Retina Desgastada
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5 de dezembro de 2021

Jogando: Len's Island (Acesso Antecipado)

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(publicado originalmente no Gamerview)

Todo mundo, em algum momento de sua vida, já se imaginou como seria largar tudo e viver em um ilha, consumindo o que a natureza dá e construindo seu próprio cafofo sob a luz sempre brilhante do sol. Esse desejo é plenamente possível na ilha da fantasia de Len’s Island. Principalmente se os seus sonhos também incluem a parte em que você penetra em cavernas sombrias e assustadoras, habitadas por monstruosidades feitas de vazio vivo.

Em um primeiro olhar, a proposta da desenvolvedora Flow Studio parece misturar água com vinho. De um lado, temos aquela brincadeira relaxante de montar nossa própria casa, decorar os aposentos, plantar uma hortinha e interagir com pessoas de uma cidade feliz. Em contrapartida, com uma tocha na mão e uma arma na outra, também exploramos de peito aberto masmorras infestadas de monstros em busca de recursos e mistérios, com a expectativa da morte em nossos calcanhares a cada metro andado.

Essa aparentemente irreconciliável dicotomia não é nem impossível, nem inédita. De memória, consigo me recordar de Recettear e Moonlighter, com propostas parecidas. Na verdade, Len’s Island não difere muito da forma como eu costumo jogar Minecraft: explorando os arredores, extraindo recursos, construindo e cuidando da minha base durante o dia e descendo para as profundezas do mundo durante a noite em busca de adrenalina e minérios especiais. Até mesmo no brutal Conan Exiles, onde sua vida dança no fio da espada, há momentos em que tudo que eu quero é enfeitar meu lar, despreocupadamente e cuidar do meu jardim de ervas medicinais.

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Sombra e Água Fresca

Entretanto, a atmosfera de Len’s Island é bem mais suave do que se poderia esperar. A administração de recursos e o processo de construção não são nada complexos. Não há nada em escassez na tal ilha do Len e seria perfeitamente possível, inclusive, jogar apenas com o que está disponível na superfície, evitando combates completamente. Em minhas peregrinações, desconfio de que seria possível, inclusive, sobreviver apenas de coleta e venda de itens, sem sequer plantar qualquer coisa por conta própria.

A mesma abordagem vale para as masmorras. Elas não representam um desafio tão grande que não possa ser superado com cautela e persistência e não lembram em nada o nível de dificuldade de um Minecraft Dungeons e muito menos de Diablo, com quem já vi o jogo ser comparado. Quem esperar um RPG de Len’s Island pode se decepcionar. A proposta do jogo é oferecer uma experiência tranquila, até mesmo para aqueles que gostariam de brincar de aventureiro.

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Pouco exigente em todas as suas pontas, Len’s Island também poderia ser jogado indo apenas de casa para a masmorra e da masmorra pra casa, sem precisar conhecer os arredores ou mesmo a cidade próxima. Com várias opções disponíveis, é possível montar uma mansão exuberante e ornamentada ou o bom e velho caixotão de madeira para colocar suas bancadas, fica ao gosto do freguês.

Explorando, seja na superfície ou nas profundezas, encontram-se ruínas que podem ser reconstruídas se o jogador tiver material suficiente. Essa é uma mecânica que, para mim, é inédita e adiciona uma camada saborosa de vitória da civilização sobre a decadência, um toque bem pensado que poderia ser empregado em mais títulos.

Perdidão em Len’s Island

A falta de objetivos é ao mesmo tempo um dos pontos fortes de Len’s Island e seu principal ponto de fraco. Ao jogador é oferecida tão somente um punhado de opções na criação do personagem, que não irão interferir em nada além do seu visual. A partir daí, somos largados de balsa na ilha, sem bússola, sem norte, sem missão ou NPCs. Um curtíssimo tutorial dos comandos mais básicos e você está livre para fazer o que quiser.

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A sensação de se descobrir o que pode ser feito é um dos grandes prazeres de qualquer jogo de sobrevivência. Em Len’s Island não há nem mesmo a pressão inerente das necessidades pessoais. Nosso personagem não sente sede, nem frio, nem calor, nem cansaço, apenas fome. E, mesmo essa, não tem um efeito letal. Com fome absoluta, nossa vida desce, mas nunca a níveis mortais. E, se curar, é bastante simples, basta ter uma fonte de calor próxima, seja uma lareira em nossa casa ou um dos vários braseiros das masmorras.

Porém, um mapa da ilha e, principalmente, das profundezas da ilha, faz uma falta tremenda. Demora até conseguirmos mapear mentalmente toda sua superfície, mas o complexo de túneis que existe embaixo é praticamente impossível de se manter de forma coerente na cabeça.

Essa ausência se faz sentir principalmente com a necessidade de se trilhar diversas vezes os mesmos caminhos nas masmorras, uma vez que atalhos são muito escassos, apenas para cometer um erro levado pela ousadia e morrer logo ali na frente. O renascimento de alguns inimigos é compreensível, mas também agrava a situação de estarmos repetindo os mesmos caminhos de novo e de novo em busca de áreas novas.

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Outra bronca que pode ser importante para muitos jogadores é o fato de Len’s Island não permitir remapear as teclas. O título até oferece duas opções de controlar o personagem (por mouse ou WASD), mas não vai além disso. Para quem curte ou necessita de customizações, essa é uma bola fora.

Uma vez que está em Acesso Antecipado, é fácil visualizar caminhos para Len’s Island: mais masmorras, mais ilhas, mais inimigos (a oferta atual é bem pequena). Talvez missões e explicações, quem sabe? É um título facilmente expansível e que vai precisar crescer no longo prazo. Com uma ilha fixa, sem conteúdo procedural de qualquer tipo, seu valor de replay é baixo.

Ainda assim, na forma que está agora, essa ilha misteriosa já é capaz de oferecer horas e horas de deleite, livre de estresse, umas férias bem curtidas em um lugar paradisíaco (com monstros).

Ouvindo: Marillion - Blind Curve + Vocal Under a Bloodkight...

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