer necessidade de se construir algo mais sofisticado do que uma tenda pré-fabricada de bambu e folhas para poder salvar. Tentei cercar um pedaço de chão para chamar de meu, em volta da única planta medicinal que encontrei. Porém, cercas não se conectam e seria necessária uma quantidade surreal de bambus. Há muitos tipos de armadilhas para se fabricar e proteger seu território, porque o outro modo de jogo é meio tower defense, como o Fortnite original, mas não há qualquer incentivo para se fazer isso no modo história.

A mecânica mais repugnante é de carga. O personagem tem uma mochila em que cabem rigorosamente 35 quilos. Porém, tudo no jogo pesa um quilo. Uma fruta que dá água pesa um quilo. Um graveto pesa um quilo. Uma folha pesa um quilo. Literalmente um punhado de penas pesa um quilo. Seu isqueiro que não pode ser largado jamais também pesa um quilo. Isso limita a quantidade de recursos que se pode carregar e não há nenhuma forma de se estender isso com mais força, com uma mochila melhor, um carrinho de mão, nada. Para um rato coletor como eu, é um grilhão preso no pé. Então, temos aqui um jogo que não te incentiva a ter uma base, mas explorar, porém não te deixa carregar muita coisa nas andanças.

Depois de quase três horas jogando, percebi que todas as próximas horas seriam exatamente idênticas, sem senso de evolução algum. É uma pena. A paisagem é convidativa, eu queria encontrar o caminho de volta pra casa, mas só isso não bastava para continuar.

Ouvindo: Anvil of Dawn - Track 03

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