Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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7 de março de 2017

Jogando: Stories Untold

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(originalmente publicado no Gamerview)

Stories Untold não é "Stranger Things", por mais que o marketing bata nessa tecla.

Stories Untold não é um adventure de texto, por mais que pareça muitas vezes.

Stories Untold não é uma viagem nostálgica aos anos 80, por mais que contenha elementos estéticos dessa década.

Stories Untold tampouco é um jogo de horror, ainda que você leve sustos e tenha sensações desagradáveis na espinha.

A grande verdade sobre Stories Untold é que ele não é nada do que parece ser, o que o torna desde já uma das maiores surpresas de 2017 e também torna essa análise um exercício acrobático para fugir de qualquer detalhe que possa estragar a sua experiência por revelar demais.

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Então, por onde começamos?

O pôster usado como capa do jogo foi desenvolvido por Kyle Lambert, o mesmo responsável pela arte gráfica da série da Netflix. Isso, mais a inserção de vários elementos dos anos 80 facilitaram a suposta ligação entre Stories Untold e "Stranger Things", mas as semelhanças começam e terminam por aí. O primeiro jogo da No Code guarda um grau de parentesco até mais forte com Alien Isolation: Jon McKellan, um de seus criadores, trabalhou na produção do título da Sega antes de fundar sua própria desenvolvedora. Ele trouxe consigo a atenção minuciosa à reconstituição de objetos e ambientes do início dos anos 80, assim como os efeitos visuais.

Stories Untold é uma versão ampliada de The House Abandon, um experimento gratuito desenvolvido por McKellan antes de virar um jogo completo. O projeto foi bancado pela Devolver Digital, uma rara produtora que não tem medo de apostar no inviável e provocar a indústria, seja em termos de marketing, seja em termos de títulos nos quais ninguém mais investiria.

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Dividido em quatro episódios, o jogo subverte o que se espera de um adventure de texto, subverte o que se espera de uma narrativa e até mesmo subverte a relação entre jogo e jogador: ele está te contando casos perturbadores e sua intervenção se dá em um nível bem diferente do que você estava esperando. Em alguns momentos, você será sujeito da ação, em outros um espectador e em outros será ambos. Através de séries de tarefas, que às vezes beiram o impossível (eu tive que aprender Código Morse em uma delas) ou o enfadonho, ele te insere em situações das quais você nunca tem o controle absoluto.

Seu destino está selado, aperte os cintos e prepare-se para o impacto. Aprecie a trilha sonora em sua descida (ou ascensão, depende do ponto de vista).

Agonia e Método

Como todo título experimental, Stories Untold não é indicado para qualquer um. Se você não tiver um bom domínio do Inglês, para ouvir, ler e, principalmente, escrever, é melhor nem se aventurar, já que não há localização e a narrativa é fortemente amarrada pela compreensão do que tem que ser feito e como tem que ser feito.

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Mas, ser metódico é outra condição imprescindível para atravessar os episódios. Em muitos deles, você terá que repetir atividades que vão se tornando progressivamente mais complexas, são quase testes psicotécnicos e é bem provável que você trave em vários momentos, o que acaba prejudicando o ritmo da trama. Se seu trabalho do dia a dia consiste em seguir instruções com precisão e depende de um fluxograma para progredir, irá se sentir bem à vontade. Caso contrário, pode acabar avaliando mal o jogo.

Por outro lado, apesar das instruções, Stories Untold não é um jogo que te pega pela mão e te guia pelo enredo. Na verdade, ele oculta detalhes, o que pode levar à frustração. Mas explorando as telas e pensando fora da caixa, você consegue superar os desafios. Então, se você também só sabe seguir instruções e não é muito dado à improviso, novamente pode acabar avaliando mal o jogo...

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O capítulo final amarra todas as mecânicas anteriores e libera de forma quase catártica tudo que você aprendeu até aquele momento. Não que a conclusão traga qualquer tipo de alívio: agonia é a tônica do jogo.

Quando sobem os créditos e o Steam aponta sua Conquista, você se questiona sobre o que foi tudo isso que aconteceu. Um gosto metálico aparece na boca assim como a sensação de ter passado por um marco nos jogos eletrônicos, ainda que aos trancos e barrancos, ainda que possa ser esquecido mais à frente. Todo seu ódio pela interface (e você irá odiar a interface, acredite) some como mágica. E, talvez, você tenha finalmente a resposta sobre se o meio é Arte ou não.

Ouvindo: Wumpscut - Schaebiger Lump

4 comentários:

disse...

Esse jogo diz barbaridade sobre como o "jornalismo" de games funciona: a empresa lançou o press release dizendo que é o "stranger things game" e os portais copiaram e colaram sem nem jogar o jogo. Se tivessem jogado 5 minutos veriam que não tem nada haver e não propagariam isso. Mas que grande portal de jogos tem tempo para jogar as coisas que fala, não é?

Shadow Geisel disse...

Bateu a vontade de jogar só de ler (e de saber que o nível de detalhes nos cenários chega perto do insuperável Alien Isolation). Se não me engano, esse jogo estava gratuito na PS Plus ano passado. Se me engano, vou procurar na Steam quando o preço for conveniente (e se meu note rodar, claro). A propósito, ótimo texto Aquino.

Shadow Geisel disse...

Sobre Stranger things, é uma série Ok, mas passa muuuuuuuuito longe de justificar todo o auê que fizeram em cima dela. A história não é original, mas acho que serve pra apresentar a nova geração à ficção científica. É uma série interessante, mas não aconselho ninguém a sair correndo pra assistir. Tem coisa melhor na Netflix. Pros mais velhos, da época de Além da Imaginação e Arquivo X, não acredito que seja sequer digna de nota.

Loris S. disse...

Oi Shadow Geisel! Acho que ele não foi lançado pra PlayStation, mas está por 19.90 no GOG!

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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