Os eventos e os personagens retratados em Firewatch são obra de ficção, por mais que pareçam tão palpáveis. Ainda que a Floresta Nacional de Shoshone seja um lugar verdadeiro, seus marcos dentro do jogo existem apenas na forma de pixels. Mesmo assim, aprendemos e reconhecemos suas trilhas e seus segredos como se explorássemos uma região física.
Parte dessa plausibilidade obtida pela desenvolvedora Campo Santo veio do estudo de uma profissão quase esquecida nos Estados Unidos: os vigias do fogo. Sua função é monitorar pessoalmente focos de incêndio e alertar as autoridades em tempo real para evitar que as chamas se alastrem. Isso significa passar dias e dias sem contato com outros humanos, na completa solidão da vastidão florestal.
Os primeiros vigias de fogo surgiram no século XIX, mas se tornaram uma ferramenta poderosa do serviço florestal norte-americano depois de uma grande queimada em 1910, que destruiu mais de 7500 quilômetros quadrados de mata nativa nos estados de Washington, Idaho e Montana. Entre 1910 e a Segunda Guerra Mundial, foram construídos mais de 5000 desses postos de observação.
Com o avanço de outros modelos de detecção, as estruturas e as pessoas que as operam caíram em desuso. Atualmente, calcula-se que apenas 300 delas ainda seguem em operação nas reservas florestais do país, algumas sendo alugadas para turistas curiosos como pontos de hospedagem.
O dia a dia em um desses postos é muito parecido com aquilo que vimos em Firewatch. Não há muito o que fazer durante boa parte do tempo e isso é bom, porque, quando há ação, ela é frenética. Nas palavras de Leif Haugen, vigia do fogo por 30(!) anos, "é uma vida simples, na verdade. Eu leio. Eu caminho. Observo a paisagem. Mas esse trabalho pode ir de zero a 100 muito rapidamente".
George Ostrum, que mentiu a idade para começar na função aos 15 anos, reitera um dos aspectos vistos no jogo: "fiquei lá por dois meses seguidos e não vi outra pessoa", revela sobre seu primeiro turno como vigia do fogo.
A tranquilidade do serviço atrai um tipo especial de pessoa, é quase uma vocação. Há aqueles que preferem caminhar e ler, há aqueles que baixam filmes para assistir. A forma como os dias são passados varia de indivíduo para indivíduo.
Há tempo até mesmo para jogos eletrônicos, por quê não?
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