Retina Desgastada
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5 de maio de 2016

Sob a Sombra do Império

Jabba e Xizor

Em 1996, George Lucas estava inquieto. Sua maior criação estava dormente em uma espécie de animação suspensa da qual muitos acreditam até hoje que não deveria ter saído. Mas Lucas sentia o comichão. Talvez fosse o chamado da Força. Talvez fosse ambição desmedida. Mas ele sabia que, de um jeito ou de outro, Star Wars voltaria.

Então, anos antes de A Ameaça Fantasma, o visionário criador e mestre do marketing lançou Shadows of the Empire, o filme que não era filme.

O projeto grandioso tinha todo o investimento e o peso canônico de uma produção cinematográfica, excecto pelo fato que George Lucas não gastou um centímetro de película e não chamou ator nenhum. Mas Shadows of the Empire se espalhava por múltiplas mídias: um livro, uma adaptação juvenil, quadrinhos, um jogo eletrônico, uma trilha sonora, cartas colecionáveis, diversas linhas de brinquedos e até um jogo de RPG. Tinha tudo, só não era filme.

Para todos os fins, Shadows of the Empire é o episódio perdido entre O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Era também um balão de ensaio para o futuro da franquia. Com uma resposta tépida no mercado, George Lucas não teve alternativa a não ser cometer a trilogia de prequels.

Mas em 1996, Shadows of the Empire era Star Wars.

Universo Expandido

Lucas pegou algumas dicas das grandes sagas das histórias em quadrinhos: ainda que cada componente do projeto funcionasse individualmente, o fã que quisesse entender toda a complexidade do enredo precisaria consumir cada um de seus elementos, uma vez que não havia recapitulação. De uma forma geral, Shadows of the Empire contava a tentativa do personagem Prince Xizor, líder da organização criminosa Black Sun, de derrubar de uma vez só tanto o Império quanto a Rebelião, enquanto também acompanhava as aventuras do contrabandista Dash Rendar por cenários e situações bem conhecidas por quem acompanha a saga espacial.

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A maior parte da trama é contada no livro homônimo, escrito por Steve Perry. Xizor é contatado pelo Imperador Palpatine para capturar Luke Skywalker à revelia de Darth Vader, mas o sombrio líder criminoso tem sua própria agenda e pretende matar o jovem jedi e assumir o lugar do Lord Sith ao lado de Palpatine. Paralelamente, Dash Rendar é contato pela Aliança Rebelde para localizar e recuperar Han Solo das garras de Boba Fett, antes que ele seja entregue a Jabba the Hutt. As duas tramas acabam se cruzando em uma grande batalha espacial sobre Coruscant, muito antes de A Vingança dos Sith.

A novelização juvenil teve a ingrata tarefa de converter essa narrativa repleta de traições, planos de vingança e submundo do crime em algo palatável para crianças entre 8 e 12 anos.

Já os quadrinhos recontam parte da trama, mas dão mais ênfase ao atrito entre Boba Fett e outros caçadores de recompensas, também interessados em coletar o prêmio pela captura de Han Solo. A série original teve vários derivados e até continuação, ganhando uma espécie de vida própria dentro do grande projeto Shadows of the Empire.

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Embora não tivesse um filme atado à iniciativa multimídia, George Lucas encomendou uma trilha sonora independente à John Williams, compositor de todas as trilhas dos filmes da franquia. Williams polidamente recusou, mas recomendou o trabalho de Joel McNeely. Williams deve ter perguntado: "Por que uma trilha, se não há filme?". Talvez a ideia fosse que você ouvisse as faixas enquanto lesse os quadrinhos ou o livro... Independente do objetivo, McnNeely levou o trabalho a sério e acionou a Orquestra Nacional Real da Escócia para executar suas composições e o resultado final é um dos triunfos do projeto. O CD original ainda continha uma faixa interativa para computadores, com artes conceituais e mais informações sobre a Shadows of the Empire.

ShadowsgameO jogo oficial tevea honra de ser um dos primeiros títulos lançados para o novíssimo Nintendo 64, chegando às prateleiras apenas três meses depois do console. Trazia gráficos 3D impressionantes para sua época e aproveitava toda a potência do aparelho. No título, o jogador controla Dash Rendar e atravessa cenas icônicas da saga, como a já mítica Batalha de Hoth, além de visitar cenários e situações inéditas exclusivas do projeto. O jogo acabou ganhando uma versão melhorada para PC um ano depois.

A Sombra Retorna

O projeto em si não teve o retorno esperado por George Lucas. O jogo teve críticas mornas, apesar de ter vendido mais de um milhão de cópias e ter se tornado o terceiro título mais vendido da história do Nintendo 64.

Então, assim como veio, o projeto voltou para as sombras. Lucas resolveu concentrar seus esforços em editar a trilogia original e criar uma nova trilogia de prelúdios e o resto nós já conhecemos...

Até essa semana Shadows of the Empire, o jogo, estava inacessível para jogadores atuais e era um dos raros títulos da saga a permanecer na obscuridade.

Até essa semana.

Shadows of the Empire - Hoth

Aproveitando o Star Wars Day, em 4 de Maio, o GOG sorrateiramente anunciou que conseguiu ressuscitar o jogo e trazê-lo para a loja.

Shadows of the Empire - Corredor

Por ser um dos primeiros títulos a aproveitar o poder dos aceleradores gráficos 3D, seu visual talvez não tenha resistido à passagem do tempo. Mas é um jogo com imenso valor histórico que revela um futuro de Star Wars que poderia ter acontecido.

E também um pedaço de um passado que foi varrido pela venda para a Disney, que desclassificou como canônico tudo que não tenha sido filmado. Shadows of the Empire não foi um filme. Mas, para Lucas e para vários fãs, poderia ter sido.

Ouvindo: Free Radical Design - Mall

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