Retina Desgastada
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28 de outubro de 2023

Jogando: Kona II: Brume

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(publicado originalmente no Gamerview)

Quanto tempo uma pessoa pode esperar pela conclusão de uma história? Os fãs de Half-Life choram em posição fetal com essa pergunta, mas o fato é que aqueles poucos que curtiram Kona já tinham perdido todas as esperanças de uma conclusão satisfatória. Era evidente que o jogo original possuía pontas soltas. Escrevi que "o final chega na hora certa para mim, concluindo uma jornada de investigação e um rastro de tragédias". Foi uma mentira cálida contada para me consolar. Queria mais. E Kona II: Brume entrega o verdadeiro desfecho negado anteriormente.

A desenvolvedora Parabole levou sete anos para terminar o que começou. Teria sido melhor se tudo fosse um único título ou uma história com um hiato muito menor. A memória do primeiro jogo praticamente se esvaiu. Ainda assim, no instante em que sua continuação engrena, o tempo parou de fazer sentido. Eu estava novamente no interior gélido do Canadá, no distante ano de 1970, confrontando minha própria percepção da realidade.

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A Neblina Vai Te Pegar

A franquia conta a história de um detetive particular chamado para a fria cidade de Manastan, para investigar um simples caso de vandalismo. Infelizmente, a região inteira fica isolada por uma nevasca que não é natural. Para complicar a situação, eventos estranhos vão surgindo, como cadáveres congelados em pé, ataques de animais que evaporam no ar e uma entidade mística rondando o lugar. O protagonista precisa decifrar o que está acontecendo e cada nova pista apenas amplia uma gigantesca teia de vinganças, ressentimentos, conspirações e até crises de família. Kona II: Brume, assim como seu antecessor, brilha em sua narrativa de múltiplas camadas.

Apesar da complexidade, essa continuação decide solucionar os mistérios apresentados e muda o tom da trama. Se antes o sobrenatural era a única explicação em jogo (além dos velhos sentimentos negativos humanos, como preconceito e ganância), aqui a ficção científica divide os holofotes. Essa guinada pode decepcionar alguns jogadores do primeiro título.

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Felizmente, a trama está bem amarrada e a ambientação extremamente detalhista é mantida do jogo original. Cada aposento, cada ambiente é ricamente decorado e apresenta uma palpabilidade que cria uma aura imersiva irresistível. Talvez Kona II se demore demais em determinados cenários, dando a impressão equivocada de que o jogo será só aquilo, principalmente no início. Ou talvez seja apenas eu explorando cada cantinho, me deleitando com cada ângulo.

Novamente, a trilha sonora complementa a experiência, envelopando o jogador com sonoridades folclóricas que só aumentam a melancolia da aventura. A narração é muitas vezes desnecessária, porém reforça o clima de história policial.

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Kona II Simplifica Para Conquistar

A Parabole teve sete anos para reavaliar o primeiro jogo. Além de ter redirecionado a história, a desenvolvedora também escolheu simplificar suas mecânicas. O jogo original não era difícil, mas sua continuação ficou extremamente fácil. Mesmo jogando no modo Detetive (que seria o equivalente ao Normal), senti que faltou desafio. Não encontrei a morte em momento algum, os raros combates foram muito tranquilos e a hipotermia não foi problema (passei tensão uma única vez). Se tivesse a informação que tenho hoje, teria escolhido o modo Survival, que explora melhor esses aspectos.

Uma das mecânicas suprimidas entre um jogo e outro é o gerenciamento de sanidade. Antes, o protagonista sofria diante de eventos bizarros e precisava colocar seus nervos no lugar com cigarros ou remédios tarja preta. Kona II: Brume é mais saudável e removeu esses elementos, ou porque a Parabole não quer incentivar práticas nocivas ou porque nosso protagonista já se acostumou ao grotesco (ou surtou de vez mesmo). Ainda assim, é uma engrenagem a menos para o jogo, que fica então mais próximo dos "walking simulator".

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Infelizmente, a Parabole tenta compensar com puzzles. Não há nada errado com puzzles em jogos de suspense, quando bem executados. Os puzzles da Parabole na verdade envolvem um backtracking desgastante, que consome horas. Levei 9 horas no primeiro jogo e 12 nesse e tenho certeza de que a diferença nasce dessa necessidade de se revisitar lugares a todo momento em busca de novos itens.

Lá atrás, a Parabole prometeu novos jogos ambientados no mesmo cenário, assim mesmo, no plural. Ainda que Kona II encerre esse arco, não me importaria de um novo retorno. Foi uma viagem singular, por um espaço e um tempo pouco explorados pelos jogos, realizada com competência e charme. Só não demorem outros sete anos...

Ouvindo: Ippo Yamada - Choose Your Future - Retro Style

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