Retina Desgastada
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1 de setembro de 2017

Sobre Teatro Experimental e Reversão de Expectativas

O excelente canal Nautilus fez uma breve análise do ainda mais excelente Tacoma, comparando as opções narrativas do jogo da Fullbright com um experimento de teatro realizado em um prédio tempos atrás. A analogia cai como uma luva:

E de fato o título subverte muita coisa do que se espera de um "walking simulator" assim como aquilo que se espera de um adventure, não sendo plenamente nem uma coisa nem outra e transcendendo rótulos, de uma forma muito parecida com o que To The Moon conseguiu anos atrás: contar uma história bem amarrada, mas te inserindo lá dentro de uma forma que apenas um jogo eletrônico poderia.

E reverter expectativas é exatamente o que Fullbright alcança em mais de um sentido aqui...

SPOILERS

Daqui pra frente, é recomendado ter jogado Tacoma primeiro.

Ainda que o Nautilus informe que seu vídeo é desprovido de spoilers, logo nos minutos iniciais ele entrega: os tripulantes da estação espacial sobrevivem no final. Sim, é verdade que você inicia o jogo exatamente com essa informação, ela não é escondida de você. Mas a narrativa vai manobrando o jogador (não o protagonista, vale dizer) para acreditar que há uma conspiração em andamento, que o final feliz é uma farsa e você está ali para acobertar o crime cometido pela corporação Venturis.

Todo o tom do jogo é dramático, os eventos catastróficos vão se sucedendo e não há uma escapatória visível para aqueles personagens com quem você passa a se importar. É uma tragédia anunciada e você fica plenamente convicto que mentiram no início. Descobrir a verdade por trás da "chuva de meteoros" que condenou os trabalhadores da Tacoma apenas reforça essa convicção construída em sua mente (mas nunca explicitada): eles estão todos mortos. É o quebra-cabeça supremo da narrativa, mais uma vez montado por você.

Para mim, toda a jogabilidade de se reconstruir eventos e buscar pistas, juntar fatos e chegar a conclusões tem o único e exclusivo propósito de te preparar para uma conclusão sombria.

Mas é um engodo. A Fullbright reverte essa impressão no último segundo, com um sorriso maroto e uma brutal sensação de alívio. Como você pode imaginar que terminaria mal? Nesse truque de construção de enredo reside uma das genialidades de Tacoma.

Não satisfeita em realizar esse feito uma vez, a Fullbright faz novamente, logo em seguida! Testemunhamos impotentes o que pode ser a derrocada de ODIN, o verdadeiro herói do jogo. Não há controle da narrativa, há apenas a agonia de assistir de camarote. Então, a desenvolvedora revela a verdadeira identidade da protagonista, que sabia de coisas que nós jogadores não sabíamos, desde o princípio, ganha voz, e salva o dia, oferecendo uma segunda sensação brutal sensação de alívio.

Ao contrário de tantas outras histórias de futuro e de Inteligências Artificiais, Tacoma nos brinda com uma que possui não um, mas dois finais otimistas, que provam que é possível reverter expectativas, dentro e fora dos jogos eletrônicos, com resultados fantásticos.

Ouvindo: Moby - Sleep Alone

Um comentário:

Éder R. M. disse...

Não joguei o TACOMA ainda, vou esperar uma bela promoção. :D

E, Aquino, vc já jogou o Gone Home, o primeiro jogo da Fullbright? Eu acho um "walking simulator" mto bom, vc pode realmente explorar toda uma casa no maior estilo anos 90 (abrir armários, clicar em objetos para rotacioná-los e resolver um "mini" puzzle. E há vários detalhes e nuances que um jogador mais apressado pode perder em um primeiro momento.

Enfim, acho um jogo bastante recomendável.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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