Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
Comunidade do SteamMastodonCanal no YouTubeInstagram

7 de dezembro de 2013

A Maldição

WoW Você provavelmente não sabe, mas existe uma maldição no blog.

E como toda maldição, ela começou com um aspecto positivo. Tive a felicidade de conseguir fazer um bom trabalho por aqui e, como resultado, alguns leitores me ofereceram jogos de graça com um gesto de apreço. Eu não poderia imaginar é que isto viria acompanhado de um contrapeso quase macabro.

Nem todos os jogos eu tive ainda a oportunidade de experimentar. Mas algo estranho aconteceu com aqueles que consegui jogar:

Há um padrão aqui ou estarei cedendo às garras da loucura?

Pois no mês passado, consegui colocar as mãos em Call of Duty: Modern Warfare, o primeiríssimo Modern Warfare e divisor de águas na franquia, para não dizer no mundo dos FPS. Depois de meses reclamando que a Activision jamais abaixava o preço para eu testar, uma promoção apareceu em um loja especializada em Mac, por cinco dólares. Ativava no Steam e no PC. Solidário da minha angústia, o camarada @raptorhawk comprou o jogo para mim.

E a maldição atacou novamente.

(não) Jogando: Call of Duty: Modern Warfare

Segundo este artigo da New Yorker, um dos pontos centrais para o sucesso dos jogos de tiro em primeira pessoa é a sensação de controle sobre o ambiente que o cerca. Dentro desta premissa, fica meio inexplicável o sucesso avassalador de Modern Warfare no mercado. Para muitos, e os números não mentem, este é o ápice do gênero. Acredito que seria muito mais sensato atribuir esta popularidade à jogabilidade emergente oferecida pelo modo multiplayer, que não experimentei.

Porque no modo single-player, você não tem controle de nada.

Modern Warfare

Entre o primeiro Call of Duty, um grande salto qualitativo para o mesmo time que criou o primeiro Medal of Honor, e este episódio, aconteceu alguma coisa nas entranhas dos FPS que fez com que eles se afastassem de mim. Acreditei que poderia testemunhar, com certo prazo, o ponto de virada da série, onde a ação frenética do primeiro título se casaria com sequências cinematográficas e o mundo moderno. Ledo engano.

Nos primórdios do gênero, você é aquele exército absurdo de um único homem, que carrega dez armas no corpo, farta munição e consegue por conta própria salvar o planeta. O cenário mudou com o tempo. Com a virada do milênio, você passou a assumir o papel daquele que faz a diferença, o líder da resistência que é um pouco mais sortudo e um pouco mais capaz do que a média dos soldados. A partir de Modern Warfare, você passa a ser o cara que quebra um galho, não fede e nem cheira. "Essa é a guerra", dizem por aí.

Se na Segunda Guerra Mundial, sem mim aqueles soldados russos entocados naquele prédio jamais sairiam dali com vida, em Modern Warfare, eu poderia muito bem ter ficado na base e a história iria se desenrolar da mesma forma.

Eu sou sempre aquele que anda atrás dos outros. Eu não abro portas. Os outros soldados matam todo mundo antes de eu chegar, a menos que o script diga que é a minha hora de fazer alguma coisa. De uma hora para outra, eles deixam ser máquinas de eficiência e ficam só esperando eu eliminar a oposição. Eu não posso escolher a posição de onde eu vou dar cobertura. Existe um ponto marcado para eu usar o sniper, depois que eu mato X inimigos, a ordem é seguir em frente, mesmo que mais inimigos estejam chegando lá embaixo. Se eu usar a flashbang fora de hora, ela não faz diferença. Quando o comandante manda ligar a visão noturna, eu podia muito bem ficar sem ela, porque dá para enxergar bem, até melhor. Não há espaço para improviso, para iniciativa, para surpreender o inimigo. Se você não mexer um músculo e seus aliados morrerem, uma nova leva deles vai chegar. Se você não avançar quando for para avançar, novos inimigos vão chegar também, em um infinito respawn.

Modern Warfare

Talvez seja emblemático que, em uma das cutscenes, você esteja no papel de uma vítima, indefesa e sem possibilidade de reação, além de mudar o campo de visão. Se fosse possível, o jogo inteiro seria assim. "Senta aí que eu tenho uma história ótima para te contar, mas não toque em nada!".

Modern Warfare tem gráficos belíssimos e posso dizer que não envelheceram. Mas você não tem tempo de ver nada, seu esquadrão já está lá na China e, se você não correr atrás, não vai nem conseguir matar um inimigo que seja. Tem um som excelente e uma trilha que tenta te empurrar para um estado de euforia épica. Mas quando você está tentando ainda achar seu lugar no grande esquema das coisas, é impossível se sentir um herói de verdade. Não me espanta mais que, em Call of Duty: Black Ops, você possa vencer uma missão sem disparar um tiro.

