Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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28 de fevereiro de 2017

Jogando: Paladins (Primeiras Impressões)

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Quando Overwatch foi lançado, estava claro desde o início que seria um divisor de águas que ditaria tendências para os jogos multiplayer. Jogos com propostas similares, pejorativamente chamados de clones, iriam existir, alguns já em desenvolvimento, alguns ironicamente lançados até antes (como o malfadado e possivelmente incompreendido Battleborn), outros que foram anunciados depois e não escondiam o fato de que estavam seguindo a cartilha.

Paladins: Champions of the Realm é, sem sombra de dúvida, o que obteve maior sucesso sob a sombra da Blizzard. É a especialidade da desenvolvedora  Hi-Rez Studios: pegar um modelo de jogo que esteja em voga e criar sua versão. Global Agenda pegou o vácuo de Counter-Strike. Smite veio atrás de Dota2 e outros MOBAs. Segundo Todd Harris, COO da empresa, Paladins não é inspirado em Overwatch, mas diretamente em Team Fortress 2, bebendo da mesma fonte.

Então, tá.

Mas Paladins é um jogo onde tem um personagem voador que dispara mísseis, um soldado com a habilidade de corrida, um outro que puxa inimigos com um gancho, um anão que planta torres de batalha, um personagem Tanque que se protege com um campo de energia e dispara um raio de curto alcance e um cara de armadura que segura um escudo de energia que protege todo mundo que está atrás. E todos precisam capturar pontos de controle para depois fazer uma carga avançar.

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"Meu nome é Androxus, pare de me chamar de Reaper"

Até o número de habilidades especiais de cada personagem são idênticas, a ponto de eu ter remapeado os atalhos do teclado ligeiramente e, para meu filho, co-piloto de teclado, a transição de Overwatch para Paladins foi quase imperceptível.

Entretanto, dois fatores distinguem Paladins e distinguem muito de Overwatch: modelo de negócios e importância das habilidades.

Faz Igual, Mas Faz Diferente: Pague Para Avançar

Certamente, foi o modelo de negócios que catapultou Paladins para a privilegiada posição que ocupa. Como um jogo gratuito, é a opção mais óbvia para qualquer um que não pode pagar pelo salgado preço de Overwatch. Com esse fator em consideração, Paladins não irá sofrer do mesmo destino cruel de outros títulos multiplayer para PC, que ficam sem quórum depois de um tempo. O preço de Paladins é irresistível.

E aí nasce também sua principal fraqueza: nada é de graça nessa vida (ou quase nada). A Hi-Rez Studios não está há tanto tempo no mercado entregando produtos de relativa qualidade sem cobrar nada. Sem colocar a mão na carteira, você tem acesso a um número limitado de personagens em Paladins e pode apenas testar os demais em um modo de tiro ao alvo contra bots. Quer desbloquear todos os personagens de uma vez? Terá que pagar o Founder's Pack (que ainda é um quarto do valor do preço de seu principal concorrente).

Existem pelo menos três moedas dentro do jogo que você pode acumular a conta-gotas jogando partidas. Essas moedas podem ser utilizadas para comprar personagens (economicamente inviável), comprar customizações de aparência (poucas por enquanto e também economicamente inviáveis), cartas que melhoram seu desempenho dentro do jogo (mais ou menos viável) ou baús, que podem conter customizações e cartas, inclusive cartas que não estariam disponíveis de outras formas. Boa sorte com esses baús...

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Torbjörn e Reinhardt, amigos em qualquer universo.

Como todo sistema F2P, o acúmulo de moedas é confuso, lento, beira o frustrante e tem pouco impacto no começo do jogo. A impressão que Paladins te dá é que é possível se divertir muito sem pagar nada, até o momento em que você está envolvido emocionalmente com o jogo e começa a avaliar a possibilidade de investir alguma coisa para ir mais rápido. Imagino que no Modo Competitivo é pagar ou perder, mas não posso afirmar ainda: até para desbloquear o Competitivo eu precisaria comprar moedas ou jogar por meses a fio. É uma armadilha que já vi sendo fechada com mais sutileza em DC Universe Online e muito menos sutileza em Neverwinter.

Faz Igual, Mas Faz Diferente: Habilidades do Jogador

Nas partidas de Paladins, são cinco jogadores contra cinco jogadores, por si só uma diferença de peso, já que cada abate representa um desfalque bem maior para o time. Para complicar, uma vez escolhido o seu campeão, não é possível trocar durante a partida, o que também afeta a dinâmica da batalha e pode chocar quem está vindo de Overwatch.

