Retina Desgastada
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20 de julho de 2018

(não) Jogando: Betrayer

Betrayer 09

O volume do fone de ouvido está mais alto do que em qualquer outro jogo, porque o silêncio impera. Mas esse mesmo silêncio camufla ameaças que precisam ser detectadas com o máximo de antecedência. Aquele ruído... teria sido o vento que sopra nas folhas ou é o chamado tribal de inimigos que se fundem com a própria mata, com essa própria América selvagem e hostil? Por via das dúvidas, preparo a arma e me escondo nas folhagens. Ouvindo. Aguardando.

Betrayer é um tenso simulador de predador onde os papéis se invertem com frequência. Ora você é a caça, surpreendido por inimigos que transitam no limite do sobrenatural. Ora você é o caçador furtivo, que mata de longe oponentes que não pertencem a esse mundo. Na qualidade de "colonizador" de séculos passados, você é o invasor, assim como outros, e essa terra em branco e preto está dizendo claramente para você que esse não é o seu lugar.

Betrayer 01

No jogo, você entra na pele de um náufrago que emerge como o único sobrevivente nas costas da América colonial. É um lugar dominado pelo medo do desconhecido e que você descobrirá que, de fato, está assolada por eventos inexplicados, ressentimentos, entidades sombrias e tudo aquilo que desafia seu pensamento europeu civilizado. Munido de armas primitivas e coragem, atravessei vastidões quase silenciosas, desprovidas de cores que não fossem o vermelho, em busca de respostas, em busca de segurança, sendo perseguido por inimigos tomados pelo Mal e por uma enigmática moça de roupas vermelhas.

Betrayer é um título que consegue te prender nos primeiros minutos. É um survival horror, no sentido que você precisa lutar contra forças muito acima de sua capacidade e sua vitória dependerá mais do engenho e da furtividade do que de armas poderosas ou agilidade. Cada confronto pode significar a morte nas mãos de oponentes que abandonaram sua humanidade. Ambientado em um cenário raramente explorado pelos jogos eletrônicos, com armamento fora do convencional, mosquetes e arcos, um excelente trabalho de som, é uma experiência única que infelizmente não consegui completar.

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Com tantos elementos favoráveis na mesa, seus desenvolvedores cometeram um erro bastante comum na indústria: se escoraram na repetitividade para prolongar a jogabilidade. Basicamente, Betrayer é um jogo onde você entra em uma região, evita ou elimina os mesmos três ou quatro tipos de inimigos, explora determinados pontos marcados no mapa, desbloqueia a próxima região e repete tudo outra vez. A partir do momento que o recomendado é avançar com cautela, agachado, usando o vento para camuflar o som da sua própria movimentação, cada região demora mais do que o suportável para ser completada, mesmo com fast travel habilitado depois de conquistar um forte ou posto avançado seguro. Some a isso a necessidade de explorar também a versão "mundo dos espíritos" do mesmo mapa e temos um convite à paciência.

Betrayer 02

Depois da quarta região muito similar e já com um arsenal que fazia com que eu não temesse tanto os confrontos, fui tomado pela desconfiança que Betrayer se encontrava estagnado, sem nenhum avanço perceptível em sua trama principal. Quando o jogo me deu a oportunidade de atravessar a quinta região sem explorar muito, tive a certeza de que estava ansioso para que tudo aquilo acabasse logo, um sentimento que nunca é bem-vindo. Fui deixando o jogo de lado por intervalos cada vez maiores até cometer o erro final: dar uma olhada em um guia para saber se a conclusão ainda estava longe. Estava.

Avaliei se desejava repetir aquela mesma fórmula por mais três, quatro horas, com o risco do título eventualmente decepcionar em sua conclusão. Concluí que precisava me afastar, mesmo com o mistério sem solução, perdido para sempre em suas paisagens descoloridas, a alma do personagem entregue à moça de vermelho.

Mas eu, eu estava livre.

Betrayer 10

Ouvindo: Oasis - Sunday Morning Call

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