(não) Jogando: Mortyr III

Mortyr III O que me levou, em uma crise de irritação, a instalar Battlestrike: Force of Resistance. E, se você nunca ouviu falar deste jogo, não fará a menor diferença na sua vida.

Para mim, tudo começou com o primeiro Mortyr, que eu comprei em disco. Era um título polonês que tentava pegar carona em Return to Castle Wolfenstein e misturava nazismo com viagens no tempo. É uma bomba, mas foi um grande sucesso na Polônia. Talvez por nacionalismo, talvez pelo preço, talvez por oferecer uma oportunidade de extravasar um ódio ancestral da suástica e tudo o que ela representou para o país.

Apesar do desastre que foi, acabei adquirindo (ilegalmente) Mortyr II. A equipe de desenvolvimento da Mirage Interactive tomou uma overdose de Call of Duty e Medal of Honor e conseguiu entregar um título que deixa seu antecessor no chinelo e consegue a façanha de se equiparar a suas influências ocidentais. É um título que recomendo, com algumas sequências de tirar o fôlego, apesar de um primeiro nível sofrível.

Acreditei que o terceiro capítulo da franquia (comprado no Gamersgate) poderia melhorar meu humor em relação aos FPS militares. E matar nazistas nunca cansa.

Battlestrike Mas eu não sabia que "Mortyr III" não existe. A produtora City Interactive pegou um jogo de outra franquia, Battlestrike: Force of Resistance, e rebatizou como Mortyr III para vender na Polônia. Na minha desinformação, achei que tinha sido o caminho inverso. Enfim, este título não foi desenvolvido pela Mirage Interactive e isto está evidente no resultado final.

Apesar das cutscenes instigantes e da trilha épica, quando colocam a arma na sua mão o que acontece é um passeio por um mal-disfarçado corredor no meio da floresta, de onde nazistas pouco motivados brotam praticamente do nada. Sem cenários rebuscados, característicos do verdadeiro Mortyr anterior ou qualquer novidade, a série dá um gigantesco passo para trás movido pela ganância da produtora. Supostamente, você pode rastejar no meio do mato para que o inimigo não o veja. Mas ele continua enxergando você e atirando, enquanto a vegetação acaba completamente com a sua visão. É ruim nesse nível. Sem muitos lugares para se proteger, todo tiroteio termina em uma troca de balas entre oponentes expostos. O tédio impera e você fica torcendo para que aquela estrada acabe logo. E ela não termina...

Desinstalei os dois jogos. Chega de guerras, por enquanto.

E A Maldição?

Há outros jogos na minha biblioteca que foram presentes. Olho para eles com temor. Estarei condenado a não gostar daquilo que não foi comprado? A carregar a injusta fama de ingrato? Posso jurar que cada um destes títulos foi jogado além do limite que eu jogaria se eu mesmo tivesse comprado: eu estava ativamente tentando enxergar o mesmo que o outro viu, ter a mesma diversão, o mesmo encanto. Mas o destino apronta das suas.

O mesmo @magaiverpr me comprou uma cópia de The Walking Dead, a elogiadíssima e premiada adaptação realizada pela Telltale Games.

Será ela aquela que irá romper o ciclo maldito? Será?

Só 2014 sabe a resposta.

The Walking Dead

Ouvindo: Jimi Hendrix - Sunshine Of Your Love

15 comentários:

Vilas Boas disse...

Se há uma nefasta maldição eu não sei, mas torço muito para que essa urucubaca desapareça ao jogar o Excelentíssimo The Walking Dead; lágrimas rolaram ao final da 1° Temporada...

Ed R. M. disse...

Pena que seu filho não gostou do Twinsen Odyssey, é um jogo fantástico, que enche meu coração de alegria :) (levando em consideração as limitações de ser um game de 97).

Não é exatamente infatil, embora pela fofura presente pode ser jogado por crianças sem problema.

Aliás, recomendo que vc tente jogar sozinho Aquino, pois é um título extremamante charmoso e encantador que merece uma chance!

Marcos A. S. Almeida disse...

Eu tento evitar comparar o passado com o presente , até porque por eu ser do passado, sou suspeito pra dizer.O mesmo acontece nos jogos.Talvez o cinema tenha influenciado demais os jogos ou a busca incessante por gráficos tenha deixado em segundo plano outros aspectos ou até porque os produtores perceberam que um nicho de jogadores não gosta de nada muito difícil - aliás , eu também não gosto - e por isso acho que deram uma "facilitada" para agradar e consequentemente vender mais. Existem exceções , claro ,mas como sempre digo, não sou o dono da verdade e pode haver outra explicação , mas a impressão que eu tenho é esta.E no The Walking Dead essa impressão é confirmada.Fã da série televisiva ,comecei á jogá-lo tendo em mente os adventures do passado - ele é um adventure , não é? - e nesse gênero normalmente há quebra-cabeças e busca por itens.Bem , não foi isso exatamente que achei.Ok, joguei por enquanto apenas os dois primeiros episódios, mas o que pude perceber é que como jogo ele é um ótimo drama.Existem decisões á serem tomadas , mas ainda não sofri as consequências de nenhuma delas - ou elas foram tão sutis que não percebi.Enfim, não há nada mais dos adventures antigos , muito menos do que o aclamado TO THE MOON ,tudo parece estar sobre trilhos, mas realmente têm uma história emocionante.Mas aí eu pergunto: o jogos realmente precisam tomar esse caminho? Para não prejudicar o andamento de uma ótima história é preciso esquecer que ele é um jogo?Ou será que essa é a evolução natural e eu , por ser do passado , não consigo assimilar estas tendências?

