Retina Desgastada
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15 de agosto de 2018

Jogando: This Strange Realm of Mine

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"Não jogue esse jogo" seria exatamente o tipo de conselho que faria você jogar esse jogo. De onde eu concluo que possivelmente a melhor linha de ação nesse caso seria manter o silêncio e fingir que ele não existe.

Exceto que ele existe.

This Strange Realm of Mine é uma aparentemente inofensiva mas perturbadora aventura introspectiva que mistura no mesmo caldeirão filosofia, teologia, cosmogonia, FPS, plataforma, walking simulator, fantasia, horror e ficção-científica, como se seu criador não soubesse exatamente o que estava fazendo, mas tenho plena certeza que seus responsáveis tinham a noção exata do que buscavam: confundir, confrontar, incomodar. É esquizofrenia destilada, o filho bastardo de Universo em Desencanto e Minecraft, uma aberração no marasmo de jogos tão parecidos por aí.

O jogo começa com sua morte. A partir daí tenta explicar o funcionamento do Universo.

Citando Deus, Ego, linhas temporais, alma e diversos outros conceitos, ele coloca o jogador em cenários sem muita conexão com o que está sendo discutido. Ora você está vagando por corredores com uma arma na mão, como em um FPS convencional. Ora você pulando em plataformas em um tela bidimensional. Ou resolvendo puzzles. Assim como Solo, narrativa e mecânicas não se complementam: enquanto a trama (e as teorias de seus criadores) são despejadas em grandes volumes de diálogo, você vaga por "dimensões" inesperadas que parecem um passeio por um museu de tudo que já foi feito nos jogos eletrônicos ou um portfólio montado por seus desenvolvedores.

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Com gráficos simples, mas efetivos, This Strange Realm of Mine começa cativando pela sua elegância e leve atmosfera fora da curva. A curiosidade sobre o que está acontecendo é sua isca. Quando você se dá conta, está diante de dúvidas avassaladoras, entremeadas de poesia e conselhos para a vida realmente efetivos. A sequência em que seu personagem aprende a superar o medo de socialização e a paranoia é uma gota de genialidade em um título marcado pelo forte ruído da incompreensão. Em seus minutos finais, entretanto, o jogo afunda em um lago de horror e conflito, que pode pegar o jogador mais vulnerável e arrastá-lo para uma depressão profunda.

É claramente um título para maiores de idade, disfarçado de jogo tolo, um truque já exercido por Spooky's House of Jump Scares. Mas, enquanto o jogo gratuito de horror tinha apenas por objetivo provocar reações de medo quase instintivo em sua audiência, esse aqui vai em direção a camadas mais profundas, introduzindo sensações ainda mais catastróficas. É um simulador de crise existencial.

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Ignorando as mensagens nem tão sutis que seus desenvolvedores tentam propagar e suas explicações proto-religiosas sobre a natureza do cosmos e do Eu, temos um jogo que explora diferentes jogabilidades com eficiência e surpreende a cada esquina, ainda que com uma mão forte para o macabro. Prestando atenção a sua verborragia excessiva, This Strange Realm of Mine se torna uma viagem lisérgica por uma possível realidade, entre muitas, um pós-vida enigmático que avalia o caráter do seu jogador e pode levar a conclusões e respostas.

Ou mais dúvidas.

Não jogue esse jogo.

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Ouvindo: The Siouxsie and the Banshees - Bring Me The Head Of The Preacher

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