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17 de setembro de 2022

Eu Vi: Mortal Kombat (2021)

Mortal Kombat PosterUma vez, por razões profissionais, eu precisei assistir a história inteira de Mortal Kombat vs DC Universe e Mortal Kombat X. Não posso dizer muita coisa positiva sobre o primeiro, mas sobre o segundo eu posso dizer que continua sendo um ótimo exemplo de que é possível apresentar um enredo instigante sobre aquele universo e seus personagens. A trama de Mortal Kombat X continua dando um banho em produções cinematográficas. E isso inclui o filme mais recente.

Na teoria, Mortal Kombat é um jogo de luta. Campeões bizarros, com habilidades exageradas, se enfrentam até a morte em uma arena, para decidir o futuro de mundos. Você certamente já viu essa premissa antes. Em boas mãos, pode render resultados satisfatórios. Até mesmo o filme original de Mortal Kombat rendeu resultados satisfatórios em sua época, nem que seja por sua trilha sonora. O mesmo dificilmente poderá ser dito da produção de 2021.

É evidente que houve uma tentativa de se oferecer um tom mais maduro e épico para o novo filme. A maioria dos envolvidos era fã da franquia, dos roteiristas aos atores. É um trabalho de amor e respeito, tentando adaptar da forma mais fiel e séria possível o material original, trazendo subtramas que fazem parte da mitologia de Mortal Kombat e ousando apresentar os infames fatalities na tela sem pudores. Faltou tão somente talento.

O protagonista Cole Young, inédito no universo do jogo, tem o carisma de uma tábua de madeira. O roteiro tampouco ajuda, empurrando-o para escanteio até mesmo na batalha final. Os grandes destaques do filme são mesmo Scorpio e Subzero, em sua rivalidade milenar. O resto é secundário. Infelizmente, existe um filme entre o prelúdio e a conclusão e, nesse filme, Cole Young deveria ser o personagem principal, mas não corresponde. Kano, um dos lutadores mais desprezíveis dos fliperamas, desponta aqui roubando todas as cenas, seja do herói, seja dos vilões. Ele parece ser o único a perceber o aspecto cafona que permeia a franquia e o único que se divertiu nas gravações. Confesso que me flagrei torcendo pela redenção de Kano, mas ela não veio. Confesso também que, em dado momento, senti sono. Seria o segundo filme de jogo eletrônico em que eu cochilaria, depois do espúrio Tomb Raider. Entretanto, Mortal Kombat logo engrenou em outra luta e minha atenção despertou outra vez.

Mortal Kombat Protagonista

Se fosse para apontar um ponto positivo dessa adaptação moderna seriam seus combates. A obra dos anos 90 optou por atores que sabiam entregar suas falas e treinou eles para fingir que lutavam. A obra atual optou por lutadores que sabiam a coreografia correta e treinou eles para fingir que atuam. A "tristeza" de Liu Kang em determinada cena é de partir o coração, pelos motivos errados. Salva-se o veterano Hiroyuki Sanada, no papel de Scorpio, que faz milagre com os diálogos sofríveis que recebe.

A trama tem furos demais. Como Cole Young pode ser o único descendente de Scorpio depois de quatro mil anos? Sua linhagem inteira foi feita de filhos únicos? Existem regras regendo o torneio e uma dessas regras é que os lutadores não podem ser atacados antes do evento, mas o filme é justamente sobre isso. Segundo Raiden, os deuses "são preguiçosos demais para intervir", o que também define os roteiristas, que buscaram uma trama que não se limitasse a uma sucessão de embates um a um, mas encontraram a pior desculpa possível. Nesse ponto, o filme dos anos noventa era mais honesto: assumia a bizarrice e nos apresentava mesmo uma sucessão de confrontos memoráveis.

Sobre os fatalities... é um desperdício de censura alta. Se você vai se arriscar a fazer uma classificação indicativa mais elevada, faltou impacto ou criatividade. Acredito que a maioria dos golpes, senão todos, sejam tirados do jogo. Porém, a violência gratuita não choca nem provoca repulsa, ela apenas está ali, quase como um bullet point de apresentação para os produtores. O que é estranho: como um gráfico de jogo eletrônico pode ser mais impressionante que o realismo cinematográfico? Ângulo de câmera, iluminação, corte, sonografia, atuação dos atores envolvidos, tudo isso interfere, não basta apenas copiar e correr pro abraço.

Mortal Kombat Scorpio

O filme também carece de uma trilha sonora relevante, um pecado mortal porque a sombra do filme original se faz presente. O tema antológico é referenciado em uma cena chave e nada mais. Quando o longa-metragem acaba, somos agraciados com uma versão "atualizada" da faixa icônica. É muito pouco.

Um segundo filme está vindo. Décadas atrás, cometi o erro de assistir a continuação do filme original. Esse é um equívoco que não pretendo repetir.

Ouvindo: Grendel - Don't Tame Your Soul

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