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8 de agosto de 2019

Jogando: Ys Origin - Conclusão

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Ys Origin entrou na minha tela pela força do acaso e pela generosidade de um amigo. E foi se chegando, de mansinho: virou uma série no YouTube documentando minha árdua travessia, deu nome ao meu notebook, era minha janela para um mundinho mágico simpático e cativante.

As aventuras de Yunica conquistam não pelos seus gráficos retrô ou pela sua história repleta de clichês de animes japoneses ou pela trilha sonora que acaricia os ouvidos do momento que se abre o jogo até as frenéticas batalhas com chefe. Esse é um jogo que remete a um tempo de jogos mais simples, com comandos mais simples mas não menos desafiadores, em que os vilões são a pura representação do mal e comandam uma legião de aberrações e o jogador luta por um bem maior, sem dúvidas ou reviravoltas sobre a pureza de seus propósitos. Em essência, Ys Origin é um conto de fantasia, de deusas e demônios, de bravos cavaleiros, valentes monges, ignóbeis inimigos e monstruosidades bestiais em uma arquitetura épica. Infantil, diriam alguns, mas um sopro de leveza após tantos anos de heróis cínicos e amargurados enfrentando situações moralmente cinzentas.

No horizonte do Santuário, o último refúgio voador de uma Humanidade outrora nobre, mas agora em fuga, uma ameaça se ergue. Uma torre maligna, como que uma Torre de Babel, se levanta do solo conspurcado por demônios e ousa se aproximar da pureza intocada dos humanos. As duas deusas que ergueram Santuário nos céus e protegem seu povo, desaparecem sem deixar vestígios e cabe a um seleto grupo de cavaleiros e magos retornar para o solo, explorar a torre maldita e tentar descobrir o paradeiro das divindades. Entre esse grupo, está a valente mas inexperiente recruta Yunica Tovah, a mais jovem de uma tradicional família que sempre deu sua vida pelo Santuário.

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Jogo só tem cara de fofo: os personagens não economizam nas interjeições e nos palavrões!

É claro que iremos controlar a jovem e iremos desbravar esse mundo hostil, essa torre de horrores, pelo seu olhar imaculado. É claro que será nossa mão que irá conduzir a moça da condição de alguém que nem deveria fazer parte dessa missão suicida para alguém que irá salvar a todos, amadurecendo como guerreira, amiga e até mesmo filha. Mais do que nos apresentar a origem desse universo, Ys Origin nos conta a ascensão de Yunica, uma jovem que carrega a maldição de não ser capaz de usar magia em um mundo onde isso é comum a todos, mas que irá compensar sua "deficiência" com determinação de ferro e uma profunda devoção pelas deusas.

Nessa trajetória, crescemos juntos, superando desafios progressivamente maiores e sentindo essa evolução de uma forma quase palpável. Quantas vezes não falhei diante de um chefe supostamente inexpugnável apenas para arrancar a vitória com suor e concentração absoluta em uma terceira, quarta tentativa? Nesse sentido, Ys Origin não abusa da dificuldade: se o nível Normal foi demais para mim, o jogo oferece um modo Easy e até um Very Easy. Se um chefe parece impossível, bastava grindar um ou dois níveis para a balança da batalha virar completamente. Para os veteranos de RPGs de ação, com reflexos absurdos e controles precisos, também é possível ampliar a dificuldade e completar a aventura desbloqueia novos e mais insanos modos de desafio.

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Apesar do charme principal estar presente nessa história e em seus personagens, o combate em Ys Origin é empolgante. Para os veteranos, há os combos. Para os novatos, como eu e, por que não dizer, a própria Yunica, há ataques matadores que podem ser abusados e utilizados ao lado da indefectível esquiva. Enviar uma fênix de fogo e correr se tornou minha rotina semanal para o jogo, uma tática só substituída perto do final por outro ataque exagerado e eficiente. Com uma grande gama de inimigos de todas as formas e tipos de ataque, mesmo um título onde cada milímetro precisa ser conquistado com luta se torna divertido.

O espaço da Torre não foi feito para fazer sentido, mas para se encaixar na narrativa. Em um andar temos nosso caminho quase todo submerso, apenas para encontrar um andar tomado pela lava logo em seguida ou outro onde areias movediças escondem monstros imortais. Coerência não significa nada em um mundo mágico e os designers capricharam para encher meus olhos de deslumbre, usando gráficos que deveriam ser simplórios para os padrões de hoje mas que impressionam em seu detalhismo. A pequenina Yunica fica ainda menor diante de uma arquitetura colossal que se estende até os céus e o jogo sabe disso. Não por acaso, a maior parte das telas que capturei não são de sequências de ação, mas de momentos de contemplação do cenário e sua simetria.

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Quando sobem os créditos e a música em Ys Origin, vem comigo a sensação de uma jornada bem percorrida, de uma missão completada com louvor, não de despedida. Sei que esses personagens, que esse mundo, continuam após a desinstalação, seja nos protagonistas desbloqueados após a vitória de Yunica, seja através dos incontáveis títulos que fazem parte da franquia. Esse é o ponto de partida, não o ponto de chegada, mas Ys Origin fecha de forma tão perfeita, uma mistura de desafio concluído e sereno epílogo, que sei que irei precisar de um descanso antes do retorno.

Ouvindo: Nick Cave - Loverman

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