Porém, a grande diferença está nas habilidades: ao contrário do jogo de Blizzard, elas tem um impacto muito menor no andamento da luta. Enquanto um Pneu da Morte ou um Hora de Acertar as Contas bem executados podem determinar o sucesso ou a derrota de uma partida, aqui, um poder definitivo passa e vai sem causar maiores danos. Isso está refletido também nas habilidades menores, que tem ainda menos peso na hora do mata-mata.

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O que resta para o jogador de Paladins? Sua própria destreza, sua própria capacidade de se posicionar e se movimentar nos momentos certos, sua mira, sua agilidade com o mouse. Enquanto Overwatch abraça até os jogadores que nunca se deram bem em um título multiplayer, Paladins foi feito mesmo para quem leva jeito e privilegia o que o jogador traz para a arena.

Overpobre?

Apesar de suas claras limitações, meu filho e eu estamos nos divertindo com Paladins. Novos mapas, "novos" personagens, novos desafios depois de quase um ano dedicados a Overwatch. A tal ponto que resolvemos aprender mais sobre esse universo, conhecer a história desses heróis e suas motivações.

E não tem.

Não tem nada no site oficial. São apenas uns caras lá se batendo. E tal.

Ainda que, do ponto de vista puramente mecânico, o vasto lore de Overwatch não influencie nos confrontos, é um grande prazer ouvir os personagens interagindo espontaneamente, acompanhar seus curtas de animação e seus quadrinhos, tentar decifrar suas pistas, tentar entender o que acontece nesse futuro imaginário. A Blizzard transborda carisma, cria um forte elo emocional com seus jogadores, às vezes imperceptível, mas que pode ser incendiado em forma de hype em cada evento ou anúncio de novo personagem.

Não há nada disso em Paladins, talvez por ser um jogo Early Access, talvez porque a Hi-Rez Studios só queira seu dinheiro ou não tenha a visão dos veteranos da Blizzard.

Essa falta de zelo ou grana se percebe também na limitada quantidade de mapas, falas, emotes, sprays e até customizações de personagens. Em muitos aspectos, inclusive técnicos, é perceptível a diferença orçamentária entre as desenvolvedoras.

Meu filho e eu fechamos com Viktor e Tyra, nossos personagens favoritos. Ele lembra muito o Soldado 76, ela é um dos raros heróis sem um paralelo óbvio com o outro jogo. Esperamos a oportunidade de desbloquear todos os outros para testar e fazer novas escolhas.

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Paladins é um jogo divertido, frenético, com personagens que poderiam ser mais do que já são, com um imenso potencial a ser lapidado e, pelo menos nessa jornada inicial, financeiramente acessível a todos. Mas terá que conviver com os holofotes virados para seu grande rival e as intermináveis comparações. Pelo menos, até agora, está se saindo melhor que os derrotados.

Ouvindo: Sonic Youth - The Drummer Is Fine 1

4 comentários:

NevesZerg disse...

Tenho os 2, mas prefiro de longe o Paladins.
A diferença crucial são as cartas. Em overwatch um personagem é sempre igual ao que você ve, no quesito habilidade (Skill/magia), no paladins existe uma "build" que faz o jogo mudar drasticamente e você nunca sabe o que esta enfrentando.

Bolívar D'Andrea disse...

Aquino, eu acompanho o blog há muito tempo e sempre me encanto com tuas análises, pois vão de encontro em muitas vezes com o que eu penso. Mas essa aqui eu tive que discordar em muitos pontos.

