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11 de dezembro de 2023

Eu Vi: Captain Laserhawk - A Blood Dragon Remix

captain-laserhawk-coverRolê aleatório. A expressão idiomática que surgiu em décadas recentes e grudou em Ronaldinho Gaúcho (uma característica por si só aleatória) nunca foi tão bem aplicada quanto nessa produção da Netflix de somente seis episódios. Sem quase marketing algum, a produtora Ubisoft soltou uma animação baseada não em uma de suas várias propriedades intelectuais, mas em todas elas ao mesmo tempo, tudo junto e muito misturado. É o Ubisoftverso virado em drogas, em cultura pop, linguagem chula e filmes B de ficção científica.

Captain Laserhawk - A Blood Dragon Remix parece uma fanfic desenvolvida por um fã de quinze anos, sem noção de consistência ou coerência. E funciona. Talvez funcione justamente por não seguir a fórmula pasteurizada de produto corporativo. Essa não é a Ubisoft conservadora, militarista e misógina dos noticiários, mas um feudo pseudopunk. A gigante se traveste de Devolver Digital e dá rédeas soltas para o anárquico produtor Adi Shankar. Rebeldia vende bem e a Ubisoft entendeu que pode lucrar dos dois lados da moeda.

O resultado disso é uma série animada lotada de palavrões, relações homoafetivas, violência explícita e críticas à mídia.

O icônico Rayman, depois de anos sem um novo título, ressurge aqui como um fracassado que aceita ser uma engrenagem do sistema, para logo se tornar um alcoólatra que provoca uma revolução com duas metrancas nas mãos. Eu queria estar presente na reunião de executivos da Ubisoft que autorizou esse uso. Eu queria ver a reação de Michel Ancel, em seu merecido refúgio

rayman

Enfim, os fofos Rabbids são monstruosidades extradimensionais, para horror da Nintendo. Todas essas referências se misturam com personagens oriundos de outras franquias, como o lendário Sam Fisher (Splinter Cell), um sapo humanoide seguidor do credo dos Assassinos, Pagan Min (Far Cry 4) reimaginado como um  afetadíssimo senhor do crime e Marcus Holloway (Watch Dogs 2) envelhecido. O termo "remix" não é usado gratuitamente no título.

Na linha de frente, temos o Capitão Laserhawk, o protagonista do já aleatório Far Cry 3 - Blood Dragon. Aqui, o ciborgue vive um tórrido romance homoerótico, é recrutado para uma espécie de Esquadrão Suicida e se revela a última esperança de uma sociedade controlada e manipulada pelos Templários.

Infelizmente, descontadas as doideiras, a série peca pela trama simplória e bastante linear. É a velha máxima da luta do bem contra o mal, de nobres combatentes da liberdade se levantando contra um regime opressor. Não há muita criatividade na concepção de nenhum dos dois lados, que apenas recicla elementos de incontáveis obras, sem um diferencial para chamar de seu que não seja somente a auto-paródia com as franquias da Ubisoft. A história não vai mudar a vida de ninguém e ainda promete continuar em uma segunda temporada. Captain Laserhawk - A Blood Dragon Remix carece da complexidade de um Arcane ou o impacto visceral de um Cyberpunk Edgerunners, para mantermos nossa comparação somente no universo de derivados de jogos eletrônicos.

Porém, se o enredo em si é frágil, Adi Shankar apresenta um visual que também é um rolê aleatório. Ao lado da animação tradicional (ainda que bastante estilizada), temos momentos que remetem à pixel art e à linguagem visual dos jogos eletrônicos, assim como momentos que empregam live action, simulando os antigos FMV, inclusive em sua baixa resolução.

captain-laserhawk-live

Salada: essa é outra metáfora que pode ser aplicada para Captain Laserhawk - A Blood Dragon Remix. É uma grande mistura de componentes diversos, bastante saudável, bastante saborosa, mas que não oferece a exata sensação de satisfação física. Faltou um pouco de conteúdo, um pouco de proteína.

Ouvindo: Funker Vogt - Date of Expiration

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