Michel Oliveira disse...

Parabéns por seu primeiro contato com os CoDs modernos. Todos são cópia do primeiro Modern Warfare. Mas pelo menos tem seus momentos, como o levante numa prisão soviética no meio dos Urais em Black Ops. Mas a maior parte do tempo você só segue o líder mesmo.

Michel Oliveira disse...

Ah! E RAGE é legal. Sério. Tirando o fato de que me sinto numa versão HD de DOOM com carros de corrida é bem interessante.

Marcos A. S. Almeida disse...

Pra completar o meu raciocínio acima , e por consequência responder ás minhas indagações: acabei de olhar o gameplay de um jogo premiado ontem no VGX , o GONE HOME , e é mais um em que a história é o principal , em detrimento de uma jogabilidade mais efetiva - ou de uma jogabilidade "ás antigas", como queiram. Então , acho que tudo o que está sendo considerado jogo agora , é uma evolução do que conhecíamos ou a criação de subgêneros ou até de novos gêneros.Tenho de aceitar.Gostar já é outra história...

C. Aquino disse...

Ed, eu vou aguardar mais alguns anos antes de tentar o Twinsen's Odyssey de novo com o meu filho. Só escolhi o momento errado (ele ainda não tem muita paciência para histórias...).

Marcos, na minha análise de To The Moon, eu evitei ao máximo usar o termo "jogo". Para mim, este tipo de produto digital precisa de outra classificação mesmo. Não imaginava era que houvesse todo uma tendência emergindo ali... Particularmente, nunca fui fã dos adventures à moda antiga ("combine 5 pombos, um saca-rolhas e um frasco de perfume para conseguir abrir o armário") e venci muitos apelando para um guia a cada quinze minutos.

Mas... acredito que deva haver espaço para todos os tipos de jogadores. Não me conformo com jogos que não tem uma seleção de dificuldade, cada jogador é único e o fácil de um é o impossível de outro. Assim como surgiram adventures mais tranquilos, tem que existir os hardcores também. Felizmente, me parece que a Daedalus está mantendo firme a tradição, enquanto a Telltale optou por suavizar a jogabilidade.

Michel, pelo o que eu li, do primeiro Modern Warfare para frente, a iniciativa do jogador vai só sendo reduzida mesma. E, se você reclamar, vai levantar uma dúzia para te dizer que ninguém joga o single-player! Rage é Doom em HD com carros? Estou dentro (assim que tiver um PC melhor)!

Ainda sobre facilidade x dificuldade: minha bronca com Modern Warfare não foi nem a facilidade, foi a inatividade. Os primeiros Delta Force eram bem fáceis, mas pelo menos era você no comando do massacre. Em contrapartida, de títulos indie que trazem na descrição frases como "brutally hard", "insanely hard", "like Super Meat Boy" ou algo assim, eu fujo!

Shadow Geisel disse...

RAGE foi uma grande boa surpresa nessa geração. mesmo com aquela falha de texturas o game é muito bom.

Marcos disse...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

C. Aquino disse...

"Free Steam games", com 16 cliques em um link? É golpe. E já documentado nos fóruns do Steam. Cuidado!

FFeitoza disse...

Aquino, vc já jogou um adventure chamado The Longest Journey? Ou outro adventure chamado Culpa Innata? Tenho certeza que se vc tiver a oportunidade de jogar qualquer um dos dois, não se arrependerá.

Raphael AirnMusic disse...

Marcos ja entregou que no walking dead nao tem muito jogo como os adventures antigos e pelo jeito isso possivelmente vai agradar o Aquino pelo jeito.

Recomendo muitissimo o outro jogo da telltale no universo de fabulas, a historia foi muito bem contada no 1o episodio e parece que vai melhorar muito! =)

Marcel C. Da Silva disse...

Sabe Aquino, resolvi olhar sua lista de análises e fiquei meio espantado que você ainda não tenha jogado o Fable: The Lost Chapters. Super recomendo que você jogue.

Anônimo disse...

Não goustou de twinsen!!!

Merece um nitro mega penguin de presente.
;)

PS. Twinsen tem tradução.

GV

Hawk disse...

Quando tiver mais uma promoção do Far Cry 3, vou comprar ele para você, se este jogo não te agradar, eu desisto. :P

Ps.: reserve o ano de 2014 para juntar dinheiro e comprar uma máquina melhor. :D

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

Wall of Insanity