Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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22 de novembro de 2019

Senhor do Castelo

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Quando recebi a notícia da morte do meu pai, saí de casa com três peças de roupa catadas ao acaso no armário, cartão do banco, um celular e mil perguntas sem resposta. Quase dois anos depois, esse ainda é um baú dificil de se abrir.

No celular, que teoricamente pertence ao meu filho, mas na prática é usado por mim, havia um único jogo. A falta de praticidade da Play Store me irrita profundamente: de cada 10 jogos que eu escolho instalar, cinco realmente instalam. Dos cinco, dois não abrem, dois só funcionam com uma conexão dedicada à internet. O que sobra será o jogo da vez. Naqueles dias, o jogo da vez era Castle Doombad.

O título é ou era um Tower Defense onde controlamos um vilão que sequestrou uma princesa em seu castelo e um exército de aventureiros tenta invadir o lugar para o resgate. Construindo armadilhas ao longo dos diferentes andares, nossa meta é simples: impedir que eles alcancem a refém e, caso alcancem, impedir que saiam com vida. O charme e o desafio do jogo cativaram a mim e a meu filho, que nos alternávamos em desbloquear novas fases, sinistras armadilhas e servos hilários, assim como trocávamos estratégias de ação.

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Porém, naqueles dias, eu estava mais sozinho do que jamais estive. Apenas eu e minha mãe em uma casa vazia onde faltava um. Eu precisava organizar uma estratégia para frear as emoções para operar de uma forma minimamente controlada para cuidar de tudo que precisava ser feito: havia um funeral a ser feito, pessoas para entrar em contato, objetos para descartar, uma história para recriar. Conversas, lembranças, soluções, promessas. Ausência.

Nas horas vagas, e havia muitas, meu refúgio era Castle Doombad. Meu corpo estava à beira da exaustão de tanta coisa que havia sido feita, minha mente indócil, o sono escasso. E ainda assim havia intervalos a serem preenchidos. Nesses intervalos, eu repelia a invasão. Não importava quantas vitórias eu obtinha, o inimigo retornava, o dedo deslizava para o botão de uma nova partida, novos mapas abriam. Erguia minhas defesas para não enlouquecer, enquanto os minutos escoavam. De alguma forma, naquela pequena tela, estava vencendo o jogo.

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Não parei até completar tudo que havia para ser completado. E continuei jogando as mesmas fases, de diferentes formas. Era necessário impedir a inexorável marcha do destino. Entreguei Castle Doombad para meu filho, dias depois, com tudo liberado.

Completado esse ciclo, não retornei mais a Castle Doombad. Outros títulos vieram, apesar das limitações da Play Store, mas nenhum Tower Defense tão bom. Obrigado, Dr. Lord Evilstein.

Ouvindo: The Good, The Bad & The Queen - Green Fields

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