Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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15 de outubro de 2013

(não) Jogando: Fez

Sou da teoria de que é possível (e até recomendável) separar o artista de sua obra. Por este princípio, consigo aceitar a grandiosidade de um Ender's Game, mesmo sem engolir a homofobia grotesca do autor Orson Scott-Card, por exemplo. É o que me dá a liberdade também de criticar a produção artística de uma pessoa gente finíssima. Pelo mesmo motivo, separo Fez de Phil Fish, por mais complicado que isto seja.

Fez

Muitos poderiam afirmar que Fez É Phil Fish em estado puro. Em Indie Game: The Movie, testemunhei suas agruras para completar sua única obra e a imensa carga de hype que a acompanhava. Por meses, ansiei por ver o jogo sendo lançado para PC. Ignorei a longa lista de idiossincrasias de seu autor para desfrutar do jogo sem nenhum julgamento prévio. Tarefa quase impossível, sou obrigado a admitir. Há um misto de genialidade, empáfia, ingenuidade, amor hipster pelo retrô e amadorismo embutidos em Fez que o tornam um auto-retrato eletrônico de seu criador.

E eu odiei Fez. Foi um longo preâmbulo para uma conclusão simples.

Acredito que Phil Fish seja um verdadeiro apaixonado por sua arte, no sentido que se entrega de corpo e alma às suas ideias. E acredito que ele não mereça tanto ódio por suas declarações equivocadas. Talvez, para este desenvolvedor indie, um pouco do gerenciamento de marketing de uma produtora não faria tão mal assim.

Mas não consigo defender Fez.

Fez

A primeira impressão do título é fantástica: um mundo mágico pixelizado com cores vibrantes e uma dinâmica única que logo se revela: a possibilidade explorar o 3D como uma mecânica da própria jogabilidade. O sopro de genialidade está aí. E, lamentavelmente, cansa em pouco tempo.

O que temos a seguir é uma sucessão de buscas por peças de um quebra-cabeças colossal por paisagens que pouco acrescentam ao deslumbre inicial. A possibilidade de exploração oferecida a este coração faminto por novos horizontes esbarra em paisagens modestas, de pouca extensão, com pouca coisa para descobrir, mínima interatividade e interligadas por um dos menos práticos mapas já vistos em minha vida.

Fez 

Ainda que sair por aí sem rumo seja um dos prazeres que extraio dos jogos eletrônicos, coletar objetos idênticos escondidos nos mais inalcançáveis patamares não se encaixa na minha definição de diversão. Gosto de coletar coisas de forma quase compulsiva, mas não de forma obrigatória. As bandeiras de Assassin's Creed, as ostras de San Andreas ou os troféus do Charada sabem muito bem dessa minha característica. Mas, em Fez, ou você coleta os cubos ou não avança.

Obviamente, o foco em Fez é esta exploração. Phil Fish já deixou isto bem claro. E é impossível morrer no jogo: mesmo que você caia no vazio, irá retornar para o ponto de onde saltou. Entretanto, não é impossível ficar frustrado. Como que para provar que seu título merece estar no mesmo patamar de um Super Meat Boy, seu criador adicionou uma dificuldade galopante ao que poderia ser uma experiência contemplativa ou baseada somente em puzzles. Meu filho e eu chegamos a um ponto em que cinco minutos de pulos falhos já provocavam irritação. E este é um bom resumo das últimas três sessões de jogatina: abre Fez, erra uma sequência de saltos em plataformas que giram, emite grunhidos e resmungos, vira para o outro e diz para trocar de jogo. Por que nós sabíamos o que havia depois daquela sequência de pulos. Haveria outra sequência de pulos, outro micro-mundo muito parecido com aquele, outro cubo.

Fez

E de jogos com curvas de dificuldade, estamos calejados: Toki Tori, Gunman Clive, Billy Hatcher and the Giant Egg, o chefe final de Sonic 4: Episode 1. Mas em cada um deles, havia como que uma mola a nos impulsionar para frente, mesmo quando o que havia na frente era um muro onde esmagávamos nossa face. Em Fez, esta mola não estava lá.

Ouvindo: Diggi Dis - Wood Striking Partita (Main)

4 comentários:

Vilas Boas disse...

Concordo em tudo, menos no "ficar frustado", bem... na verdade é que achei o jogo tão enfadonho que nem tive tempo de saborear a frustração!

Único momento em que tive certo deleite ao jogar Fez foi ao descobrir como seria a mecânica do game, sempre rotacionando o mundo em busca de atalhos, saídas e entradas; após uns 5min já tinha me cansado!

Baseado nesse exemplo é que enxergo pelo menos 1 vantagem na pirataria, Fez preferi (ainda bem) baixar para testar e caso gostasse compraria (sim, todos meus jogos na STEAM eu comprei depois de testar!) Fez agora está custando R$16,99 na STEAM... não pagaria nem R$2,50!

Gledson A, disse...

"[...]E é por essas e outras, crianças, que nunca devemos comprar um jogo overrated."

=P

Tais disse...

Nossa, nunca imaginei que veria Super Meat Boy e Fez num mesmo parágrafo. Ainda mais porque, na grande maioria do tempo - se não todo-, a dificuldade surge de fatores super distintos - tão distintos que não vejo como compará-los. Idem com Toki Tori. Faz tanto sentido quanto comparar Dark Souls com SMB, simplesmente por ambos serem difíceis.

Quanto ao resto, bom, saber que alguém detestou Fez assim provavelmente me dá a mesma sensação de quando digo a alguém que nunca joguei/me aprofundei em franquias mainstream. Gostei muito de jogá-lo, apesar de ser cansativo depois de um tempo.

Marcos disse...

eu gostei de FEZ, mas não é o tipo de jogo que me interesso em jogar de novo, é realmente muito frustrante errar pulos no jogo e a sensação compulsória de coletar pedaços de cubo deixam o jogo muito desgostoso de jogar

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