Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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18 de janeiro de 2011

(não) Jogando: The Lord of the Rings – Battle for Middle-Earth

Cover O que acontece quando você junta uma das melhores histórias já criadas pelo Homem, uma das melhores adaptações cinematográficas já produzidas e um time de competentes desenvolvedores da toda-poderosa EA Games? O resultado só poderia ser um jogo aclamado pela crítica, sucesso de vendas e que gerou uma continuação. Lamentavelmente, para mim, The Lord of the Rings – Battle for Middle-Earth é um retumbante fracasso.

Quanto mais títulos de estratégia eu experimento, mais eu me dou conta de que talvez eu e o gênero tenhamos uma diferença irreconciliável. Ainda que Age of Empires e Close Combat tenham entrado em minha lista de favoritos, pouquíssimos títulos depois disso sequer chegaram perto de me agradar. E este LOTR-BFME tinha todo um apelo certeiro para me cativar: as vozes originais dos atores da trilogia de Peter Jackson e sua semelhança física, sons originais, mapas ricamente bem produzidos, pequenos clipes dos filmes em larga quantidade. Como fã da versão cinematográfica e admirador de Tolkien, bastava pouca coisa para que o jogo também me conquistasse. E não conseguiu.

A maioria dos jogos de estratégia tem dois modos de jogabilidade: campanha e confronto rápido. O primeiro, eu abomino e sempre abominei. Nem o modo campanha de Age of Empires me agrada. Remover 90% das possibilidades de um título destes e colocar o jogador em uma situação onde ele precisa utilizar os 10% de ferramentas que sobraram para conseguir cumprir uma missão qualquer, não é a melhor forma de se contar uma história. "Tu és Hannibal, o Imperador, desprovido de seu vasto exército e chegando à região da Alta Caledônia com apenas dois camponeses e um arqueiro ferido; amplie seu poder capturando o Elefante escondido no cenário e tome a cidade". Insisto em dizer que jogos de estratégia não são o melhor meio de se colocar uma narrativa. E sei que se dizia a mesma coisa dos FPS nos anos 90. Mas, enquanto não aparecer um revolucionário capaz de criar algo nunca visto no gênero, por favor, não insistam em subutilizar o gênero para esta tarefa.

Sauron Ainda assim, eu testei o modo campanha de LOTR-BFME. Logo de início, você controla a Sociedade do Anel e precisa atravessar os subterrâneos de Moria. Só de imaginar a missão, meu sangue nerd gelou. Um momento histórico estava em minhas mãos. Entretanto, contrariando o próprio gênero, o jogo se comporta neste ponto como um RPG capenga. Temos aqui um título de estratégia que, em sua primeira missão, não possui recursos para administrar, não possui a possibilidade de convocar ou criar novas tropas e seus inimigos não possuem uma base ou controle de recursos tampouco, eles simplesmente estão por ali, no cenário, esperando seus heróis aparecerem. As batalhas são frenéticas, um mata-mata com pouco espaço para tática ou intervenção do jogador. A Sociedade do Anel luta muito bem sozinha, mas você precisa apertar um botão aqui e ali para que eles sejam curados ou usem este ou aquele ataque especial. Há muito mais estratégia em Baldur's Gate 2, que é, de fato, um RPG do que aqui. Os heróis evoluem com itens coletados no ambiente, mas não precisa de esforço para encontrar. De qualquer forma, o ambiente é tão pobre em detalhes que não daria para esconder nada. Sua visão é quase isométrica, mas não é possível girar a câmera, como se tornou normal dos anos 2000 para cá. Porém, seu campo de visão é típico de um jogo de estratégia, tão distante que é impossível distinguir um Hobbit de um Humano sem clicar no personagem. Eu não esperava muita coisa do modo campanha, mas mediocridade tem limite.

