Retina Desgastada
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24 de novembro de 2019

Jogando: Space Hulk

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Das profundezas tenebrosas do Warp, elas emergem: estruturas colossais de espaçonaves amaldiçoadas, distorcidas pelas forças do Caos do hiperespaço e fundidas em uma única abominação. Seus desafortunados tripulantes há muito morreram ou foram contemplados com um destino pior. Seus novos habitantes são a insidiosa infestação dos Xenos, o exército implacável dos ladrões de genes, os vermes abundantes da Tyranid. É imprescindível que tais carcaças não cheguem aos mundos gloriosos do Império do Homem. É imperioso que os Space Hulks sejam purificados de toda heresia.

Com essa premissa clássica, Warhammer 40K criou um jogo de tabuleiro que atravessa gerações e simplifica o combate e as regras do intrincado wargame, destilando a brutalidade de seu universo em uma disputa de gato e rato por corredores estreitos e escuros. A inspiração em Aliens é óbvia até para o mais devotado servo do Imperador: soldados truculentos com armas pesadas encarando alienígenas de couraça negra que emergem de dutos de ar para matar e trucidar.

Space Hulk nasceu nas mesas, foi adaptado para os jogos eletrônicos em priscas eras e ressurgiu em tempos mais moderno, como as monstruosidades homônimas, ressurgindo do Caos para instilar o terror no coração dos mais árduos estrategistas. Não ignore o alerta: Space Hulk não é um título para triunfar sobre o sangue de seus inimigos e envergar a armadura dos Space Marines com júbilo, mas uma desgastante sequência de missões arbitrárias e traumáticas em que apenas a vitória importa e esta muitas vezes é obtida com sacrifício e paciência.

Entrei no jogo com uma mentalidade herdade de outros jogos de combate por turno, acreditando que preservar minhas unidades ou conduzi-las como uma força uniforme de um ponto ao outro do mapa seria a melhor estratégia. "Nenhum homem fica para trás" e "toda vida importa" são pensamentos de uma sociedade mais frágil e não tem lugar no futuro sombrio e distópico de Warhammer 40K. Em Space Hulk, são bravatas vazias que apenas conduzem à derrota.

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Em outras palavras, seus comandados vão morrer. Vão morrer muito. Sua blindagem corporal, que os transforma em tanques bípedes pelos corredores da nave maldita, tem a mesma eficácia de papel diante das garras dos Genestealers e cada confronto corpo a corpo é literalmente um rolar de dados em que os dados estão contra você. Mantenha seus inimigos longe, sob o fogo das metrancas ou morra clamando por vingança. O único consolo é que os personagens não morrem permanentemente e estarão todos disponíveis nos próximos mapas e missões. Em contrapartida, eles tampouco evoluem, não ganham habilidades novas ou novo armamento ou mesmo atributos melhorados. Nessa guerra, atributos não importam: um fracasso no combate é sempre morte certa.

Space Hulk não tenta esconder que é uma transposição fiel de um jogo de tabuleiro. Muito pouco contexto é oferecido para cada missão e os personagens tem pouca ou nenhuma personalidade em cena. São peças que você movimenta com pontos de ação em um tabuleiro dividido por quadrados. Se a dificuldade tática incomoda, resta a certeza de que, atendidos os parâmetros da missão, ela estará completada, mesmo que todas suas tropas restantes estejam em perigo de morte. Em alguns momentos, compensa largar tudo para trás e correr desesperadamente para o ponto de saída. Não há desonra na retirada, apenas na derrota.

Compreendidas as regras do jogo e alterada minha mentalidade, era apenas uma questão de controlar corredores com unidades de prontidão, mesmo que isso lhes custasse a vida no longo prazo. Enquanto isso, as unidades mais importantes ou indispensáveis cumpriam os parâmetros exigidos. Ainda assim, muitos foram os capítulos que precisaram ser repetidos, com diferentes abordagens, até atingir a glória da vitória.

Completei a primeira campanha com êxito. A penúltima missão exigiu o máximo de minha paciência. Space Hulk não é um jogo que recompensa apenas o raciocínio lógico e o posicionamento tático, mas também um título que lamentavelmente depende de fatores aleatórios. O número de pontos de ação extras liberados a cada turno é aleatório, a quantidade de inimigos que emerge de cada duto é aleatória, a movimentação dos Genestealers pelo mapa também é aleatória, o resultado dos tiros é aleatório. Se os Deuses do Caos conspirarem contra suas tropas, o destino será desagradável. Na minha penúltima tentativa, tudo parecia alinhado, mas um único confronto mal-sucedido condenou a equipe inteira na reta final.

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Entretanto, o Imperador protege e consegui vencer essa penúltima missão na minha sexta ou sétima tentativa, com um feito inesperado: sem nenhuma baixa. A mesma missão que arrancou meu sono foi finalizada de forma impecável, em uma mistura de experiência, movimentação tática e sorte que não tem explicação sem a presença divina do divino em seu trono.

Ironicamente, a última missão da campanha não apresentou a mesma dificuldade daquela que a precedeu. Apesar de introduzir um novo elemento ao mapa, alternando os andares, foi concluída sem problemas na primeira tentativa.

Space Hulk conta com uma segunda campanha e não tenho certeza se faz parte do jogo original ou se eu tinha algum DLC comprado. Essa segunda campanha conta com apenas três missões, mas confesso que falhei na primeira. Apesar de múltiplas investidas, não consegui decifrar seu enigma. O tempo passou e terminei perdendo o interesse de concluir a nova campanha.

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Nesse meio tempo, Space Hulk desapareceu do Steam e não se encontra mais disponível para venda, por motivos inexplicados. Porém, fazendo jus ao seu universo, a franquia jamais morre. Um novo título batizado de Space Hulk Tactics, emergiu em 2018 e segue aguardando novos jogadores. Sob o comando de uma nova desenvolvedora, o novo título flexibiliza o jogo de tabuleiro e acrescenta customizações de unidades, novos equipamentos e habilidades que podem ser desbloqueados, além de levar os gráficos a um nível vastamente superior.

A ameaça nunca termina.

Ouvindo: Cutthroads - Stop Lookin' at Me

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