Meu conhecimento direto de Assassin's Creed parou no primeiro título, mas é impossível não saber os meandros da franquia, que passou a se integrar com a cultura dos jogos eletrônicos. Dito isso, ouso dizer que o longa-metragem de 2016 se esforça para entregar uma adaptação louvável e acaba funcionando na maior parte do seu tempo.
Seus méritos se apoiam mais em elementos que costumam ser negligenciados em outras adaptações. Primeiramente, a trilha sonora instrumental é muito bem executada e se encaixa nas cenas com precisão, adicionando profundidade e tensão extrema onde o roteiro não conseguiria sozinho. É importante notar também a plasticidade de algumas cenas e sua fotografia, ainda que o uso exagerado de CGI comprometa em alguns pontos. Então, com um visual intrigante e uma música envolvente, já temos meio caminho andando para uma imersão satisfatória. Embora, no começo e no final, alguém da produção insista em empurrar um hip-hop moderninho na sonoridade.
Os atores são competentes. Na verdade, são competentes até demais. Jeremy Irons é um monstro clássico do cinema que já teve papéis inesquecíveis, mas precisa pagar suas contas e deve ter um agente horroroso, porque já participou de Dungeons & Dragons e Eragon e agora está aqui, praticamente apagado na história. Marion Cotillard é uma das raras atrizes que consegue passar emoções pesadas com um simples olhar e certamente é a única que aproveita bem a brecha que o filme lhe dá, embora seu grande momento aconteça somente no final, abrindo caminho para uma continuação que nunca virá.
Entretanto, o grande pecado do filme é desperdiçar Michael Fassbender como o protagonista Cal Lynch. Por mais conflituoso que seja seu personagem, suas elucubrações internas e sua evolução ao longo da história são tratadas de forma burocrática por um roteiro preguiçoso.
Porém, se você chegar em Assassin's Creed esperando boas sequências de ação, ou como bem sintetizou meu filho, "tem que ter parkour e tem que ter morte", o filme fica em cima do muro. Não há dúvidas de que o combate e a movimentação do filme são exemplares, porém, acontecem a conta-gotas em um filme que parece se conter.
Além disso, temos a inabilidade da edição. Por um lado, eles conseguiram combinar as cenas do passado com as cenas do presente, dando agência para o protagonista. Cal Lynch não se limita a ficar estático enquanto sua mente vaga pelo Animus, mas participa de cada combate através de uma parafernália móvel. Por outro lado, cada momento de ação é tomado por cortes frenéticos, essa mania do cinema moderno que desistiu de produzir boas coreografias. Quando o movimento dura mais que dez segundos, o filme brilha e a adrenalina sobra.
É questionável a decisão do enredo em se focar nos eventos presentes. A franquia Assassin's Creed sempre se marcou por trazer grandes tramas do passado, que aprofundam cada vez o mito do credo dos Assassinos e sua figuras icônicas. Aqui, Aguilla, o antepassado de Cal Lynch, é raso como um pires, diz meia dúzia de palavras e fica na sombra do personagem dos dias atuais. Para uma eventual continuação, o filme teria se colocado em uma enrascada: seguir os passos de Cal Lynch, sem mais nenhuma menção aos eventos históricos que marcaram a série? Adotar um novo protagonista e praticamente repetir a trama do primeiro filme? Ou capturar Cal Lynch novamente e privá-lo de sua importância?
Entre erros e acertos, Assassin's Creed transporta bem o espírito da franquia para as telas, entretem e prenunciava uma continuação ainda melhor. Entretanto, Hollywood é movida por fatores inexplicáveis e essa jornada termina por aqui mesmo.
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