Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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3 de novembro de 2012

Jogando: Toki Tori

Toki Tori - Forest

Toki Tori é um instrumento de tortura desenvolvido nos porões da Ditadura e abandonado por ser cruel demais para as finalidades propostas. Encontrado lacrado em uma caixa com selos de advertência, um funcionário da Two Tribes resolveu lançá-lo para quase todas as plataformas criadas pelo Homem e trazer o Apocalipse à Terra. É a única explicação que eu consigo encontrar para sua gênese.

Não se deixe enganar pela aparência infantil e delicada de seu protagonista, um simpático pintinho gorducho que precisa encontrar seus irmãos mais novos, ainda no ovo, espalhados pelo mundo. Este ser possivelmente ouvirá mais palavrões saindo de sua boca do que um juiz de futebol em dia de decisão.

Porque Toki Tori é um jogo difícil até a raiz da alma.

Toki Tori - Sewers

Comprei o jogo iludido pela simpatia do personagem principal, acreditando ser uma experiência agradável para se passar entre pai e filho. Neste ponto, não me enganei. Tanto nas músicas quanto no colorido das diferentes fases, Toki Tori transborda doçura. Mas é tudo um contrapeso para alguns dos enigmas mais complexos e insanos jamais criados. Cada fase tem um número determinado de ovos espalhados, alguns deles aparentemente inacessíveis e outros protegidos por criaturas que matam o pintinho ao menor toque. Para auxiliar nesta tarefa, o herói emplumado tem um conjunto de poderes que precisam ser ativados na ordem certa, no lugar certo e, ocasionalmente, até mesmo na hora certa. Seu cérebro será espremido, sua frustração conhecerá novos limites.

Para minha felicidade, Toki Tori, descontando a dificuldade, é um dos poucos títulos que meu filho conseguiu jogar sozinho, sem nenhuma ajuda. Ele senta em frente ao computador, troca de poderes, aciona, movimenta o personagem, resolve alguns enigmas. As primeiras fases são maravilhosas para ele, de uma simplicidade agradável. Depois, o desafio começa para valer. Mas se eu mostrava a solução, o garoto sempre conseguia repetir, mesmo dias depois. Meu filho e eu quebramos a cabeça por horas a fio em algumas áreas e acho que foi uma excelente escolha para ele desenvolver o raciocínio; algumas sacadas que nos levaram à vitória vieram dele. Para amenizar a pancada, os desenvolvedores colocaram um mecanismo de "rebobinar" suas ações: se você tomou uma linha de raciocínio errada em sua busca, é possível voltar atrás no tempo e desfazer o que foi feito. Até hoje, se algo dá errado em algum outro jogo, meu filho pede: "rebobina!".

Toki Tori - Castle

Depois de dezenas de tentativas frustradas, apelávamos para uma solução no YouTube. Meu queixo ia para o chão em certos momentos e eu pensava: "nunca que ia pensar nisso". Mas, na maioria das vezes, dava uma raiva ainda maior por ver que a solução estava próxima de minha cara. Mas meu filho começou a desanimar do jogo lá pela metade, quando o nível do desafio já estava insuportavelmente alto e passou a pedir para ver "o cara fazendo". Importantes momentos para lições de moral como "nunca desistir", "só tem valor se for por seu próprio mérito" e "espere a hora certa para usar a arma congelante".

Mais de dois meses depois, com os nervos em frangalhos e 30 horas contabilizadas neste "título casual", atingimos a cena final de Toki Tori. Um riso nervoso me sacudiu por dentro diante da ironia exibida na cutscene, mas me controlei. E, como uma GLaDOS perversa, o final não é o final, naturalmente. A versão Steam do título vem com uma fase extra, criada especificamente para o lançamento de Portal 2. Há um novo poder liberado para o pintinho e um punhado de novos níveis, com uma arquitetura inspirada na Aperture Science e até a maligna Inteligência Artificial no fundo de um deles.

Toki Tori - Aperture

Para os que tem sede masoquista de desafios, além dos níveis normais de Toki Tori, existem também os níveis Hard e Bonus (desbloqueado somente se você entrar para a Comunidade Steam do jogo). Completamos o modo Normal, usamos a carta coringa para pular um nível, fechamos a maioria dos Hard e Bonus. E sentimos que já deu o que tinha que dar. Estranhamente, jamais consegui ativar o editor de níveis, o que sempre provocava o travamento do meu computador inteiro!