Pulei para o modo de confronto rápido. Na minha opinião, isto é o coração de um jogo de estratégia: 100% das possibilidades disponíveis de imediato em uma luta sem limitações ou firulas, exército contra exército, reino contra reino. Ao contrário de Age of Empires, The Lord of the Rings – Battle for Middle-Earth tem um número reduzido de mapas para escolher, um problema que atinge a maioria dos títulos do gênero. Ao contrário de Age of Empires, The Lord of the Rings – Battle for Middle-Earth tem apenas um único recurso para administrar, comida, o que é uma anomalia dentro do gênero. Se este simples fator já reduz significativamente a complexidade do jogo, o que dizer das lutas? É extremamente rápido atingir uma produção razoável de comida e lotar o campo de campanha de tropas em quantidades astronômicas. Seus desenvolvedores partiram do pressuposto que os fãs dos filmes adorariam ver vastos exércitos na tela se enfrentando e se esqueceram que a mecânica do jogo de estratégia clássico não necessita destes exageros, basta perguntar a qualquer aficionado por wargames, onde uma única peça representa um pelotão de tanques. O resultado é uma correria desenfreada para colocar a maior quantidade possível de soldados no front, sem muita preocupação com tipos de unidades ou posicionamento. Por que o inimigo ataca aos borbotões. Se meu estilo de jogo em Age of Empires é "relaxar e conquistar", com cada passo e evolução medido com cuidado, aqui vale a lei dos Zergs.

zerg-rush

Não posso julgar LOTR-BFME como um jogo ruim. Seu tutorial é excelente. Seu conceito de territórios conquistados desbloqueando poderes é uma boa evolução do gênero. Sua ênfase em batalhas rápidas, ferozes e constantes pode ter seu público, impaciente com a tradicional construção de impérios de outros títulos. Percebe-se um forte desejo de agradar os fãs dos filmes ao invés de roubar seu dinheiro e sair correndo, como grande parte das adaptações fazem. Mas... não me agradou.

Sigo procurando um jogo baseado em Senhor dos Anéis que eu possa gostar. Sigo procurando um jogo de estratégia que se encaixe no meu ritmo. Por enquanto, vou desinstalando The Lord of the Rings – Battle for Middle-Earth, enquanto me preparo para uma nostálgica sessão de Age of Empires amanhã e, talvez, o tão adiado teste de Age of Empires 2.

(avalanche de postagens: 2/14)

Ouvindo: Peter Murphy - You're So Close

4 comentários:

José Guilherme Wasner Machado disse...

Também nunca consegui me dar bem com nenhum RTS, já até desisti do gênero! Talvez algum dia eu dê uma nova chance, com algum da Blizzard.

Olha,ultimamente tenho visto muitos elogios na imprensa especializada ao The Lord of the Rings Online. E esse tem a vantagem de ser um RPG, ainda que MMO. Agora ele é gratuito, então quem sabe vale uma tentativa? Ele já recebeu três expansões interessantes, inclusive Moria e Angmar.

Segue o link: http://www.lotro.com/

Abraços!

Carlos disse...

Gosto de RTS. LOTR-BFME estava na minha lista de jogos futuros para 2011.

Estou jogando atualmente Starcraft 2 e em seguida pretendo experimentar o famoso-desconhecido RTS brasileiro Outlive!!

"enquanto me preparo para uma nostálgica sessão de Age of Empires amanhã..."

Isso me deu uma boa ideia... ahahah!

Marcos A. S. Almeida disse...

Estou afastado de jogos de estratégia desde que fechei Starcraft, o primeiro.Portanto, estou desatualizado no gênero.Mas tanto Starcraft quanto Age of Empires têm a mecânica tradicional dos RTS:coletar recursos,evoluir e atacar.Neste mesmo esquema, incluo Warcraft,Total Anihilation , Command & Conquer e Dark Reign.Frisando que são todos eles antigos ( Já fui muito fã do gênero).O único que fugiu á este esquema padrão foi Myth:The Fallen Lords, que tínhamos que administrar apenas os combatentes e não recursos, até receber-mos reforços para conseguir-mos chegar ao objetivo.Portanto, segundo sua análise, a "receita do bolo" continua a mesma.Á não ser que você esteja reclamando justamente disso...

C. Aquino disse...

Se The Lord of the Rings – Battle for Middle-Earth fosse fiel à receita, eu o jogaria com gosto! Pelo contrário, ao incluir apenas um único recurso, ele reduz seu potencial estratégico. E por despejar tropas na tela aos borbotões, ele enterra de vez qualquer possibilidade de raciocínio. O jogo faz parte de uma nova geração de RTS que trocam o pensamento pela velocidade. Isto pode ter seu público, mas eu não faço parte dele.
A propósito, eu não gostei de Myth! :p

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