Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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11 de julho de 2021

Jogando: Salt

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Diário de bordo, 28E, 18S:

"Frustrado com minhas experiências em Risen 2, lembrei de outro jogo que tinha em meu acervo com temática pirata, mas um vasto mundo aberto para ser explorado em busca de tesouros. Não, não era Sea of Thieves. Era Salt, um infinitamente mais modesto título independente que eu havia testado em uma versão demo, no agora distante ano de 2015.

Por fora, Salt é um daqueles jogos de sobrevivência em que você precisa coletar recursos, construir coisas, tomar cuidado para não morrer por causa de necessidades básicas ou inimigos aterrorizantes. Na prática, ele está muito mais próximo da vibe de Minecraft: um título para ser apreciado sem stress, no seu ritmo, sem grandes ameaças. Não por acaso, a trilha sonora principal de Salt é o barulho das ondas e das gaivotas, intercortada em alguns raros momentos com uma música suave e sutil que lembra muito o que a Mojang atingiu com seu título. Às vezes, a música sobe para batalhas ou para trazer um clima épico no mar profundo, intervenções que contribuem para pontuar esses momentos, mas que não chegam a subir a adrenalina.

A grande verdade é que Salt é um jogo que traz paz e não assombro. Esse horizonte é evidenciado também em suas cores vibrantes, como se um Sol tropical beijasse o solo com graciosidade. Quase dá para sentir a pele bronzeando. Em Salt, o verde é mais verde, o azul é mais azul, o mar é mais mar do que em muitos jogos. Com reverência e um leve temor, jogamos nossa jangada nas ondas e manobramos o barco em busca da ilha seguinte. Mesmo quando se obtém uma caravela pirata, não é possível se sentir conquistando o oceano, apenas obtendo um pouco mais de conforto e segurança em meio à vastidão oceânica. Somos convidados dessa beleza, nunca seus mestres.

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Mecanicamente, porém, Salt está bem distante de Minecraft ou da maioria dos jogos de seu nicho. O jogo não nos oferece a possibilidade de se erguer construções de qualquer tipo. Somos nômades, explorando um mar que não tem fim, com ilhas geradas proceduralmente. No máximo, é possível construir ou melhorar barcos, mas nada que possa ser comparado à complexidade de um Raft. O resto dos elementos fabricáveis são apetrechos que carregamos, vestimentas ou alimentos. O foco de Salt está mesmo na exploração, no girar dos dados de cada ilha, que pode conter surpresas ou recursos necessários para seguir viagem.

O combate, quando existe, é simples e pouco desafiador. Isso pode frustrar alguns jogadores, mas acredito que seja mais uma vela que impulsiona uma experiência que se deseja exploratória. A noite pode trazer inimigos que dão sustos, mas também pode ser facilmente evitada com uma boa fogueira. Não há lutas obrigatórias ou que não possam ser evitadas correndo. Se uma ilha está perigosa demais (?), sempre é possível navegar até a próxima.

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Sem me dar conta, completei doze horas nesse universo, sem chegar a lugar algum. Até porque Salt é um título tão infinito quanto seu mapa. Há inimigos gradualmente mais fortes, mas também há equipamentos gradualmente mais fortes. Com paciência e sorte, você pode encontrar missões e correr atrás desses objetivos, um norte mais nítido do que havia em Minecraft ou na maioria dos títulos de sobrevivência, entretanto, na maior parte do tempo, você estará apenas deixando se levar, como uma onda no mar. Depois da primeira dezena de horas, há coisas que não vi, mas também houve muitas coisas que vi muitas vezes, o que acaba cansando.

Atingida minha zona de conforto, com um galeão próprio, bem iluminado, com cama, equipamento satisfatório e nenhuma morte nessas doze horas, fiquei tentando imaginar o que poderia estar na próxima ilha que justificaria minha permanência em Salt. Não me arrependo de nenhum minuto gasto sob esse Sol causticante, porém não encontrei motivos para perseguir esse horizonte.

Deixo por aqui essa aventura e esse pergaminho, a ser encontrado por novos aventureiros."

Comandante Aquino

Ouvindo: Bruce Dickinson - Sacred Cowboys

2 comentários:

Shadow Geisel disse...

A falta de objetivos maiores do que a sobrevivência em si é um problema flagrante nesse estilo de jogo. Também senti isso em No Man's Sky (apesar de ter passado mais de 50 horas nele antes de cansar). No dia em que conseguirem o casamento entre total liberdade e propósito teremos... um novo jogo da série Fallout ou TES da Bethesda. rsrsrsrsrs

C. Aquino disse...

Sim, um Minecraft com começo, meio e fim seria impressionante. Achei que Minecraft Dungeons seria esse título, mas não chega nem perto: você não constrói nada, você não extrai nada, é um Diablo simplificado com skin de Minecraft. Em No Man's Sky, eu tentei seguir a quest principal, mas acabei me perdendo. Quando vi, estava extraindo recursos para expandir uma base que não queria e quebrando cabeça para administrar um FUCKING cargueiro espacial que também não queria.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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