Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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8 de março de 2020

Jogando: Awkward Dimensions Redux

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Se jogos são Arte (e jogos são Arte), então Steven Harmon é um artista naif, com toda a inocência e a inconsciência que o rótulo possa lhe trazer. Autodidata, ele vem produzindo jogos desde seus tempos de escola como forma de expressão pessoal, sem necessariamente uma vocação profissional. Awkward Dimensions Redux é uma recriação de um desses seus primeiros rascunhos, uma tentativa de revisitar antigas praias com um conhecimento renovado, uma ode a um antigo "eu".

Apesar da experiência adquirida ao longo dos anos, Awkward Dimensions Redux continua sofrendo da falta de polimento de um vômito. Esse é um jogo que foi vomitado, no sentido mais visceral possível, posto para fora de seu âmago de forma incontrolável e dolorosa, uma série de espasmos que expõe com brutal honestidade o que havia dentro de Steven Harmon.

Em termos práticos, o jogador é convidado a trafegar por uma série de "dimensões", que dentro e fora do jogo representam sonhos reais ou imaginários de seu criador. É uma viagem esquizofrênica, ora pungente, ora estranha, ora constrange pela intimidade de um ser humano real, seus medos, suas falhas, seus rompantes, seus momentos de alegria, suas realizações, seu subconsciente. É This Strange Realm of Mine sem roteiro ou filosofias. Temos aqui um diário aberto disfarçado de jogo, é um pedido de socorro ou uma catarse explosiva, talvez o mais próximo que seja possível de se colocar no lugar do outro.

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Ás vezes, é melhor sonhar do que viver. Ou apenas se entregar por pouco menos de uma hora a essas marcantes paisagens, embalado por uma trilha sonora escolhida a dedo mas composta por faixas desconhecidas. Awkward Dimensions Redux é uma porta aberta, gratuita, para o outro, para um artista, para Steven Harmon. Pelo menos até o despertar.

Ouvindo: B.B. King - The Thrill Is Gone

3 comentários:

Marcos A.T. Silva disse...

Ótimo texto!

Depois que li seu artigo, aliás, fui dar uma olhada no jogo no Steam. Surpreendente que algo assim seja disponibilizado gratuitamente, e o título parece mesmo ser muito interessante.

Ah, uma pergunta, Carlos: dada a natureza incomum do jogo, e também dadas as tags no Steam, há algo de terror ou de walking simulator nele?

C. Aquino disse...

É essencialmente um walking simulator, já que não exige grandes pulos, tiro ou puzzles complexos. Terror? Tem um jump scare logo no começo, depois disso só o horror da triste existência humana em um mundo que não te entende. :P

Marcos A.T. Silva disse...

Entendi. Bom saber. Vou tentar jogar, até mesmo levando em consideração que a experiência é curta, como você disse. ;)

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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