Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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25 de novembro de 2010

Rock nos Jogos II – Parcerias Furadas

Exceto por Axl Rose, todo mundo gosta de combinar rock com jogos eletrônicos.  Eu já falei por aqui sobre como essa tendência não vem de hoje e diversas bandas e astros já tiveram sua oportunidade de tentar essa parceria. O sucesso (passageiro) de Guitar Hero e Rock Band é prova irrefutável de que o filão existe e, se ele parece estar chegando ao fim de seu ciclo, com certeza não irá se extinguir. Porém, algumas destas parcerias jamais viram a luz do dia e permanecem escondidas como notas de rodapé na história da indústria dos jogos eletrônicos.

Os Céus Selvagens de Ozzy Osbourne

Savage Skies - Box Em 2001, uma pequena desenvolvedora de jogos chamada iRock tinha em mente a idéia de lançar títulos inspirados em astros do rock. Inicialmente, a empresa pensou nos nomes de Korn e Dave Matthews Band. Mas acabou fechando na pitoresca figura de Ozzy Osbourne. Surgia assim Ozzy's Black Skies, um inusitado jogo de combate aéreo envolvendo monstros fantásticos em um mundo repleto de magia.

Em Ozzy's Black Skies, três facções lutariam em si pela supremacia e cada uma delas seria liderada por uma versão do roqueiro. Os feiticeiros necromânticos da facção Pariah seriam comandados por um Ozzy inspirado em sua fase mais soturno, nos anos 70, durante a formação do Black Sabbath. Os Chrysalis seriam um grupo de alquimistas, com uma versão do Ozzy dos anos 80, enquanto os nobres Virtwyn teriam como líder um Ozzy Osbourne mais moderno, mais maduro, em sua fase dos anos 90. Cada facção contaria com oito criaturas aladas a sua disposição, variando de clássicos dragões até corujas gigantescas ou arraias mutantes. O jogador escolheria seu lado na batalha e enfrentaria os outros grupos.

A participação de Ozzy Osbourne não se limitaria apenas a surgir como um líder para os times em conflito. Sucessos do astro fariam parte integral da trilha sonora do jogo, se modificando de acordo com o clima das lutas. O cantor teria regravado "Paranoid" e "Crazy Train" especificamente para o título e também teria composto uma música inédita para ser incluída, com o nome de "Black Skies".

Infelizmente, o custo da produção e do uso da marca "Ozzy Osbourne" ficou alto demais. Os desenvolvedores alegaram também que não conseguiam encontrar uma produtora interessada em distribuir o jogo da forma como estava. Assim, com mais de 70% do projeto finalizado, toda e qualquer referência a Ozzy Osbourne foi cortada do jogo e a iRock conseguiu lançar o título no ano seguinte, com o nome de Savage Skies, para Playstation 2, PC e Xbox.

Savage Skies

Savage Skies acabou sendo um fracasso de público e crítica. Da iRock e suas idéias, ninguém mais ouviu falar. E a canção "Black Skies" terminou como "lado B" do compacto "Dreamer", de Ozzy Osbourne.

Faltou Malícia, Sem Dúvida

Malice - Box Outro retumbante fracasso teve uma história ainda mais longa. Malice começou a ser desenvolvido pela Argonaut Games ainda em 2000, com previsão de ser lançado para o primeiro Playstation. Com uma certa experiência em jogos de plataforma para o console da Sony, Malice não deveria ser desafio algum. Em 2001, foi anunciado que o jogo seria portado para o promissor novo brinquedo da Microsoft, o Xbox. Começaram os atrasos.

Em 2002, entra em cena a Vivendi Universal, com muito dinheiro e muitas idéias para produzir o jogo da pequena desenvolvedora. Uma destas idéias era transformar o jogo em em um veículo de divulgação da banda No Doubt. A protagonista que dava nome ao jogo passaria a ser dublada pela vocalista da banda, Gwen Stefani, e os outros integrantes do grupo também emprestariam suas vozes para outros personagens. Além disso, diversas canções da carreira do No Doubt funcionariam como trilha sonora para Malice.

