Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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19 de outubro de 2013

Jogando: Proteus

O que dizer de um jogo que já foi pejorativamente chamado de "protetor de tela interativo"? De fato, Proteus pode muito bem ter extrapolado os limites do que conhecemos como jogo. E é justamente essa definição elástica de "jogo" que torna o meio tão interessante: existem experiências solidamente calcadas na habilidade do jogador, sejam seus reflexos ou seu raciocínio, e existem experiências como Proteus, quase que puramente contemplativas. Se a sua definição de "jogo" não embarca este título indie, quem sou eu para censurá-lo?

Proteus 08

Discussões à parte, o que é Proteus, afinal? É um simulador de passeio por uma ilha pixelizada gerada de forma procedural a cada partida. Você tem apenas dois tipos de controle: para onde olhar e para onde andar. Obviamente, é impossível morrer ou ser ferido. É uma imersão de pura tranquilidade, descoberta e relaxamento que dura no máximo uma hora e com um replay value que tanto pode ser infinito quanto nulo.

Instalei o jogo como um exercício de liberdade para meu filho, que gosta de sair por aí em open worlds, frequentemente nos colocando em apuros maiores do que nossos personagens conseguem lidar. Imaginei, com razão, que os gráficos nada realistas não seriam um impasse para ele. Temi injustamente que a aparente falta de um objetivo talvez o cansasse. Nos primeiros minutos ele me perguntou "qual botão pula" e "onde atira", mas depois o simples encantamento da exploração tomou conta da brincadeira e saímos pela ilha gerada procurando estranhas e sonoras formas de vida.

Proteus 05 Proteus 09 Proteus 02

Para os desavisados, existem objetivos em Proteus e é até possível "vencer" o jogo. Se você estiver no lugar certo na hora certa, conseguirá mudar as estações do ano na ilha. Você começa na Primavera, migra para o fulgurante Verão, para o desolado Outono e encerra sua jornada no sombrio Inverno. Sabendo o que fazer, dá para atravessar as quatro fases em 40 minutos ou menos. Embora, essa correria seja o exato oposto da proposta original...

Proteus 14 Proteus 03

O grande trunfo de Proteus, que lhe valeu alguns prêmios, é a trilha sonora adaptativa. Suave, envolvente, ela se altera dinamicamente de acordo com o que você descobre na ilha (sejam animais, monumentos ou lugares estranhos) ou para a direção onde você olha. É um título focado em sensações, não em realizações.

Proteus 10

No dia seguinte, meu filho pediu outra sessão de Proteus. No Inverno, já tinha perdido todo o interesse antes do fim. Infelizmente, é um protetor de tela interativo com poucas novidades de um dia para o outro. Tanto meu filho quanto eu estávamos de olho em descobertas, ansiosos pelas surpresas que poderiam se ocultar na nova ilha e não fomos atendidos. Não entendemos a proposta. Nos despedimos. Com alguns cartões postais na lembrança.

Ouvindo: Second Come - Shower

6 comentários:

Eder R M disse...

"O que dizer de um jogo que já foi pejorativamente chamado de "protetor de tela interativo"? "

Achei que fosse Dear Esther. Hahah. Comparações nesse caso serão inevitáveis para mim.

Eu achei a proposta do Proteus mais a ver com o meio (jogos virtuais) do que o Dear Esther, que essencialmente poderia ser um conto, ou uma novela. Claro, tem um certo elemento "random", mas essencialmente o que move o "jogo" é a história.

Em Proteus é simplesmente o elemento da exploração o que o move. E o passar das estações dá uma boa sensação de passagem de tempo, e talvez até mesmo de ter atingido algo. Enfim, foi o que senti.

Mas jogos como Proteus, Dear Esther, To the Moon e Stanley Parable, no mínimo, desafiam nossa percepção do que é um jogo, do que "deveria" ser classificado como interativo.

A reação do filho do Aquino é emblemática: temos arraigado dentro de nós que, se não é possível pular nem atirar, não é interativo, não é um "jogo".

E essa percepção tão... discutível, creio eu, levou á "morte" os point and click. Mas, felizmente, estamos "amadurecendo", arrisco dizer, e questionamentos sobre o que definem interatividade são cada vez mais difundidos hoje em dia.

E digo também que essa percepção de "pular e atirar" seja discutível porque, afinal de contas, também vivemos em uma época em que experiências de hand holding são cada vez mais comuns. Jogos super lineares, com pop ups ou dicas toda hora, como que se, literalmente, o game designer pegasse sua mão e o conduzisse por um corredor dizendo "atire bem aqui", "pule ali" e tal. Jogos tão guiados que, por mais que você pule e atire, passam a sensação de ser pouco interativos, pois me sinto mais como um ratinho em uma experiência de laboratório do que em um undo virtual que eu possa ***explorar***.

Enfim, divago. ;)

Tais disse...

Zerei Proteus, embora só descobri como passar das estações lendo algum guia (hue), agora em fechá-lo mesmo foi sozinha. É uma ótima experiência se você consegue entrar na vibe do jogo - coisa que com certeza demorei pra conseguir. Acho que uma das partes mais interessantes era de como o céu mudava quando encontrei um círculo de estátuas.

Do que o jogo tem a oferecer, a única coisa que achei meio enjoadona mesmo foi a trilha da primavera.

Ah, não sei se você sabe, mas dá pra mudar algumas configurações escondidas do jogo que só aparecem após zerá-lo. Tipo modificar a duração de cada estação.

Vilas Boas disse...

Curioso é que lendo o 1° parágrafo entendi que o autor defendia o tal jogo (que eu odiei de cara, já previ que objetivos ali não haveria!).

Termino de ler o texto e me conformo em não baixar esse game e no final ter a mesma sensação de vazio do autor!

Vlw a dica! kkkkkkk

Shadow Geisel disse...

ficou a dúvida: ele é gratuito?

sobre o tal "transcender" conceitos, isso vai muito de necessidade de mercado. muitos jogadores reclamam de games que são tutoriais infinitos mas não perdem tempo quando têm a oportunidade de criar rótulos, por exemplo chamando um jogo como Heavy Rain de novela interativa (acho que eu mesmo fiz isso no meu blog, sendo que minha queixa com esse tipo de jogo é mais com o baixo fator replay que com o estilo).

Lucs disse...

não Shadow,ele não é gratuito,mas já apareceu num Humble Bundle.

Eu não gostei.Fiquei entediado com uns 10 minutos,mas dei uma chance,porque simplesmente não acreditava que o "jogo" não tinha nada mesmo("Não,antes de fechar eu vou esperar o jogo pelo menos começar").

Anônimo disse...

hora de atualizar o mural AQUINO.

by: Renan

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