Retina Desgastada
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6 de dezembro de 2022

Jogando: Battlefield 3

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Battlefield 3 foi lançado em 2011 e é fácil compreender como o jogo impactou aqueles que desfrutaram dele naquele ano. O título da DICE é um salto colossal em relação a Battlefield 2, o primeiro da franquia a trazer um enredo e o primeiro a apresentar sistemas de destruição de cenário que são praticamente exclusivos da série até hoje. Onze anos depois, os primeiros 60 minutos que passei no jogo foram boquiabertos. Mesmo já tendo me deslumbrado com Battlefield 4 (que é vastamente superior em todos os aspectos), não pude deixar de dedicar vários instantes no começo do terceiro jogo para simplesmente olhar ao redor, ser um turista armado na reprodução quase fidedigna de uma zona de guerra urbana no Irã.

A estratégia militar de "choque e espanto" da DICE não se sustenta por um longo tempo. A vista se habitua com o motor gráfico e os defeitos, inclusive na parte visual, acabam se sobrepondo e perturbando a experiência. Ainda assim, fui até o final da campanha, meio que movido pela inércia, meio que movido pelo desafio, meio que esperançoso de que a sensação inicial se repetisse.

Sem entrar tão profundamente no mérito geopolítico da coisa toda, como fiz em minha análise de Delta Force Black Hawk Down, temos aqui a bom e velho ufanismo do poderio militar norte-americano. O fato de todas as situações e cenários serem ficcionais alivia a barra, ainda que um olhar mais atento reconheça uma referência discreta a um massacre real. A sensação de incômodo voltava toda vez que as forças dos Estados Unidos utilizavam um poder de fogo estupidamente alto para dizimar seus oponentes, evidenciado tanto na missão em que controlamos um caça de combate, como na extensa missão em que pilotamos um tanque de guerra.

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Battlefield 3 se esforça para copiar a fórmula grandiloquente de Modern Warfare, com personagens e situações maiores que a vida. Essa estratégia ainda não está madura aqui (e só viria a brilhar em Battlefield 4) e, confesso, depois de certo ponto, parei de me importar com a história de Blackburn e sua busca por dois artefatos nucleares desaparecidos. No que fiz muito bem: próximo do final do jogo, descobrimos por que Blackburn está sendo interrogado com tanta truculência por dois agentes do governo. Blackburn cometeu um ato extremamente questionável e está sendo tratado como um traidor da pátria. Ao descobrir que ato foi esse, minha vontade também foi de dar uns sopapos... em quem fez o roteiro, por adicionar uma situação tão descabida de sentido.

O título da DICE também emula as mecânicas de seu principal rival, as mesmas mecânicas que me fizeram largar Call of Duty: Modern Warfare. O script do jogo força o jogador a realizar determinadas tarefas da forma exata que seus criadores desejam e me vi como um ator em um teatro montado, sendo obrigado a me ater ao meu texto e a minhas marcações na cena, sem espaço para improviso. Essa fixação provocou momentos ridículos, como quando Battlefield 3 se recusou a registrar que eu já tinha destruído o ninho de metralhadoras e se recusou a desbloquear o avanço. Ou quando Battlefield 3 insistiu para que eu matasse um insurgente com uma faca por trás, mesmo tendo uma arma silenciada em minhas mãos, e exigiu que eu apertasse o botão da faca no momento exato ou o insurgente enxergaria minha presença com o olho da bunda e me mataria com uma metralhadora invisível. Nesse sentido, Battlefield 4 se mostrou muito mais aberto, muito mais permissivo, com espaço para eu simplesmente jogar como gostaria de jogar.

A miríade de armas oferecidas pelo jogo certamente deve ser uma fonte de enlevo para os fãs e colecionadores (ou os CACs de plantão...). Porém, para um leigo, todas pareciam bastante similares no manejo e no impacto e eu não conseguia memorizar quais as que realmente tinham me agradado. Por outro lado, em boa parte dos tiroteios eu estava ou acertando inimigos extremamente distantes com uma mira telescópica ou atirando ás cegas, ofuscado pelo glare exagerado do motor gráfico, pela luz das lanternas dos oponentes, ou pela escuridão de determinados cenários. É possível que meu óculos já tenha passado do prazo de validade, então não irei questionar muito esse aspecto.

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Ter jogado Battlefield 3 em 2011 teria sido uma experiência reveladora, se eu tivesse a máquina capacitada para sua potência. Jogá-lo em 2022 foi um exercício de deslumbre tardio, mas trazendo um gosto de velharia, um registro histórico dos primeiros momentos em que a série buscou oferecer algum tipo de atividade single-player para seus consumidores. O recente Battlefield 2042 lamentavelmente abandonou essas pretensões, ao invés de continuar buscando melhorar. De um jeito ou de outro, sempre terei Irish e a invasão da China em minhas lembranças. Battlefield 3? Talvez assalte minhas memórias em algum ponto do futuro, quando os Estados Unidos da América desembarcarem a democracia em outro país do Oriente Médio.

Ouvindo: Foxy Brown - (Holy Matrimony) Letter To The Firm

Um comentário:

Anônimo disse...

Poxa, que saudade da época em que BF3 era novidade e a moda do momento. Passei tantas horas nesse jogo e no BF4. Lendo esse texto só senti uma enorme nostalgia de uma época melhor e muito boa da minha vida.

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