"Ter nossas músicas em Malice é outra forma de levar nossa música para pessoas que poderiam não escutá-la de outra forma", afirmou na época Gwen Stefani. Tony Kaal, parceiro no grupo, foi conclusivo: "Sendo uma banda que cresceu na geração dos jogos eletrônicos, esta fusão entre os jogos e a música é muito excitante para nós.". E completou: "Estar envolvido com um jogo durante seu desenvolvimento criativo foi uma oportunidade bacana, então nós agarramos a oportunidade de fazer parte de Malice."

Malice

A euforia durou pouco, o lançamento atrasou, a Vivendi Universal pulou fora do barco e toda a colaboração do No Doubt foi jogada fora. Malice acabou chegando às lojas somente em 2004, apenas para ser ignorado pelos jogadores e massacrado pela crítica. Dois meses depois, a Argonaut Games fechou as portas.

E o No Doubt voltaria a ter uma relação conturbada com a indústria dos jogos eletrônicos em 2009, ao processar a Activision por uso indevido de imagem no obscuro Band Hero.

Muita Pompa, Pouco Jogo

Em 2003, foi anunciado com pompa e circunstância um projeto que pretendia sacudir os alicerces e consolidar de vez a aliança entre o rock e os jogos eletrônicos. Pelo menos assim pensavam o Metallica e a Vivendi Universal, que tentava outra vez empurrar uma banda para o mundo dos jogos. Sem perder tempo inventando nomes, o anúncio ia direto ao assunto e proclamava a vinda de Metallica – The Game! Com direito a vídeo radical mostrando uma caranga furiosa:

Metallica – The Game era descrito como "um jogo de combate de veículos com ação em terceira pessoa repleto de veículos totalmente customizáveis, terreno infinito e oponentes mortais e frenéticos". Não era nada que já não tivesse feito antes com outros jogos, como Twisted Metal ou mesmo Carmageddon. A grande diferença de Metallica – The Game era ... o próprio Metallica.

Segundo o acordo entre a Vivendi e a banda, o jogo deveria ter dublagem de seus integrantes, música de fundo composta pelo grupo e mais conteúdo exclusivo gerado pelo Metallica. O acordo também incluía a gravação de uma música inédita para o jogo, além da produção de um videoclipe que mostraria os elementos de interatividade da batalha de veículos.

A data de lançamento, prevista com dois anos de antecedência(!) era suspeita demais para ser verdade. E em 2005 foi confirmado o cancelamento pela Vivendi, supostamente porque "a direção criativa do projeto não passou nos padrões de qualidade estabelecidos pela empresa". Durante os dois anos de espera, nenhum outro vídeo foi produzido, nenhuma tela foi mostrada, nenhuma "canção inédita" foi mencionada.

O Metallica só teria, afinal, um jogo para si em 2009, com o lançamento de Guitar Hero: Metallica. Sem veículos de combate.

Inverno Permanente

Em 2007, os fãs da banda de metal Sonata Arctica foram surpreendidos com o anúncio do desenvolvimento de Winterheart's Guild, um RPG de ação inspirado no trabalho do grupo. No jogo, ambientado em um futuro distante, um poderoso inverno nuclear caiu sobre o planeta e os poucos sobreviventes lutam pelo poder. Um grupo, chamado de The Free, escolheu viver em paz e harmonia e não participar das sangrentas disputas das outras facções. Para preservar a paz e proteger The Free, é formada a Guilda que dá nome ao jogo.

Winterheart's Guild 01Winterheart's Guild traria faixas do Sonata Arctica em sua trilha sonora, incluindo material inédito. Uma versão de demonstração do jogo já estava funcionando em 2007 e foi exibida para o público. A banda estava empolgada com o desenvolvimento e defendia o RPG contra as acusações de que os gráficos estavam ultrapassados para a época.

Winterheart's Guild 02Em 2008, a inexperiente desenvolvedora Zelian Games declarou que a produção de Winterheart's Guild estava suspensa enquanto a empresa levantava fundos para concluir o jogo. Para levantar fundos, foi decidido criar outro jogo, mais simples e comercial, chamado xOrbic. A nova empreitada também estagnou e, desde então, silêncio absoluto. Neste meio tempo, o site oficial do jogo do Sonata Arctica saiu do ar. Oficialmente, nenhum dos dois títulos foi cancelado, mas, depois de tanto tempo, teme-se pelo pior.Winterheart's Guild 03Sobre o material inédito da banda, não há qualquer comentário.

Ouvindo: Iron Maiden - Run to the Hills

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