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2 de novembro de 2015

A Falsa Silent Hill

Stay Out

Há duas semanas atrás, o Fantástico exibiu uma matéria sobre uma cidade americana chamada Centralia, assolada pela combustão permanente de uma mina de carvão no seu subterrâneo. Castigada por gases tóxicos, seus habitantes foram abandonando o lugar aos poucos, diante da catástrofe e da na inação das autoridades. Centralia virou uma cidade-fantasma.

Para muitos, Centralia virou Silent Hill.

Ironicamente (ou não) a reportagem do Fantástico saiu exatamente uma semana depois que um extenso artigo foi publicado sobre a cidade e circulou pela Internet. Uma tragédia que já dura décadas, virou a pauta do final de semana, ainda que o jornalismo da Rede Globo tenha contornado o tema central do artigo: Centralia não é Silent Hill.

A associação entre a cidade real e o universo de horror da série da Konami foi iniciada pela adaptação cinematográfica de 2006. Ainda que a produção tenha sido filmada no Canadá, o diretor Christophe Gans e o roteirista Roger Avary usaram a história de Centralia como pano de fundo para sua versão do mito de Silent Hill. A neblina, que nos primeiros jogos da franquia era o resultado de uma limitação tecnológica, para disfarçar a incapacidade de geração de paisagens, acabou se tornando um componente da aura de mistério que circunda a cidade fictícia e se incorporou aos jogos seguintes. No filme, a neblina é fruto da combustão que arde nas entranhas da cidade, evocando o incêndio das minas de carvão de Centralia e criando um paralelo com as chamas da danação do Inferno cristão. Não é uma das piores analogias.

Em cena, é explicada em uma única linha de diálogo. Mas foi o bastante para passar o mito para frente: "Centralia inspirou Silent Hill".

Segundo os poucos residentes de Centralia, a cidade é constantemente visitada por turistas atrás de emoções fortes. Metade deles quer ver o creepy pasta em forma física, atraído por algum vídeo da Internet ou matéria barata e sensacionalista. Outra metade está procurando a "verdadeira Silent Hill".

Turistas em Centralia

Os moradores odeiam o filme. Um deles conta que comprou o DVD, assistiu, levou o disco para o quintal e o destruiu com um martelo.

Nenhum dos desenvolvedores da Konami jamais pisou em Centralia. O jogo original de 1999 é uma amálgama de outros mitos, um típico horror japonês levemente americanizado, em uma cidade qualquer. O máximo que seus criadores fizeram para aproximar o filme do subúrbio típico dos Estados Unidos foi copiar referências visuais de uma comédia inofensiva...

Até 2006, não havia nada que ligasse Centralia à cidade maldita da ficção. O nome de trabalho do filme era "Centralia", justamente para enganar os fãs de Silent Hill durante sua produção.

Depois de 2006, como se a vida dos residentes já não fosse desagradável o suficiente, uma horda de fãs de ocasião chegou, procurando Pyramid Head, uma igreja, uma sirene que tocasse ou algum calafrio. De acordo com o relato de quem já visitou Centralia, não há nada de assustador no lugar. Muitos saem decepcionados. O que esperavam? Ninguém sabe.

Os verdadeiros moradores não gostam dos turistas tampouco. Ninguém tenta lucrar com o fluxo de visitantes indesejados. Um deles escreve: "minha família combateu aquele incêndio de carvão, viveu naquelas minas. Nós fomos batizados aqui. Nossa vida era Centralia. NENHUM desses cultos são bem-vindos para ficar de loucuras no túmulo da minha família. Suas pegadas... não pertencem. Eles que estudem os cemitérios de sua própria gente".

Quando o último de seus habitantes partir e as chamas ainda queimarem, não haverá mais ninguém para se lembrar de que nem sempre foi assim. Nos livros, na Internet, na televisão, Centralia se tornará uma lenda urbana, um local de peregrinação de freaks e curiosos.

Será Silent Hill.

Silent Hill

Ouvindo: Collide - Inside

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