Primeiro que existe uma treta forte entre Paladins x Owerwatch. É preciso sempre lembrar que Paladins é um jogo em Open Beta, por isso a falta de adereços para personagens (na verdade a cada mês vêm cerca de 2 a 3 atualizações com uma skin nova para algum personagem, cada, além de pelo menos um personagem novo a cada mês). Enquanto Paladins estava em Closed Beta ele era um jogo totalmente diferente, com cartas consumíveis durante a partida, mapas ridiculamente gigantescos e portões que deviam ser quebrados, como as torres de DotA e LoL. Em algum momento o jogo mudou totalmente de conceito e ficou mais "próximo" de Overwatch. Não sei te dizer se o ovo veio antes da galinha, mas é interessante o estudo.
Tu afirma que o jogo é meio cruel com novos jogadores, mas se tu analisar o hitbox do jogo vai ver que ele é ridiculamente grande em todos os personagens, e até quem tem pouca habilidade com mira consegue se dar bem. Prova disso é o ultmate da Kinessa, que deveria premiar Headshots, mas na verdade é válido pra qualquer tiro acima da cintura. Isso sem contar habilidades como a do Torvald, de atirar sem mirar. Outra coisa é que pessoas ruins de mira podem passar quase 90% da partida com o escudo do Fernando levantado ou curando com o Grover, num ritmo bem menos frenético que um campeão de flanco, por exemplo. Tu deste azar de começar pelo Viktor, praticamente um personagem de Call of Duty, feito pra ser o mais natural possível pra quem vem de shooters frenéticos não sentirem tanto a diferença pra um jogo com habilidades. Teste um herói de tanque ou suporte e foque no objetivo e verás como o jogo é mais amigável.
Eu não tenho Overwatch, mas no Paladins eu estou no nível 30, com 6 personagens nível platina no competitivo sem gastar nenhum centavo. É relativamente fácil juntar ouro (tudo dá ouro) e desbloquear os campeões novos é questão de 2 ou 3 partidas (ainda mais com as missões semanais e vitórias diárias). Os adereços são a parte mais complicada, e o founders pack te ajuda mais na parte cosmética (além das cartas, que são um pouco mais trabalhosas de se conseguir pra formar decks fortes pra 12 personagens, o mínimo que se deve dominar pra entrar no competitivo).
Se assistir alguma partida do competitivo tu vai ver como tem gente que realmente usa estratégias nesse jogo, e como os ultmates fazem, sim, uma mudança na partida. Principalmente os de Crowd Control em área, como os do Pip e do Mal'Damba. Ultmates do Fernando e do Grover cancelam outros ultmates, como do Ruckus e do Viktor. Enfim, é realmente importante saber usar as habilidades de cada campeão.

Por fim, é realmente triste ver personagens tão engraçados nas suas dublagens, como o Fernando e o Grover, sem um background. Nisso nós concordamos, meu amigo.

C. Aquino disse...

Pessoal, essas são minhas impressões iniciais, então, de fato, contém muitas incorreções, algumas que eu já reparei e outras que são muito válidas e me foram apontadas. Principalmente na parte da habilidade do jogador x habilidade do personagem. Em minha empolgação deixei de notar que Paladins não apenas coloca jogadores do mesmo nível lutando mais ou menos juntos como é bem fácil de lutar, o exato oposto do que eu vinha encontrando em Battlefields da vida: minha experiência em Overwatch afiou meus instintos, é claro, mas há um nítido esforço da desenvolvedora em facilitar a entrada de novatos.

A parte monetária ainda é uma incógnita para mim, justamente por não ter atingido a quase inevitável barreira que esse tipo de jogo costuma impor. Mas se o camarada Bolívar atesta que é possível ter um bom desempenho mesmo no competitivo sem gastar nada, estou maravilhado e espero chegar até lá. Acabei comprando o Founder's Pack um pouco por impaciência do meu filho, um pouco por vontade de prestigiar o trabalho da desenvolvedora, que, sim, guardadas as devidas proporções, fez um bom jogo.

Eu não sei se existe uma picuinha entre jogadores de Overwatch e Paladins, mas não duvidaria se existisse. Lamentavelmente, faz parte do DNA humano comprar briga por qualquer coisa, sejam consoles, partidos, CoD ou Battlefield e agora entre esses dois grandes jogos.

Sou da teoria que todos deveriam experimentar os dois jogos e extrair o que cada um tem de melhor. Infelizmente, Overwatch está bloqueado atrás de um preço que considero salgado, apesar da qualidade. Mas não vejo empecilho nenhum para qualquer jogador de Overwatch em experimentar Paladins. Tem personagens e mecânicas parecidas? Tem. Mas se nem os advogados da Blizzard ficaram incomodados, quem sou eu, afinal?

Eu não sei ainda como se adiciona alguém no Paladins, mas quem quiser jogar com uma Maeve nível baixo, o nick é desgastada (obviamente). :) http://steamcommunity.com/sharedfiles/filedetails/?id=877120094

Lucs disse...

Só joguei Overwatch...
Às vezes sinto falta do bom e velho Team Fortress 2 :/

Retina Desgastada

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