Retina Desgastada
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14 de novembro de 2021

Crepúsculo Violáceo

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Voltar para Citadel: Forged With Fire foi um erro desde o começo. Depois de mais de cem horas compartilhando a mesma conta, era evidente que meu filho e eu já tínhamos visto praticamente tudo que havia para ser visto no jogo, incluindo algumas criptas de alta periculosidade. Não que o título de sobrevivência tivesse muito conteúdo, para começo de conversa, mas era um parque de diversões de feiticeiro tão satisfatório que dizer "adeus" foi estranho. Ironicamente, abandonei Citadel na época para jogar Elite Dangerous, que não agradou, mas, por vias tortuosas, me levou a Warframe, que se tornou o maior de todos os meus vícios.

No entanto, voltamos a Citadel.

Segundo meu filho, e não lhe tiro a razão, havíamos compartilhado Citadel, mas não havíamos jogado Citadel juntos. Ele ainda não tinha seu próprio PC dois anos atrás. Aguardei uma promoção do jogo e comprei uma cópia para ele. A perspectiva de desbravarmos novamente o mesmo mundo fantástico martelava sua cabeça.

Ao mesmo tempo, durante nossa ausência, a desenvolvedora havia implementando todo um novo capítulo no jogo. Havia agora um mapa completamente inédito em outra dimensão, novas criaturas, um sistema de missões de campanha. Aparentemente, a maior falha que eu havia identificado no título havia sido corrigida: a carência de contexto, de conteúdo que ligasse todos os pontos daquele mapa exuberante.

Portanto, agora tínhamos dois bons motivos para voltar: a parceria inédita e as novas aventuras que nos aguardavam.

No entanto, nem um nem outro funcionaram a contento. De nossa parte, ainda estávamos afetados por uma certa fadiga de Citadel. Havíamos dividido ali mais de uma centena de horas. Meu filho já havia domado todas as criaturas que queria antes. E eu, espertamente, mantive meu personagem original com praticamente todo seu equipamento de elite e não tinha mais rotas de evolução. Construir uma nova mansão para mim (depois de "morar de aluguel" na cabana de meu filho) foi uma meta que completei bem rápido.

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Então, nos restava explorar o material novo. Lamentavelmente, e dessa vez a culpa foi da desenvolvedora, o conteúdo inédito não justifica um retorno para os veteranos. As novas criaturas são nada menos que variações nada criativas dos monstros que já existiam, uma versão "mutante", como o jogo as chama, que sequer podiam ser domadas, apenas caçadas e mortas em troca de recompensas frágeis.

A nova dimensão nada mais é que um mapa com um terço do tamanho do mapa principal com as cores grotescamente trocadas, cogumelos no lugar de árvores e nenhum acidente geográfico digno de nota, apenas colinas até perder de vista. O pior agravo certamente é a bizarra paleta de cores violáceos que parecem um delírio hippie movido a substâncias proibidas, um pesadelo daltônico para o qual é insuportável deitar os olhos por muito tempo. Nessa "nova dimensão", as criaturas são de um nível absurdamente alto e também tem cores trocadas. Parabéns, você chegou ao endgame de Citadel: Forged With Fire.

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Por último, o sistema de campanha... do qual meu filho sequer participou. Eu segui em frente, movido pela absoluta convicção de que deveria ter algo minimamente interessante no produto final. Não há. O jogador é lançado de forma crua, entre um mago e outro, que apresentam um texto na tela e solicitam tarefas encadeadas que beiram o ridículo. Aparentemente, há uma grande conspiração em andamento nas terras de Ignus, um mal ancestral prestes a retornar, mas somos obrigados a perder nosso tempo domando javalis, arranjando comidas para feiticeiros esfomeados ou matando unicórnios sagrados em troca de nenhuma recompensa, exceto pontos de experiência e o desbloqueio da missão seguinte. Não há qualquer satisfação em completar tarefas que exigem um constante ir e voltar pelo mapa e eu estava mais feliz quando o jogo era apenas um playground de bruxos e bruxas. Nenhum dos itens que me são cobrados para trazer ou fabricar acrescentam poderes ao meu personagem, são apenas desculpas para serem descartadas no momento em que são entregues ao criador da missão. Esperava um RPG, encontrei o mesmo descaso com enredo da maioria dos jogos survival.

Tudo isso talvez explique o abandono dos servidores. Anteriormente, o mapa estava coalhado de jogadores passando de um lado para o outro, se ajudando, erguendo bases por todos os cantos. O que vi agora foram castelos colossais, os últimos mas escassos resquícios dos tempos de glória. Com uma população reduzida e sem o risco de se atingir o limite de construções do servidor, os valentes remanescentes ergueram impérios interconectados por muros. Isso apenas ajudou a aumentar o contraste e a solidão de um mapa com prédios enormes e vazios.

Finalmente, aceitei meu destino. Não há mais retorno possível para Citadel e certamente eu devia ter permanecido sem voltar, com a imagem idílica de suas paisagens encantadoras e uma mitologia oculta que os desenvolvedores não souberam dar substância. Citadel: Forged With Fire ainda pode ser receptivo e fabuloso para quem ousar começar agora em seu crepúsculo, mas, para nós, que completamos 175 horas em busca de algo, ele não satisfaz mais.

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Ouvindo: Welle: Erdball - Der Sinn Des Lebens

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