Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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15 de março de 2020

Jogando: DevWill

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A morte de José Mojica Marins, o inigualável Zé do Caixão, deixou uma lacuna no cinema de terror nacional que dificilmente será preenchida nessa ou na próxima geração. Mais do que um cineasta apaixonado pelo que fazia, com uma visão ímpar e muito ligada a nossas raízes brasileiras, ele também era um obstinado empreendedor que se entrega a seus projetos e mostrava que, mesmo com poucos recursos, era capaz de estar lado a lado de outros gênios estrangeiros.

Infelizmente, Zé do Caixão não enveredou pelo mundo dos jogos, não muito além de uma participação primorosa naquele CD-ROM da CD Expert.

Porém, tivesse ele investido nessa mídia, seu resultado não estaria muito distante de DevWill, um jogo nacional de outro batalhador solitário, que busca no horror sua força motora. Paulo A. M. Villalva buscou inspiração no Expressionismo Alemão para criar sua estética, mas há temas satânicos no título e um certo ar de improviso. E imagino que Edgar Allan Poe ou Augusto dos Anjos também ficariam satisfeitos se colocados nessa mesma cornucópia de influências.

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Em termos de jogabilidade, DevWill não inventa: é um título de plataforma, com um sistema de salvamento baseado em senhas. É bastante curto também, com apenas 16 níveis e 5 chefes, dos quais vi apenas uma fração. Minhas parcas habilidades no gênero me impediram de dar prosseguimento a uma jornada que estava me cativando. Talvez um modo com mais vidas ou um pouco mais de reflexos de minha parte tivessem facilitado minha curta, porém marcante passagem pelo jogo.

DevWill conquista então por suas escolhas de layout, que claramente o destacam da legião de clones de Mario existentes no mercado. No lugar de um mundo pulsante, colorido e fofo, temos um angustiante cenário em preto e branco, sujo de traços e granulações de película antiga, remetendo ao cinema mudo. No lugar de músicas alegras e cativantes, uma trilha lúgubre original criada em Chiptunes. Por incrível que pareça, a mistura não produz um título macabro ou chocante, como foram as obras de Zé do Caixão, mas sim um jogo que flerta simpaticamente com o seu gótico interior. O protagonista é o mascote que o movimento precisava e nem sabia.

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Assim como Mojica Marins, temos aqui algo bem fora da curva do lugar comum, uma inesperada amálgama de cinema dos anos 30 (e de uma corrente estética em específico) com o saudosismo retrô dos 8 bit, uma dose dupla de nostalgia que combina muito bem.

Ouvindo: Battlefield 3 - The Great Destroyer

Um comentário:

Paulo Andrés disse...

Para aquele que tiver olhos para ver além da visão um segredo será revelado.... https://drive.google.com/open?id=1dtRZHaC5Oa5TgGQpsDQij6vc52WrcW-y

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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