Retina Desgastada
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13 de outubro de 2017

Dia das Crianças do Horror

Bag Baby

Não escondo que, de muitas formas, me decepcionei com Painkiller. É basicamente um Serious Sam com um pincel de horror em cima, uma leve camada de Blood que disfarça batalhas frenéticas, mas cansativas. Ainda assim vou levar para a minha cova a lembrança do orfanato...

Em um título onde a galhofa fala mais alto, em que você enfrenta pinguços do cais do porto do Purgatório ou motoqueiros infernais e bruxas literalmente passam voando em vassouras e gargalhando, a fase do orfanato é surpreendentemente macabra e boa parte de sua morbidez advém das crianças. Não apenas há versões demoníacas de meninos e meninas, como também vaga por seus corredores um tipo de criatura chamado Bag Baby: um infante sem identidade, escondido por um saco de pano onde se lê "carne fresca". O Bag Baby chora e inspira pena, porém corre em direção ao jogador se o percebe e explode. Sua vida é baixa, mas não é seu grau de ameaça que incomoda.

Little SisterCrianças em histórias de terror não são uma novidade, seja no cinema ou na literatura ou nos jogos eletrônicos, ainda que apareçam com menos frequência nesses devido ao tabu de matar crianças. Mas há algo na inocência violada, a antítese da pureza que fere profundamente e causa repulsa.

Como se um orfanato já não carregasse uma tristeza inerente, como explicar a existência dessas crianças no Purgatório? Que horrores teriam lhe sido causados para atravessar a eternidade enfiadas em um saco, perdidas em lamentos? Talvez sejam demônios disfarçados, a lógica do universo de Painkiller agora me escapa, mas isso não tiraria seu peso: passariam então a ser um ato de escárnio ou um reflexo de inomináveis tormentos do mundo real. É um momento raro de terror autêntico em um título dominado pela ação.

Em nossa Promoção do Êxtase, o leitor Thiago Gianelo sugeriu combinar o Outubro do Horror com o Dia das Crianças e não consigo pensar em um tema mais apropriado para uma Sexta-Feira 13 em Outubro, um dia depois da festa da criançada.

Algumas crianças macabras são um desafio aos limites do jogador, como as famosas Little Sisters da franquia Bioshock e cabe a cada um a decisão de matá-las ou seguir em frente. Outras são arremessadas em nossa direção sem qualquer chance de redenção, ao mesmo tempo um perigo e uma afronta, como as pobres criaturas da creche em Dead Space 2 ou as possuídas no Prey original.

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Prey

Outras são senhoras de seu próprio destino e apenas fingem serem crianças, com um Mal muito mais profundo camuflado em sua aparência. O próprio jogador pode entrar na pele de uma delas na franquia Lucius, inspirado na série cinematográfica A Profecia. Já em F.E.A.R., Alma se mostra como criança, mas sua verdadeira natureza é outra e sua missão é transformar a vida do jogador em um permanente tormento, acrescentando uma forte pitada de sobrenatural e vingança ao que poderiam ser títulos de ação.

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Talvez o fato de não ter jogado (ainda) nenhum dos outros é o que acabe mantendo tão viva a lembrança de Painkiller e dos Bag Babies em minha mente, quando se mencionam "crianças assustadoras em jogos". Ou talvez seja a inesperada mudança de tom no FPS e o mistério de sua existência.

De uma forma ou de outra, elas ainda vagam nos corredores de minha mente.

Ouvindo: Silverblood - Fondle ciel

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