Em 1996, George Lucas estava inquieto. Sua maior criação estava dormente em uma espécie de animação suspensa da qual muitos acreditam até hoje que não deveria ter saído. Mas Lucas sentia o comichão. Talvez fosse o chamado da Força. Talvez fosse ambição desmedida. Mas ele sabia que, de um jeito ou de outro, Star Wars voltaria.
Então, anos antes de A Ameaça Fantasma, o visionário criador e mestre do marketing lançou Shadows of the Empire, o filme que não era filme.
O projeto grandioso tinha todo o investimento e o peso canônico de uma produção cinematográfica, excecto pelo fato que George Lucas não gastou um centímetro de película e não chamou ator nenhum. Mas Shadows of the Empire se espalhava por múltiplas mídias: um livro, uma adaptação juvenil, quadrinhos, um jogo eletrônico, uma trilha sonora, cartas colecionáveis, diversas linhas de brinquedos e até um jogo de RPG. Tinha tudo, só não era filme.
Para todos os fins, Shadows of the Empire é o episódio perdido entre O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Era também um balão de ensaio para o futuro da franquia. Com uma resposta tépida no mercado, George Lucas não teve alternativa a não ser cometer a trilogia de prequels.
Mas em 1996, Shadows of the Empire era Star Wars.
Universo Expandido
Lucas pegou algumas dicas das grandes sagas das histórias em quadrinhos: ainda que cada componente do projeto funcionasse individualmente, o fã que quisesse entender toda a complexidade do enredo precisaria consumir cada um de seus elementos, uma vez que não havia recapitulação. De uma forma geral, Shadows of the Empire contava a tentativa do personagem Prince Xizor, líder da organização criminosa Black Sun, de derrubar de uma vez só tanto o Império quanto a Rebelião, enquanto também acompanhava as aventuras do contrabandista Dash Rendar por cenários e situações bem conhecidas por quem acompanha a saga espacial.
A maior parte da trama é contada no livro homônimo, escrito por Steve Perry. Xizor é contatado pelo Imperador Palpatine para capturar Luke Skywalker à revelia de Darth Vader, mas o sombrio líder criminoso tem sua própria agenda e pretende matar o jovem jedi e assumir o lugar do Lord Sith ao lado de Palpatine. Paralelamente, Dash Rendar é contato pela Aliança Rebelde para localizar e recuperar Han Solo das garras de Boba Fett, antes que ele seja entregue a Jabba the Hutt. As duas tramas acabam se cruzando em uma grande batalha espacial sobre Coruscant, muito antes de A Vingança dos Sith.
A novelização juvenil teve a ingrata tarefa de converter essa narrativa repleta de traições, planos de vingança e submundo do crime em algo palatável para crianças entre 8 e 12 anos.
Já os quadrinhos recontam parte da trama, mas dão mais ênfase ao atrito entre Boba Fett e outros caçadores de recompensas, também interessados em coletar o prêmio pela captura de Han Solo. A série original teve vários derivados e até continuação, ganhando uma espécie de vida própria dentro do grande projeto Shadows of the Empire.
Embora não tivesse um filme atado à iniciativa multimídia, George Lucas encomendou uma trilha sonora independente à John Williams, compositor de todas as trilhas dos filmes da franquia. Williams polidamente recusou, mas recomendou o trabalho de Joel McNeely. Williams deve ter perguntado: "Por que uma trilha, se não há filme?". Talvez a ideia fosse que você ouvisse as faixas enquanto lesse os quadrinhos ou o livro... Independente do objetivo, McnNeely levou o trabalho a sério e acionou a Orquestra Nacional Real da Escócia para executar suas composições e o resultado final é um dos triunfos do projeto. O CD original ainda continha uma faixa interativa para computadores, com artes conceituais e mais informações sobre a Shadows of the Empire.
O jogo oficial tevea honra de ser um dos primeiros títulos lançados para o novíssimo Nintendo 64, chegando às prateleiras apenas três meses depois do console. Trazia gráficos 3D impressionantes para sua época e aproveitava toda a potência do aparelho. No título, o jogador controla Dash Rendar e atravessa cenas icônicas da saga, como a já mítica Batalha de Hoth, além de visitar cenários e situações inéditas exclusivas do projeto. O jogo acabou ganhando uma versão melhorada para PC um ano depois.
A Sombra Retorna
O projeto em si não teve o retorno esperado por George Lucas. O jogo teve críticas mornas, apesar de ter vendido mais de um milhão de cópias e ter se tornado o terceiro título mais vendido da história do Nintendo 64.
Então, assim como veio, o projeto voltou para as sombras. Lucas resolveu concentrar seus esforços em editar a trilogia original e criar uma nova trilogia de prelúdios e o resto nós já conhecemos...
Até essa semana Shadows of the Empire, o jogo, estava inacessível para jogadores atuais e era um dos raros títulos da saga a permanecer na obscuridade.
Até essa semana.
Aproveitando o Star Wars Day, em 4 de Maio, o GOG sorrateiramente anunciou que conseguiu ressuscitar o jogo e trazê-lo para a loja.
Por ser um dos primeiros títulos a aproveitar o poder dos aceleradores gráficos 3D, seu visual talvez não tenha resistido à passagem do tempo. Mas é um jogo com imenso valor histórico que revela um futuro de Star Wars que poderia ter acontecido.
E também um pedaço de um passado que foi varrido pela venda para a Disney, que desclassificou como canônico tudo que não tenha sido filmado. Shadows of the Empire não foi um filme. Mas, para Lucas e para vários fãs, poderia ter sido.
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