Retina Desgastada
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4 de março de 2020

Jogando: Need for Speed: The Run

Need For Speed - The Run 01

Sou fã de narrativas, fui criado desde pequeno cercado de livros e filmes. Era o nerd que lia no ônibus da escola. Então, acredito que uma história melhora qualquer mídia e pode ter até um peso similar ao de uma boa jogabilidade. Acendo uma vela para Gabe Newell todos os dias por ele e seu time criarem uma história para um FPS e mostrarem que era possível (embora Strife tenha tentado antes e por mais que John Carmack defenda até hoje que o gênero não precisa).

Mas tudo isso é um preâmbulo para dizer que a história de Need for Speed: The Run é ruim demais. É vergonhosa. É o contra-exemplo de tudo que acredito. É uma extremamente inconveniente camada de atrito em um título cuja jogabilidade tampouco brilha. Era melhor não ter apresentado nada, como vários títulos da franquia o fizeram, do que oferecer esse arremedo de enredo.

Em The Run,você é Jack Carver, um viciado em velocidade que tem uma dívida com a Máfia e começa o jogo fugindo de uma execução em um ferro-velho. Para pagar essa dívida, ele topa participar de uma corrida que irá da Costa Leste à Costa Oeste dos Estados Unidos, com dezenas de outros corredores com personalidades ainda mais rasas do que a de nosso protagonista. Porém, enquanto os outros são nada mais do que fichas que aparecem na tela de carregamento e raramente sequer merecem uma cutscene, nosso menino no volante é um imaturo boa vida que eu mesmo gostaria de eliminar ao final do jogo e termina sua aventura demonstrando que não aprendeu nada com a experiência.

Need For Speed - The Run 02Need For Speed - The Run 03

A premissa de correr com um objetivo e atravessar um país inteiro dirigindo, com diferentes e desafiadoras paisagens, é excelente e seus desenvolvedores deveriam ter parado por aí. Seria um tempero interessante à fórmula de Need For Speed. Mas as cutscenes insistem em nos empurrar Jack Carver em diálogos constrangedores com sua patrocinadora, a inacreditavelmente exuberante Sam Harper. E pior ainda: The Run nos empurra para fora do carro, em sequências de ação com os infames quicktime events, em que precisamos fazer Jack pular, correr, fugir e sobreviver a momentos que seriam cinematográficos se não fossem ridículos. Não há tensão ou desafio nesses momentos, que estão ali apenas para prolongar nosso sofrimento e adiar o momento em que finalmente estaremos fazendo o que importa em um jogo de corrida, ou seja, pilotar carangas turbinadas.

Lamentavelmente, a falta de desafio das sequências fora do carro também está presente nos momentos dentro do carro. Não sou um ás do volante, já fui humilhado publicamente por jogadores melhores, Curto o gênero, mas não me garanto nele. E, mesmo assim, atravessei The Run de ponta a ponta com a tranquilidade de um profissional. Raríssimas foram as corridas que precisei refazer devido a falhas, inclusive a longa série de desafios da reta final.

Need For Speed - The Run 06

A última corrida é a última gargalhada dos desenvolvedores em cima de mim. Não apenas é uma corrida cansativamente longa como o adversário possui o dom mágico de te ultrapassar a mil por hora dois segundos depois que você passa ele. Não importando a velocidade que você atinja, o oponente te deixa pra trás como se você estivesse estacionado. Contando com o fato de que a maioria dos jogadores não termina campanha nenhuma e com a convicção de que, se o sujeito chegou até o final é porque ele é resistente a absurdos, o jogo ainda abusa da suspensão da descrença e coloca seu carro esportivo a correr pelas paredes de um túnel de metrô.

Admito, porém, que fugir de uma avalanche em uma pista montanhosa gerou um fluxo de adrenalina quentinho em meu sistema. Foi o único bom momento de toda a aventura.

Há pouca variedade de carros (e muitos precisam ser desbloqueados repetindo os mesmos desafios da campanha), zero opções de customização além da cor geral, um claro retrocesso aos bons e velhos tempos de Underground. Seu perfil evolui, mas isso significa ter acesso a novos avatares ou fundos de perfil.

Até mesmo a trilha sonora é uma pálida sombra de títulos melhores da franquia.

Need For Speed - The Run 05

Para complicar a rejeição, a EA já desligou os servidores online do jogo que guardavam dados dos jogadores. Ao contrário da divertida guerra fria que havia em Need for Speed: Most Wanted, em que era possível comparar meus tempos contra os dos meus camaradas no Origin, aqui corro solitariamente e o jogo insiste em falar que não encontrou dados para exibir. Não encontrou dados porque os servidores foram desligados, mas o jogo não foi atualizado para refletir isso.

Porém, os servidores de partidas multiplayer continuam funcionando, com meia dúzia de gatos pingados online ainda disputando campeonatos. Graças a uma inacreditável decisão de design, não é possível mutar ou reduzir o volume do microfone de nenhum jogador e apenas os mais masoquistas aceitam participar de corridas onde imperam a microfonia, estalos, músicas de fundo brigando entre si e diferentes línguas. Pelo menos aprendi que "RetinaDesgastada" fica bacana com sotaque turco. Ou seria hindu?

Need for Speed: The Run se torna assim um jogo que não deixa marca alguma por sua jogabilidade, mas traumas por sua narrativa. Por conta disso, me despeço dessa jornada (?) com apenas 7 horas marcadas no Origin, uma clara diferença em relação às 27 horas prazerosas em Need for Speed: Most Wanted, um título que não é perfeito, mas está quilômetros de distância desse aqui.

Ouvindo: Blur - She's So High

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