Se você se acha o mestre dos puzzles só porque terminou Portal ou Portal 2 em algumas horas, considere-se desafiado. Toki Tori pode não ter história alguma ou mesmo personagens, além do mudo e talvez homônimo galináceo roliço. Mas deixaria Chell chorando em um canto, pedindo bolo.

Pontos positivos de Toki Tori: complexidade, cores vibrantes, muitos níveis para experimentar. Pontos negativos de Toki Tori: a música irrita depois de um tempo, alguns desafios são praticamente impossíveis, o editor de níveis trava o computador. Nota final: 7,5.

Ouvindo: Combichrist - I Want Your Blood

7 comentários:

Gyodai disse...

Tenho esse joguinho por ter comprado um daqueles bundles de final de ano do Steam. Joguei um pouco pra conseguir completar uma das conquistas do ano passado, que davam aqueles pedaços de carvão que poderiam ser trocados por prêmios. Acho que eu nunca xinguei tanto uma criaturinha tão simpática em um jogo (tirando os Lemmings, lá por 1992). Realmente, é um jogo que atinge altos níveis de frustração em determinados pontos, principalmente se você é do tipo "caçador de conquistas".
Aquino, você já pensou em jogar Out There Somewhere com o seu filho? É um jogo curto e que exige mais coordernação e habilidade que raciocínio nos puzzles. E acho que ele ia curtir o lance espacial do jogo.

Shadow Geisel disse...

E o pintinho? Piu! kkkkkkkkkkkkkk

Shadow Geisel disse...

falando sério agora: impagável a sua experiência de pai e filho gamer.
Computador: R$600,00.
Download de jogo: U$10,00
ser escravizado por um pintinho suicida: NÃO TEM PREÇO...

agora sim, falando sério: sou um total desastre em jogos de puzzle. não que eu não consiga resolvê-los. jogos como portal, silent hill, Castlevania lords of shadow mesmo eu encaro na raça, sem ajuda de youtube ou ninguém (não que isso seja demérito pra ninguém, simplesmente tira a diversão para mim, então ou consigo sozinho ou paro). o problema é quando os desafios exigem tempo cronometrado ou muita rapidez de raciocínio. sou meio preguiçoso e gosto de ter tempo para analisar... refletir... ver a coisa por outro ângulo.
mas vc faz muito bem em acostumar o menino a lidar com esse tipo de desafio. faz um bem danado pro raciocínio e criatividade em geral aprender com algo que gosta.
mas acho que depois dessa, Aquino, quando o seu pimpolho tiver mais coordenação pra jogos mais complicados em jogabilidade, ele vai achar Portal 4 fácil demais rsrsrs.

estacado disse...

Desconheço esse jogo, a não ser pelas vezes que vi o Aquino jogando no Steam e pensava "Deve ser algum joguinho pro filho dele, coisa de criança". Pelo jeito, de criança só o visual hehe

Hoje em dia cada vez mais os jogos mudaram o efeito e dificuldade, ao meu ver, comparando com o que foi lançado no início dos ano dois mil; sempre me pareceu que os jogos decairam nesse quesito de dificuldade "inteligente" e abordaram somente a tecnlogia de gráficos e afins, claro, existem as ressalvas. Talvez, e eu digo isso no maior achismo da minha vida, que seja uma "volta" aos padrões dos games da época snes e afins, onde você tinha uma dificuldade crescente e sólida, alem de um visual garantido (para os padrões da época). Ou não.

Acho bacana quando tu fala que passa tempos jogando com teu filho, ainda não tenho o/a meu/minha; mas provavelmente cairá pra esse lado,

Quando ele vai estar apto pro Killing Floor? haha

Breno disse...

"Se você se acha o mestre dos puzzles só porque terminou Portal ou Portal 2"

Coitado da pessoa que acha isso! Portal não tem puzzles dificeis.

Anderson disse...

Esse foi eu primeiro jogo no Steam e até hj acho q não terminei todas as fases. Vo ver se crio coragem pra fazer os 3 achievements q faltam.

César disse...

Muito boa a resenha! Comprei este jogo também em um bundle qualquer e pouco toquei nele, não imaginei que fosse tão complexo assim... Não podemos julgar o livro pela capa MESMO, hehehehe.

Parabéns!

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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